CASSIANO RIBEIRO SANTOS
Geraldino – Padre e professor de Geografia. De
feições macilentas eabatidas devido aos jejuns ou à
masturbação compulsiva (as opiniões divergem),
Geraldino sobrevoava os continentes, os oceanos e as
montanhas com a mansa voz de uma cafetina a
embalar os alunos que dormiam e sonhavam com
países exóticos e capitais de nomes impronunciáveis;
no intervalo, ensinava as crianças a fazer bolas de
chiclete, aulas das quais eu fugia por ouvir o boato de
ser ele um pederasta. Anos depois, ao saber o sentido
dessa palavra, passei a ver como arquétipo da
obscenidade o estourar no rosto de uma goma-de-
mascar. A última vez que o vi fora em um sonho:
Geraldino mascara dois pacotes de tutti-frutti e
começou a soprar um grande
balão. Iria enfim sobrevoar o Espaço Geográfico,
ver os rios, fontes e cascatas que, nos antípodas de
sua mente, murmuravam. Vi o balão subir arrastando
o padre pela sôfrega boca, vencer os muros do
colégio e desaparecer no hiperbóreo céu azul.
Acordei em uma distante manhã já sem saber que fim
levou meu professor, se engordou, se morreu ou se
ainda flutua pelos infinitos campos insonhados!
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