sábado, 27 de julho de 2013

RECIFE: UM FILME PROVOCADOR

Hilton Lacerda usa o passado para discutir o

 futuro em novo filme

“Tatuagem” é a estreia do roteirista pernambucano como diretor de longas.
Filme se passa em 1978 e é inspirado no grupo Vivencial Diversiones.

Katherine CoutinhoDo G1 PE
Hilton Lacerda (Foto: Katherine Coutinho / G1)Com 'Tatuagem', Hilton Lacerda estreia na direção
de cinema (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O pernambucano Hilton Lacerda, conhecido por ter escrito os roteiros de “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas”, ambos dirigidos pelo conterrâneo Claudio Assis, estreia como diretor de longa-metragens com “Tatuagem”, que está em fase de filmagem. Os cenários se espalham por Pernambuco, da Cidade Alta de Olinda até o Litoral Sul e a Zona da Mata, e a reportagem do G1 acompanhou as gravações nesta quinta-feira (03), em um casarão olindense.

Utilizando o passado para repensar o presente, Lacerda conta que a ideia para o roteiro do filme surgiu a partir do teatrólogo argentino Túlio Carella, que viveu no Recife nos anos 1960, e transformou seus diários do período no livro "Orgias". "Estava conversando sobre esse personagem com o [João] Silvério Trevisan, tinha vontade de fazer algo sobre ele. Na época, pensei em um documentário, tinha até nome, 'O homem da ponte'".

Outra inspiração para o filme foi o grupo teatral anárquico Vivencial Diversiones, que existiu no Recife e em Olinda, entre os anos de 1974 e 1981. Eles viviam como uma comunidade em uma casa em Olinda, na frente da qual Lacerda passou muitas vezes na infância. "Ficava no caminho da casa da minha avó. Sempre me diziam, ‘olha, aquela é a casa do Vivencial'”, relembra. Embora o grupo seja uma fonte, Lacerda ressalta que o filme não é uma biografia nem se prende a personagens do Vivencial.

Quem passou pelo set nesta tarde foi o diretor Cláudio Assis. “O Hilton é o cara certo para fazer essa homenagem ao Vivencial. Ele é um cara do cinema, mas entende de teatro”, afirma Assis. Larcerda confirma que gosta mesmo do tablado. “Eu já pensei em escrever [para teatro], mas ainda não surgiu a oportunidade”, admite.
Na cena gravada nesta quinta, era possível ter uma ideia do colorido tropicalista que serviu de inspiração para o roteiro. O momento é a gravação de um filme em Super 8, um filme dentro do filme. “Eles estão todos fantasiados para fazer essa procissão”, explica o produtor João Vieira Júnior. É a alma do Vivencial Diversiones relembrada. “Quero mostrar um pouco do que foi o teatro pernambucano, relembrar a criatividade daquela época e tudo que ainda pode ser feito”, ressalta o diretor.

'Chão de Estrelas'
A história de “Tatuagem” se passa em 1978, durante a ditadura militar brasileira, diante de dois grupos opostos: de um lado, a rigidez dos militares; do outro, o colorido do grupo 'Chão de Estrelas’, cujo líder, Clécio, é vivido pelo pernambucano Irandhir Santos. Por sinal, o ator foi a inspiração do diretor e roteirista para o personagem. “Desde 'Baixio' penso nesse projeto. O Clécio é inspirado no Irandhir, nos movimentos corporais dele”, revela.
Irandhir Santos - Tatuagem (Foto: Katherine Coutinho / G1)Irandhir Santos vive o protagonista Clécio, líder do grupo teatral 'Chão de Estrelas' (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Lacerda ressalta que esse não é um filme de época, nem se pretende fixo a uma data específica. A proposta é, a partir do passado, discutir o presente. “Os personagens falam muito que, no futuro, tudo vai ser melhor. O preconceito ia acabar, o mundo ia ser melhor... Era a crença da época, a ideia de que o Brasil ia dar certo”, explica o diretor.

Por isso, um dos cenários escolhidos foi a parte histórica de Olinda. “Nosso compromisso não é exatamente com o ano, mas Olinda tem essa neutralidade temporal. Fora isso, os artistas da época gostavam muito daqui da Cidade Alta, tinha tudo a ver”, lembra Vieira Júnior.

A diretora de arte Renata Pinheiro concorda, reafirmando que não há uma rigidez cronológica. “Nos demos a liberdade de recriar essa época, inspirados no tropicalismo e no movimento antropofágico”, ressalta Renata, que ainda afirma que o Vivencial foi o grande movimento cultural da época. “Eu chamo de movimento mesmo, eles marcaram a história do teatro”, assegura.

Na equipe de produção, algumas pessoas participaram do grupo, como o produtor de elenco Rutílio de Oliveira, que lembra ter estreado ‘por acaso’ na peça “Viúva, porém honesta”, de Nelson Rodrigues, apresentada pelo Vivencial Diversiones. “Está sendo um prazer. O Vivencial era um grupo politizado incrível”, diz.

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