terça-feira, 3 de julho de 2012

MESAS DE PARIS



Vamos começar pelo negativo. A multinacional McDonald´s está encantada com a receptividade do público francês e fatura um dos mais altos benefícios desta firma na Europa. E em várias “brasseries” tidas como tradicionais, talvez lhe sirvam pratos congelados esquentados na hora no micro-ondas. Moral da história: o francês também é capaz de aceitar o pior quando senta à mesa.
Mas existem os que recusam o duvidoso e conhecem os bons endereços da cidade.
Então, acompanhe-me. Vou lhe levar a alguns endereços famosos, outros mais secretos.

Se você for político e quiser encontrar colegas do Senado ou até simples prefeitos do Acre ou do Amapá, o endereço certo é o restaurante do chefe Alain Ducasse no suntuoso hotel Plazza-Athénée, avenue Montaigne, a dois passos de Dior, Chanel etc. Muito prático. Até há pouco tempo, também poderia dar um alô ao Cavendish, dono da empreiteira Delta, mas dizem que, ultimamente, anda sumido. Como, aliás, o Paulo Maluf, este por razões... estratégicas. Sugiro, para não ter surpresa, pegar o menu. Por meros 380,00 euros, serviço incluído, mas sem contar com as bebidas, você terá a certeza de provar uma das melhores cozinhas da capital.

Achou, talvez, a conta um pouco salgada? Então vamos atravessar o rio Sena em direção aos Invalides. Por perto está o Petrossian que tem, como todos sabem, os melhores caviares importados da Rússia e do Irã. Aqui o menu está muito mais em conta: somente 250 euros, incluindo uma excelente vodka.

Ainda acha caro? Voltemos ao lado direito do Sena. Num dos cenários mais românticos de Paris, o Palais-Royal - onde também se hospedam os teatros da Comédie-Française e do Palais Royal, lá na ponta – empurre a porta do Grand Véfour. A decoração é simplesmente deslumbrante. Não mudou desde o século XVIII. Com um pouco de sorte, você poderá sentar na “banquette”,  onde uma etiqueta lhe informa que era o lugar preferido de Napoleão, Maria Callas ou Victor Hugo. E o foie-gras, para os conhecedores, é o melhor de Paris.
Faça sua reserva antecipada para o almoço. Assim poderá aproveitar a vista sobre o jardim e não pagará mais de quase modestos 96 euros, sem bebidas, claro! Já melhorou, não acha?

É primavera, o dia está de cartão postal e você não pretende ficar fechado. Então proponho uma excursão até o Bois de Boulogne para descobrir um dos endereços que só os parisienses conhecem: o Jardin de Bagatelle e suas famosas roseiras. Melhor chegar cedo para ter tempo de passear, admirar e fotografar estas maravilhas da natureza. Depois é só sentar no “terrasse” do restaurante. Por 60 euros (sem bebidas) terá direito a um menu de qualidade ouvindo o canto dos pássaros.

Mas seu orçamento tem limites severos e você não pretende ultrapassá-los. Então vamos descendo no orçamento sem, porém, perder o charme. Vou lhe levar até a Bastille. Podemos pegar o metro. Aproveite para ver o belo trabalho de azulejaria antes de subir a superfície onde dará de cara para a moderníssima Opéra-Bastille. No número 5 da pequena Rue de la Bastille está a encantadora Brasserie Bofinger, com sua decoração Art Nouveau original. Não se deixe convencer para subir até o andar superior. O espetáculo está na sala do térreo. Aqui os menus não vão lhe assustar. Um de 28,50 euros, o outro 33,50. Comida generosa e bem preparada com destaque para a famosa “choucroute”, que, aliás, não está no menu, mas que dispensa entrada. É um prato típico da Alsácia, beirando a culinária alemã.

Por falar em brasserie, conheço outra, da mesma época e com um belíssimo vitral no teto, um pouco como a pastelaria Colombo, no Rio de Janeiro. O Montparnasse 1900, defronte à estação ferroviária do mesmo nome, propõe um menu por 34 euros incluindo aperitivo e bebidas. Quando estudante. costumava freqüentar este estabelecimento – nos dias de bonança - me deliciando com uma mousse de chocolate caseira. Ficava imaginando o público do princípio do século...

Mas, naquela época meus endereços habituais eram mais modestos, sem porém, abdicar do charme. Dois deles ainda existem: o Petit Saint Benoit, na rua do mesmo nome, por trás do famoso café Les Deux Magots. Aberto em 1901, trata-se de um autêntico bistrô. Mesas minúsculas, muita gente com pressa, agitado, serviço sem tempo para perder, comida correta, sem grandes requintes e preços de fácil digestão. O outro é bem conhecido dos que não têm ou não querem gastar com a comida, mas não dispensam a tradição.


O Bouillon Chartier, a pouca distancia das Galeries Lafayette, serviu, desde 1896, mais de cinqüenta milhões de refeições. A imensa sala é tombada como patrimônio nacional. Aqui não tem menu. O prato mais servido é a “Andouillette grillée” com batatas fritas e a sobremesa, muito gostosa, é o “baba au rhum” acompanhado de chantilly. Em ambos os restaurantes poderá não gastar mais de 15 euros por pessoa.

Agora, se realmente você prefere investir em compras em vez de comida – o que eu lamentaria profundamente – compre um sanduíche na padaria na esquina e coma num banco de jardim público. Não fique acanhado, têm muita gente fazendo a mesma coisa. Mas para não perder a classe, compre uma garrafa da deliciosa água mineral de Chateldon. Era a água servida na mesa do rei Luis XIV em Versalhes.



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