sexta-feira, 6 de julho de 2012

PROPAGANDA DOS GOVERNANTES... POR QUÊ?

Durante a semana passada e o princípio desta, tenho distribuido um panfleto foto-copiado sob o título APITO 1.
Uma página contestava a cultura do barulho no centro histórico de Salvador.
Na outra página era questionada a gastança dos governantes em propaganda.
Hoje recebo o texto importante de um jovem jornalista que se demitiu do Bocão News após ter publicado uma matéria sobre o mesmo tema.
Aqui vão os dois textos.


APITO 1

Propaganda oficial... Por quê?

Criticar é mais do que um direito de todo cidadão e contribuinte que não concorda com a atuação de seus governantes. É um dever.

Infelizmente vivemos - em especial na Bahia - numa cultura de subservência com certeza herdada dos tempos da escravidão.
No entanto estamos todos incomodados no cotidiano e por nossos ideais pela omissão e irresponsabilidade sistemática dos governantes.

Uma das coisas mais absurdas que o povo é obrigado a engolir é a dinheirama gasta pelos poderes públicos para se auto-elogiar em outdoors, televisão e jornais.
Como estes governantes, que são funcionários públicos, se permitem usar de nosso dinheiro para promover sua gestão, quando são evidentes as carências, erros e fracassos? Quantos dias por ano o brasileiro trabalha para pagar esta propaganda?

Vamos nos limitar a uma rápida análise do Centro Histórico de Salvador.
Mais uma vez querem nos convencer de que basta pintar as fachadas nas coxas e programar eventos musicais - caros e efêmeros – mas não apresentam o mais elementar programa de ocupação de espaços e mais: anunciam obras e mais obras, mas terminam – mal - poucas e nem começam outras anunciadas há anos.
Exemplos? Não faltam:

* A Vila Nova Esperança, anunciada em 2007, na Rocinha da Rua Alfredo Brito. Onde estão os moradores desalojados?
* O palco móvel no Largo do Pelourinho, onde havia a Praça do Reggae. O belo projeto do arquiteto professor Pasqualino Magnavita cedeu espaço ao capim.
* A grade da Igreja do Rosário dos Homens Negros, entortada por um caminhão há quatro anos.
* O Quartel dos Bombeiros, sustentado também há muitos anos por estacas hoje enferrujadas.
* Inúmeros casarões que foram desapropriados para restauro em 1990 ainda fechados, incendiados ou arruinados.
* A relocação das favelas da encosta do Santo Antônio num antigo frigorífico do Pilar, se arrasta há mais de dez anos. Prometido para Agosto, foi adiado para Dezembro. Será?
* A Cruz do Pascoal cujos azulejos de mais de dois séculos estão se deteriorando e a imagem do oratório retirada para restauro há mais de 15 anos pelo Ipac.

Isto é sem contar com pelo menos três escolas que foram fechadas sem motivo aparente, enquanto funcionários públicos do primeiro, segundo e terceiro escalão viajam pelo mundo afora às nossas custas sem que o mínimo resultado seja apresentado.

É realmente indispensável este gasto para propaganda das obras (mal) realizadas pelos governantes?
Alguém pode citar algum outro país que invista fortunas para propaganda de seu governo?

A melhor publicidade de um governo não será o trabalho efetuado?

Gastar dinheiro público (Mais de R$122 milhões em 2012, só para o Estado da Bahia, afirma no seu blog um político agora na oposição) para gabar o trabalho do governador é uma indecência, uma agressão ao trabalho do cidadão que não tem nem escola, nem policiamento, nem hospitais.
Em se tratando do Centro Histórico de Salvador, é autêntico desvio de verba.

