sábado, 28 de julho de 2012

SOBRE FARÓLEO

De Campo do Brito para o mundo


Sua pele ostentava a clássica mistura nordestina de negro, branco e índio. Baixinho, franzinho, olhar inquieto e voz mansa, Josaphat Honorato de Santa Cecília escolhera o curioso apelido de Faróleo para assinar uma obra pictórica ímpar, muito além da precipitada definição de primitivo ou naïf, mais perto de um construtivismo figurativo, a la Djanira.

De origem humilde, alistou-se na Marinha aos 18 anos. Pegou pela primeira vez num pincel para pintar uma lata de lixo. Como estalou a paixão da arte após tão primário começo? Mistério. Deixando a farda, resolveu ficar no Rio de Janeiro. Ivan Serpa, respeitado pintor e gravador, também professor de grande sensibilidade, reconhecendo de imediato as possibilidades do jovem, convidou-o para estudar no seu atelier. Mas, apesar de freqüentar meios artísticos, Faróleo não deixava de sentir falta de seu Nordeste.

Veio a Salvador onde o encontrei em 1975 vendendo suas obras no Terreiro de Jesus. Lá acontecia uma espontânea feira das pulgas (ou da ladra, como o leitor quiser). Passeio favorito aos domingos, muitas coisas interessantes adquiri naquele belo largo. Desde antigos azulejos até trabalhos populares de forte expressividade. A feira seria rapidamente proibida pela prefeitura.
Nos seus quadros de composição rigorosa – com ocasional tendência à simetria - economia de anedota, controle absoluto da cor, pincelada cuidadosa, limpa, Faróleo falava de seu povoado natal, sua infância, as lavouras, o gado, a cana de açúcar, a estiagem e a fartura após a chuva.

Obra singela, de densa força espiritual, fora dos caminhos por outros traçados. De minha Galeria da Sereia, muitos foram os admiradores que levaram suas obras para Paris, Nova-Iorque, Zurich, Saint-Tropez ou Moscou.

Nosso amistoso relacionamento profissional durou doze anos.
Morreu de câncer, solitário, numa estreita cama de hospital em Aracaju, dias depois de visitá-lo. Ainda possuo mais de quarenta telas, várias de grande tamanho, na esperança de fazer uma exposição que tire tão significativo artista sergipano de injusto esquecimento.


Um comentário:

  1. achei hoje esse blog e fico muito feliz por esta enaltecendo o trabalho do meu pai! me chamo Silvia patrícia

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