Um imponente SUV (Sport Utility Vehicle), preto e cromado, tinha as rodas traseiras atoladas na areia molhada do Porto da Barra. Aproximara-se demasiadamente da água para rebocar um jet ski.
As pessoas, aglomeradas em volta do carro, propunham soluções em voz alta, encetavam tentativas frustradas de liberar o veículo. O proprietário, um jovem musculoso, saía e entrava nervosamente da cabine, com uma expressão de raivosa impotência.
Detive-me para observar a cena.
Um vendedor de picolé, vestindo camiseta com propaganda política de um deputado estadual, surrada, mas muito limpa, isopor a tiracolo, em pé ao meu lado, comentou: - Esse cara não sabe dirigir...
A seguir, sugeriu uma manobra para desatolar o veículo.
Concordei com ele. Mas aventei outra possibilidade.
Após alguns instantes de silêncio, olhou-me de modo analítico e, certamente motivado por algo que percebeu em minha voz ou em meu rosto, perguntou:
- Você sabe o que é isso? (Breve pausa dramática.)
Arrogância! E se afastou.
Compreendi-o perfeitamente.
Marcos A.P. Ribeiro
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