DIMITRI GANZELEVITCH



 
Texto de Bomfim Brown
publicado originalmente no Blog do Brown

Vítima do braço autoritário do governo, jornalista sai com dignidade da empresa

Quem ainda tinha dúvida do surto autoritário que acontece na Bahia teve na tarde desta segunda-feira, 18 de junho, um episódio típico do “grande irmão” tão bem personificado no romance 1984 de George Orwell.
Os detratores das recentes greves no Estado (greves na saúde, na polícia, na educação) procuram de todas as formas desqualificar os movimentos e satanizar seus líderes, a fim de blindar o governo, mais especificamente o governador. Sim, tem a maioria que faz isso para garantir seus cargos, seus postos de trabalho, ainda que pretextando a aludida governabilidade ou o tal “ruim com ele, pior com outro”. E tem aqueles que ainda duvidavam, honestamente, do surto autoritário. Mas a triste realidade é esta: estamos vivendo um momento de autoritarismo que nada deve a governos que envergonhavam a decência democrática.
No episódio de hoje, um jornalista, jovem e brilhante, recém saindo da universidade, escreveum texto sobre a festa publicitária que o governo estadual da Bahia vem fazendo. A reportagem não tem opinião, tem, sim, números e informações, muitas. Uma hora depois de publicada chega a ordem na redação do Bocão News para que fosse tirada do ar. A velha tática: ou me obedece ou fica sem publicidade. E o empresário da comunicação nem pestaneja, não ficar sem seu melhor cliente.
No episódio de hoje, no site Bocão News, ao jornalista restava fechar os olhos para o acontecimento ou tomar um posição em defesa de sua dignidade e postura profissional. Dignamente ele optou por sair da empresa que não oferece nenhum suporte para enfrentar o “grande irmão”.
Leia abaixo a justificativa de Guilherme e mais abaixo a reportagem que irritou o governo.

GUILHERME VASCONCELOS:
Hoje, pedi demissão do site Bocão News, onde trabalhei nos últimos três meses. Escrevi, com base em dados oficiais, uma matéria que mostrava o crescimento exponencial dos gastos com publicidade do governo Wagner. Para minha surpresa, cerca de uma hora após a matéria ter sido postada, ordens da chefia chegaram até a redação para que a reportagem fosse retirada do ar. De maneira truculenta e desrespeitosa, fui comunicado da decisão por terceiros através de mensagens de texto via celular. Também me foi dito que, por interesses econômicos e por pressão do “democrático” governo petista, a ordem era irrevogável.
Diante disso, não poderia agir de outra forma. Não se trata de querer bancar o herói, mas a demissão era a única saída honrosa. A coerência, a dignidade e a liberdade são valores inegociáveis para mim. Na Bahia, estado que lidera a vanguarda do atraso, só verdades convenientes podem ser reveladas. Nosso jornalismo, salvo algumas honrosas exceções, é submisso e se aproxima do amadorismo. A verdade é que aqui, terra dos superlativos– 69 dias de greve dos professores, 12 anos de metrô, pior prefeito de capitas – , praticamente não há jornalismo investigativo. Dizem que estamos na era da transparência. Na Bahia, a censura ainda é regra. Agradeço a Daniel Pinto, Marivaldo Filho e Luiz Fernando Lima, que muito me ensinaram durante esses três meses e, certamente, continuarão me ensinando.
Para os que leram e gostaram, para os que leram e não gostaram, e para os que não tiveram a oportunidade de ler, transcrevo abaixo a matéria que motivou meu pedido de demissão:
Governo Wagner eleva em 162% gastos com publicidade
Entre 2007, primeiro ano da administração petista, e 2011, o governo Jaques Wagner elevou em 162,5% os gastos com propaganda, promoção e divulgação das ações do Estado. Nesse período, as despesas com publicidade saltaram de R$ 46 milhões para R$ 122 milhões. Os dados estão no relatório de contas de 2011 do governo do estado elaborado pela conselheira do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE), Ridalva Figueiredo.
Em comparação com 2010, quando foram gastos R$ 109 milhões, houve um aumento de 12%. A Secretaria de Comunicação Social e a Casa Civil foram as instâncias do governo estadual que registraram maiores despesas na área, com R$ 29,2 milhões e R$ 13,9 milhões, respectivamente.
Entre as estatais, os gastos com publicidade foram liderados pela Empresa Baiana de Turismo (Bahiatursa), com R$ 11,4 milhões, seguida pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), com R$ 7,3 milhões, e a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), com R$ 3,3 milhões.
Seca
Se o orçamento para a divulgação dos projetos do governo não para de aumentar, os recursos destinados a ações de combate à seca, problema que fez mais da metade dos municípios baianos declarar situação de emergência neste ano, foram considerados insuficientes pelo conselheiro Pedro Lino, que votou pela desaprovação das contas do governo durante julgamento realizado na semana passada.
“Através de pesquisa realizada por minha assessoria nos sistemas corporativos do Estado, verificou-se que foram aplicados recursos no montante de R$ 37.599.143,88 através da execução de apenas dois projetos e duas atividades visando a assistência às famílias e municípios e implantação de soluções hídricas. Entretanto, nenhuma destas ações foi estabelecida como meta prioritária”, critica o conselheiro no parecer sobre as contas do poder executivo, destacando que a quantia empregada para reduzir os efeitos da seca foi mais de três vezes menor do que os recursos destinados a promover as ações do governo.

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