Vez ou outra me vem como uma bulimia de cinema e de súbito
só desejo me fechar numa sala e assistir a dois ou três filmes, até saturação.
E com o conjunto de cinemas do Glauber Rocha, nada mais fácil.
Então hoje, segunda-feira, resolvi atacar a bilheteria da
Praça Castro Alves e comecei pelo trabalho de Joel de Almeida e Josias Pires, dois
cineastas baianos que muito admiro: “Cuíca de Santo Amaro”.
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fiquei seduzido pela apresentação, de grafismo inovador sem perder o espírito
da proposta. O documentário impressiona não só pela farta riqueza da pesquisa,
mas pela montagem, a música (de Tuzé de Abreu) e a sábia escolha dos entrevistados.
Mergulhei no filme, reconhecendo a maioria dos que depõem sobre
a figura mítica que faleceu antes de minha chegada a Bahia, de Chocolate da
Bahia a Ieda Castro. Entre os testemunhos, me sensibilizei com os que já nos
deixaram: Armindo Bião, Ubiratan Castro e minha velha amiga Zilda Paim, aquela
enciclopédia viva de Santo Amaro, como o próprio Cuíca.
À medida que passava o filme, tentando reconhecer ruas e largos
por onde bondes cambaleavam, fui me dando conta de minha profunda identidade
com a cidade do Salvador. Mais de trinta e oito anos evaporaram-se desde aquele
dia chuvoso de Maio que me viu abrir a porta do hotel Barra Turismo, decidido a
começar uma nova aventura de vida.
Outras cidades me são íntimas. Rabat, onde
nasci. Paris, que me viu estudante, já adulto, correndo museus e teatros. Lisboa, onde comecei minha independência e que me acolheu durante mais de quinze anos.
Mas com quase a metade de minha vida em solo baiano, subindo e descendo ladeiras,
Salvador foi penetrando debaixo de minha pele até me dar saudade dos tempos do
bonde, da Rua Chile, do barco de Cachoeira e do trem para Santo Amaro.
O filme “Cuíca de Santo Amaro” é imperdível para todos os
que acreditam no poder da Memória.
É um marco de qualidade para a história de
Salvador.
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