quinta-feira, 26 de julho de 2012

A PARANOIA DA PEDOFILIA


UM DOS MEUS AMIGOS - HOJE FALECIDO - COSTUMAVA DIZER: "HOJE NÃO SE PODE PEGAR UMA CRIANÇA NO COLO SEM SER SUSPEITO DE PEDOFILIA" 

INCIDENTE EM VARSÓVIA

POR MARCOS AUGUSTO PESSOA RIBEIRO


     Vivi em Varsóvia uma situação que poderia ter graves conseqüências.
     Estava sentado num restaurante ao ar livre, na Praça do Mercado da Cidade Nova, bebendo cerveja, comendo e escrevendo.
     No centro da praça, o principal logradouro turístico da cidade, repleta de bares e restaurantes, onde os turistas se acotovelam, pontifica uma antiga fonte de ferro fundido.
     Como estava muito quente, quase 30ºC, a fonte jorrava água, que, ao demorar de escoar, acumulava-se ao seu redor, formando quase um laguinho.
     Crianças polonesas, pequenas, graciosas e lindas, começaram a brincar, correndo em torno da fonte, chapinhando na água fresca.
     A cena atraiu a atenção de muitas pessoas; inclusive a minha. Turistas paravam para fotografar. Um grupo de senhoras japonesas, muito maquiadas e de luvas brancas, ficou encantado.
     Da mesa do restaurante, comecei a fotografar a cena.   
     Para tentar conseguir melhores ângulos, levantei-me e me aproximei da fonte.
     Então, enquanto estava completamente entretido no processo, um alemão jovem, com cerca de 30 anos, que estava sentado numa mesa próxima à minha, no mesmo restaurante, acompanhado da mulher e dos pais idosos, aproximou-se e perguntou, em inglês:
     - Você pediu permissão para tirar essas fotos?
     Respondi que não.
     Ele começou a dizer que eu não tinha o direito de fazê-lo; que não poderia sair por aqui fotografando crianças seminuas, sem a permissão dos pais.
     Subitamente, dei-me conta de onde ele queria chegar.
     O pai se aproximou para apoiá-lo.
     Argumentei que apenas pretendia mostrar para meus amigos no Brasil como era o verão na Europa, a qual eles costumavam associar ao inverno e ao frio.
     - Mas você teria que pedir permissão. Não pode fazer isso - ele insistiu.
As pessoas começaram a nos olhar e, eu, a ficar nervoso, ao perceber o rumo que as coisas estavam tomando.
Ele ameaçou chamar a polícia se eu não lhe mostrasse as fotos.
Informou à mãe das crianças que eu havia tirado fotos dos filhos dela sem permissão.
Algumas pessoas se aproximaram de nós.
Ele ameaçou novamente chamar a polícia.
Fiquei mais nervoso; havia bebido três ou quatro cervejas; estava sozinho num país cuja língua não falava, cujas leis desconhecia; acusado publicamente de fazer algo proibido. 
Então, dirigi-me à mãe e repeti o argumento de mostrar aos meus amigos no Brasil como era o verão na Europa; acrescentei que achara a cena poética, encantadora, inocente.
Perguntei-lhe se era queria ver as fotos; estendi-lhe a câmera.
Ela respondeu que não queria ver; não estava interessada. Pegou os filhos pelas mãos e foi embora.
Voltei a sentar à mesa do restaurante e achei que o problema tivesse acabado.
 Mas, na mesa ao lado, o grupo de alemães continuava a falar sobre mim; o jovem disse: “Esses caras pensam que podem vir aqui e fazer o que quiserem”. O pai acrescentou: “Ele deve ser pedófilo”.
O jovem alemão dirigiu-se a mim e insistiu que eu lhe mostrasse as fotos.
Retruquei que a mãe das crianças, que teria direito a vê-las, não quis fazê-lo.
Ele contrapôs que ela agira assim por não saber do que se tratava, que tipo de pessoa eu era.
Falava alto e todo restaurante olhava para mim.
Continuava a insistir que eu lhe mostrasse as fotos, para provar minha inocência.
Mencionou novamente a polícia.
Comecei a ficar muito nervoso. Percebi que ele não me deixaria em paz facilmente.
Então, disse, em voz muito alta:
- I DON’T SHOW YOU THE PICTURES BECAUSE YOU ARE NOTHING TO ME! LEAVE ME ALONE!
E, com toda a força dos pulmões e todo ódio de que era capaz, segurei a faca em riste e vociferei:
- FUCK YOU! FUCK YOU!
Vi o medo surgir imediatamente em seus olhos.
A mulher, sentada ao seu lado, segurou-lhe o braço e pediu-lhe que esquecesse a história.
Ele aceitou a sugestão e baixou a cabeça sobre o peito.
Acho que compreendera que a situação estava se tornando séria, perigosa para ele.
Pedi a conta e saí do restaurante.
Percebi que meu corpo tremia.
(Em anexo, as fotos que tirei.)
Marcos A. P. Ribeiro
           
  
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Um comentário:

  1. Um absurdo o rumo que as coias estão tomando. Pobres seres humanos.

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