Um ano atrás, Eike Batista ainda dizia “não abrir mão” de se tornar o homem mais rico do mundo. Com a crise que abala seu império, a ambição vai ter de diminuir
Eike Batista com sua Mercedes*: crise que começou em junho do ano passado derreteu 90% do valor de mercado de sua maior empresa, a OGX
São Paulo - Nenhum empresário em nossa história descreveu uma trajetória tão fulminante quanto o mineiro Eike Batista. Há menos de uma década, Eike era conhecido como marido da atriz Luma de Oliveira** e filho do ex-presidente da Vale Eliezer Batista.
Sabia-se que era rico, tinha alguma celebridade nas colunas sociais do Rio de Janeiro e nada muito mais que isso. Mas algo aconteceu e Eike começou a viver, há cerca de sete anos, uma espécie de conto de fadas particular.
Foi quando desenvolveu sua nova especialidade: transformar projetos ainda rascunhados no papel em empresas que valiam bilhões — e o país assistiu, um tanto desnorteado, à escalada de sua fortuna.
Em 2006, quando vendeu ações da mineradora MMX, seu patrimônio era estimado em 2 bilhões de reais. Cinco anos e dezenas de projetos depois, Eike não só era — disparado — o homem mais rico do país como prometia se tornar o número 1 do mundo.
Num país em que riqueza é motivo de certa vergonha, esse tipo de discurso chocou: sua fortuna se tornou obsessão nacional, tema de conversa de bar, papo de manicure, objeto de estudo, adoração e inveja.
Embriagado pelo próprio sucesso e andando sempre sobre a linha tênue que separa a ousadia da fanfarronice e a sagacidade da esperteza, fez um punhado de declarações históricas. “Tenho alguma coisa com a natureza. Onde eu furo, eu acho”***, disse, ao explicar seu sucesso como explorador de recursos naturais.
Ao apresentador americano Charlie Rose, afirmou que seu patrimônio chegaria aos 100 bilhões de dólares em dez anos. Sua mineradora seria uma “mini-Vale”; sua empresa de petróleo, uma “mini-Petrobras”; seu porto, uma “Roterdã nos trópicos”. Sua ascensão parecia não ter fim. Até que teve.
Se a ascensão foi impressionante, a queda tem sido cruelmente rápida. É raro ver uma espiral como a que, de um ano para cá, tem ameaçado levar ao chão o império erguido por Eike na última década. As ações de suas empresas valem hoje uma fração do que valiam pouco tempo atrás. No caso da OGX (a tal mini-Petrobras), a queda foi de aproximadamente 90% em 12 meses.
A ação era negociada a 1,61 real no dia 22 de abril e, segundo os analistas do Deutsche Bank, seu preço justo é míseros 80 centavos. É a maior queda da bolsa brasileira no período, seguida de perto pelo desempenho das ações da MMX. Um ano atrás, Eike ainda dizia “não abrir mão” de se tornar o homem mais rico do mundo. Hoje, é obrigado a debelar boatos de que corre o risco de quebrar.
Eike e seus executivos dedicaram os últimos meses a achar formas de aliviar as finanças do grupo EBX, holding que controla suas empresas. Em março, assinou um acordo com o banco BTG Pactual para vender participações nas empresas do grupo a investidores. Vendeu ações da elétrica MPX para a alemã E.ON por 1,4 bilhão de reais.
No fim de abril, negociava a venda de uma participação de 40% de um campo de petróleo na bacia de Campos para a malaia Petronas por 1 bilhão de dólares.
Em paralelo, começou a negociar com o governo planos de “resgate” para o grupo. Ao lado do pai, encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff em Brasília e ouviu que seria apoiado, por exemplo, numa eventual parceria entre a OGX e a Petrobras.
Uma mal explicada tentativa do governo de levar um estaleiro de Singapura para o porto de Eike pegou tão mal que acabou abortada (o Jurong está construindo seu estaleiro no Espírito Santo). Mas, mesmo que passe relativamente bem pela crise atual, Eike Batista sairá dela menor do que entrou.
Comentários do blogueiro:
* Onde já se viu alguém colocar seu carro na sala, a não ser morador de favela?
** Quem conseguir mencionar o título de UM só filme onde esta "atriz" trabalhou ganha um picolé de umbú
*** Tanto furou que caiu no buraco
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