quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O TOMBO

Caminhava jubilosamente pela clara e fresca manhã de janeiro, quando, no Campo Grande, tropecei numa pedra solta no passeio e caí: apoiei as mãos no chão e girei sobre mim mesmo, como numa cambalhota, para evitar bater a cabeça no solo. A manobra foi bem-sucedida; apenas as palmas das mãos ficaram esfoladas.
Mas nos transeuntes que vinham logo atrás de mim e presenciaram o tombo – pessoas que se dirigiam apressadamente ao trabalho -, o episódio repercutiu.
Um homem com macacão deu-me a mão para que me levantasse:
- Tudo bem?
Assenti com a cabeça.
Uma senhora negra, com um excesso de peso que indicava bonomia, lenço na cabeça, óculos de grau, dirigiu-me o comentário:
- Ainda bem que não bateu a cabeça.
Sorri em agradecimento.
O grupo seguiu seu caminho.
Levantei-me, limpei a poeira da roupa, passei os dedos pelos cabelos, retomei a caminhada.
Alguns minutos depois, encontrava-me ao lado da senhora negra. 
Prontamente ela me estendeu um folheto impresso com material religioso e disse:
- Jesus te ama. Ele vai te livrar de todo o mal.
Creio que achou que naquele momento eu não o recusaria.
Marcos A. P. Ribeiro

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