Confesso que a locução em inglês me incomoda um pouco, mas é preciso denunciar os abusos destas empreitadas que, sob pretexto de interesse público esmagam identidades e culturas sem remorso e demoram décadas para indemisar as vítimas... quando as indenizam.
http://amazonwatch.org/
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Salvemos Salvador, enquanto é tempo
Este texto não é recente, mas continua de atualidade...
O 460º aniversário de Salvador passou quase despercebido.
Realmente não há muito a comemorar.
Em 60 anos de “laissez-faire”, a cidade acumulou índices assustadores de compactação demográfica e veicular, concentração de pobreza, insegurança e destruição do meio ambiente, que apontam para seu colapso em curto prazo. A cidade possui hoje 4.172 habitantes por km², densidade superior à de Bombaim, segunda colocada. Para piorar, a urbe se transformou, por falta de política metropolitana, em dormitório e provedor das necessidades de 3,76 milhões de moradores da Grande Salvador. Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Candeias juntas faturam receita igual à de Salvador, transferindo para esta o passivo de serviços e infraestrutura.
O 460º aniversário de Salvador passou quase despercebido.
Realmente não há muito a comemorar.
Em 60 anos de “laissez-faire”, a cidade acumulou índices assustadores de compactação demográfica e veicular, concentração de pobreza, insegurança e destruição do meio ambiente, que apontam para seu colapso em curto prazo. A cidade possui hoje 4.172 habitantes por km², densidade superior à de Bombaim, segunda colocada. Para piorar, a urbe se transformou, por falta de política metropolitana, em dormitório e provedor das necessidades de 3,76 milhões de moradores da Grande Salvador. Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Candeias juntas faturam receita igual à de Salvador, transferindo para esta o passivo de serviços e infraestrutura.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
CNJ age contra corrupção no Judiciário ...
... e gera reação corporativa de juízes
Beatriz Bulla - 26/12/2010 - 11h30
Resposta a Ricardo Castro
Maestro.
Você é um excelente pianista. Me lembro de um concerto com Maria Joao Pires. Foi um momento de altissimo astral.
Fiquei emocionado como poucas vezes em minha longa vida de careca! KKKK!
Mas acho que agora deveria se concentrar totalmente naquilo que é seu feudo: o piano.
Que 2011 lhe coloque na sua trilha natural. Sua estrela brilhará mais forte.
Abraço
Dimitri
Salvador 26 de dezembro de 2011
Você é um excelente pianista. Me lembro de um concerto com Maria Joao Pires. Foi um momento de altissimo astral.
Fiquei emocionado como poucas vezes em minha longa vida de careca! KKKK!
Mas acho que agora deveria se concentrar totalmente naquilo que é seu feudo: o piano.
Que 2011 lhe coloque na sua trilha natural. Sua estrela brilhará mais forte.
Abraço
Dimitri
Salvador 26 de dezembro de 2011
Rembrandt
è sempre bom pode compartilhar aspectos da obra de génios da Arte...
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ESTE BLOG ACABA...
...DE ULTRAPASSAR O BELO NÚMERO DE 8 MIL ACESSOS EM QUATRO MESES!
Temos leitores na Holanda, Marrocos, Roménia, Dinamarca, Reino-Unido, EUA, Suiça, Croácia, Canadá, Mali, Eslovênia, Turquia, Alemanha, Rússia, Espanha, Portugal, Itália, e, claro, na França e no Brasil. Não é fantástico?!
Temos leitores na Holanda, Marrocos, Roménia, Dinamarca, Reino-Unido, EUA, Suiça, Croácia, Canadá, Mali, Eslovênia, Turquia, Alemanha, Rússia, Espanha, Portugal, Itália, e, claro, na França e no Brasil. Não é fantástico?!
Ho! Ho! Ho!
Mais um Natal repleto, entupido de pieguices, cafonices e breguices acaba de acabar. Ufa! Já passava da hora... Você viu o circo das multidões portadoras de décimo-terceiro, apinhadas em escadarias rolantes, sacolas engolindo presentinhos horrorosos, tudo embrulhado em papeis brilhosos e fitas fosforescentes? Na mão boba, a lista dos futuros contemplados, sempre faltando mais uma lembrancinha para a cunhada dentuda e o abominável sobrinho obeso. E as pretensas neves e trenós com renas de pelúcia acrílica em clima de estiagem tropical? Buñuel puro!
domingo, 26 de dezembro de 2010
Uma carta de Ricardo Castro
Caro Dimitri,
Que bom vê-lo na discussão musical.
