SARATIENE
Saratiene estava sentada há horas diante da janela. Movimentos mínimos indicavam que havia mais que um mistério no ar. Era o sétimo dia daquele janeiro insano e a pequena arfava, sem vestes, como se esperasse um acontecimento fatal. Sete era o seu número de sorte, multiplicado por mais sete eram os seus pecados. A pequena teimava em deixar-se dominar pelas paixões mais lúbricas e, ao longo do nascente ano, colecionou um amante por dia. De todos os tipos: alto, baixo, gordo, magro, sujo, fresco, engomado. Estava exausta e enfadada. Há sete anos repetia o mesmo ritual. Hospedava-se naquele hotel de alta rotatividade e recebia os anônimos que chamava pela janela. Sabia que aquele que estava subindo era o sétimo e derradeiro homem. Depois dali voltaria à sua vida pacata de professora de bons modos.
JOÃO FIGUER
EDWARD HOOPER
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