sexta-feira, 13 de julho de 2012

LULA E WAGNER: MACUNAIMAS OU HEROIS SEM NENHUM CARATER?


Fernando Alcoforado*

Macunaíma- O Herói sem nenhum Caráter é uma obra de 1928 do escritor Mário de Andrade, considerado um dos grandes romances modernistas do Brasil. Macunaíma é uma tentativa de construção do retrato do povo brasileiro.
É uma obra que busca sintetizar o caráter do povo brasileiro, segundo as convicções da primeira fase modernista. Uma interpretação da obra é a de que o povo brasileiro não tem um caráter definido e o Brasil é um país grande como o corpo de Macunaíma que é simbolizada pela cabeça pequena do herói (ANDRADE, Mário. Macunaíma- O Herói sem nenhum Caráter. Rio: Agir- Sinergia, 2008).
Por sua vez, o autor romântico José de Alencar produziu o romance O Guarani cujo personagem Peri, índio de aspirações nobres, se assemelhava, em relação a sua conduta ética, a um cavaleiro medieval português (ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Atica, 2012).
Peri seria o oposto de Macunaíma. Enquanto Peri é valente, bastante perseverante e encontra suas motivações nos valores da ética e da moral, Macunaíma, além de indolente, conduz a maioria de seus atos movido pelo prazer terreno, mundano. É “o herói sem nenhum caráter”.

A comparação do ex-presidente Lula com Macunaima resulta da falta de caráter por ele demonstrada em suas atividades políticas. No Programa Roda Viva da TV Cultura do dia 2 de julho próximo passado, o sociólogo Chico de Oliveira, professor emérito da Universidade de São Paulo fez declarações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmando que “Lula é muito mais esperto do que vocês pensam. O Lula não tem caráter, ele é um oportunista”.
A falta de escrúpulos do ex-presidente Lula não tem limites nem fronteiras. Nada o impede de continuar conduzindo o País, através do PT e da presidente Dilma Roussef, ao fundo do poço da degeneração da política.

Os mesmos homens que eram chamados de ladrões por Lula como Collor, Maluf e Sarney entre outros, com o passar do tempo, viraram seus amigos, aliados e protegidos, denotando grande oportunismo e absoluta falta de caráter. Vivemos no Brasil em uma sociedade caracterizada pela falência da democracia representativa, manipulada por oligarquias que transformaram o País em uma cleptocracia, isto é, uma república governada por ladrões.

Esta conclusão resulta do fato de se constatar diariamente inúmeros exemplos de que a política no nosso País não tem mais qualquer preocupação com a moralidade e a ética, não importando o partido político que esteja no poder.
A desonestidade, a hipocrisia, a corrupção e o suborno foram adotados como instrumentos preferenciais de ascensão e da permanência no poder da maioria dos partidos no Brasil. Esta situação foi profundamente agravada depois que Lula e o PT assumiram o Poder Executivo, com a crescente desmoralização do Parlamento e a existência no Poder Judiciário de bandidos togados, segundo a ministra Eliane Calmon.

Toda esta situação nos leva à conclusão de que estamos próximos da consumação da impunidade parcial ou total da gang do Mensalão pelo STF, além da desmoralização da CPI do Cachoeira garantida por um Parlamento conivente com a bandalheira.
O comportamento de Lula e da grande maioria de nossos governantes confirma que é atual a tese do escritor Mário de Andrade de que o povo brasileiro não tem um caráter definido e o Brasil é um país grande como o corpo de Macunaíma que é simbolizada pela cabeça pequena do herói.
Em outras palavras, as eleições de governantes sem caráter que tem caracterizado a história recente do Brasil traduzem também que a maioria do povo brasileiro não tem um caráter definido. Figuras execráveis como Sarney, Collor, FHC, Lula e outros políticos menos votados chegaram ao poder porque vivemos em um país grande como o corpo de Macunaíma que é simbolizada pela cabeça pequena do herói, como afirmava Mário de Andrade.
Esta situação vivida pelo Brasil no momento pode abrir caminho a aventuras golpistas sob o pretexto de sanear ética e moralmente o País como já aconteceu em 1930 em 1964 com a ascensão, respectivamente, de Getúlio Vargas e dos militares ao poder. 
Os golpes de estado de 1930 e 1964 ocorreram com o objetivo de fazer frente à crise econômica vivida na época pelo Brasil e combater a corrupção política para sanear ética e moralmente o País. Em 1964, o golpe de estado ocorreu, sobretudo para evitar a ascensão das forças de esquerda ao poder. 
As aventuras golpistas ainda não aconteceram na atualidade no Brasil graças à estabilidade econômica e à estabilidade social existente. Na medida em que a crise econômica e social avance pode resultar um quadro de instabilidade política quando seria criado o caldo de cultura para aventuras golpistas alimentadas também pela crise ética e moral existente e a possibilidade de emergência da guerra civil no Brasil.
Por sua vez, o governador Jaques Wagner do Estado da Bahia é outro exemplo de político que se caracteriza também pela falta de caráter como é o caso do ex-presidente Lula. Ressalte-se que caráter significa firmeza de vontade, coerência, constância e estabilidade relativas à maneira de agir e de reagir.

Nos acontecimentos recentes envolvendo a greve da Polícia Militar da Bahia ficou demonstrada a incoerência do governador Wagner e do PT que em 2001 apoiaram a greve dos policiais e, agora no poder, a ela se opuseram. Na greve atual dos professores que já dura 7 meses, o governador Wagner descumpre o compromisso por ele assumido de elevar seus salários em 22% oferecendo apenas 7%. 
Além de demonstrar total insensibilidade à demanda dos professores, corta seus salários e se nega a negociar uma solução que atenda a ambas as partes em conflito comprometendo ainda mais a precária educação prestada pelo governo do Estado na Bahia. 
Tanto na greve dos policiais militares quanto dos professores ficou evidenciado que o Wagner governador, verdugo do funcionalismo público, difere bastante do Wagner sindicalista que liderou no passado muitas greves do Pólo Petroquímico defendendo os interesses dos trabalhadores. 
A imagem que Wagner transmite é a de um traidor da classe trabalhadora e de falta de caráter nos seus atos como governador. Na Bahia, a ação política do governo do Estado da Bahia na atualidade é tão retrógrada quanto a dos governos de Antônio Carlos Magalhães e dos demais governos carlistas que o sucederam. Até mesmo ex-colaboradores do carlismo participam da atual estrutura de poder na Bahia como é o caso do vice-governador Oto Alencar demonstrando falta de caráter e um deslavado oportunismo político-eleitoral do governador Wagner atentatório aos mais elevados princípios éticos e morais.
Todos estes fatos mostram que precisamos batalhar no sentido de fazer com que os políticos e o povo brasileiro em geral passem a ter o comportamento do personagem Peri do romance O Guarani de José de Alencar que seria o oposto de Macunaíma, isto é, que sejam valentes e extremamente perseverantes na construção de uma sociedade baseada no progresso econômico e social e encontrem suas motivações também nos valores da ética e da moral.

Para combater os Macunaimas que infestam a vida política no Brasil é preciso convocar uma Assembleia Constituinte para fazer uma profunda reforma política no País.  

*Fernando Alcoforado, 72, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998),  Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010) e Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) , entre outros.

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