Interessado pelo seu post (e até compreensivo quanto à menção sobre minha cabeleira vindo de um careca, o que me tornarei também em breve) fui interpelado pela sua preocupação sobre o repertório executado pela OSBA.
Que bom vê-lo na discussão musical.
Interessado pelo seu post (e até compreensivo quanto à menção sobre minha cabeleira vindo de um careca, o que me tornarei também em breve) fui interpelado pela sua preocupação sobre o repertório executado pela OSBA.
sábado, 25 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
De jabutis e sucuris
Quando resolvi ceder minha cadeira a outro, no comitê da Aliança Francesa de Salvador, mais disponível, recebi da delegação geral, em agradecimento, o conjunto dos prêmios literários parisienses daquele ano. Goucourt, Femina, Académie Française, Médicis... Em vão tentei me envolver na leitura dos ditos livros. Após meia dúzia de páginas, sonolento, abandonava a fastidiosa caminhada. Hoje nenhum dos laureados é mais lembrado pelos lados de Saint-Germain des Prés.
Um novo e excelente blog!
Quem não se conforma poderá desfrutar do blog "Oh! Reacionário!" Decapante!
http://www.ohreacionario.blogspot.com/
Vale a pena divulgar
http://www.ohreacionario.blogspot.com/
Vale a pena divulgar
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Obra-Prima
Acabo de receber este magnífico documento sobre uma das mais perfeitas obras de arte religiosa do gótico flamengo. Posso me permitir algumas observaçoes? Enquanto as mulheres representadas, Maria, Mãe de Jesus e Maria Madalena, são retratadas com a beleza clássica estereotipada da época, os homens são obviamente retratos de amigos ou conhecidos do artista. Suponho até que o Nicomedus seja o doador que financiou a obra. Era costume retratar os generosos patrocinadores no meio da obra, casais ou solteiros, como se pode constatar em outra descida da cruz do mesmo pintor, no final do documento.
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Síria VI
Após mais de dois anos, a Síria ainda não me sai da cabeça. Emoção de contemplar, no museu arqueológico de Damasco, mal acondicionado numa vitrine sem destaque, um modesto, insignificante pedacinho de cerâmica, encontrado em Ugarit, com alguns sinais de gravura, prova mais antiga no mundo da escrita “moderna” do homem: catorze séculos antes do Cristo. Nada a ver com hieróglifos ou escritas cuneiformes. Em Nova-Iorque ou Londres, teria direito a uma sala especial com luz própria, segurança exclusiva e longas explicações digitalizadas. Inegável prazer de passear por ruelas e becos sem o mínimo receio, de bisbilhotar a vida alheia nas vitrines das lojas populares. Haja flores de plástico, vistas da Mecca em veludo, chador e bordado de ouro!
Previsões de José Simão para as Olímpíadas no Rio - 2016
De 2010 a 2015
1. ONGs vão pipocar dizendo que apóiam o esporte, tiram crianças das ruas e as afastam das drogas. Após as olimpíadas estas ONGs desaparecerão e serão investigadas por desvio de dinheiro público. Ninguém será preso ou indiciado.
1. ONGs vão pipocar dizendo que apóiam o esporte, tiram crianças das ruas e as afastam das drogas. Após as olimpíadas estas ONGs desaparecerão e serão investigadas por desvio de dinheiro público. Ninguém será preso ou indiciado.
Agroglifos
Misteriosos mas lindíssimos!
Aqui vai um pps interessante sobre os agroglifos.
Aparecem da noite para o dia com uma complexidade impressionante.
Há várias teorias, mas os cientistas continuam sem conseguir explicar.
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Aqui vai um pps interessante sobre os agroglifos.
Aparecem da noite para o dia com uma complexidade impressionante.
Há várias teorias, mas os cientistas continuam sem conseguir explicar.
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Seu Jorge bota a boca no trombone
Coloquei este desabafo no "Garimpo musical" Ja que de música se trata. Tive pouca informação dos bastidores do departamento musical do TCA durante estes quatro anos, mas nunca fiquei convencido com a bela cabeleira do Ricardo Castro e por várias vezes ouvi comentários azedos sobre a realidade do Neojibá. A mudança me parece salutar. Já passou da hora de entrar na produção musical do século XXI!!
domingo, 19 de dezembro de 2010
Tucurui, 40 anos de abusos
O vídeo Tucuruí, a saga de um povo mostra que os mais de 25 anos de funcionamento da barragem de Tucuruí não significaram desenvolvimento para a região. Centenas de atingidos continuam sem indenização e as famílias que moram perto do lago não têm luz elétrica e condições dignas de vida. Enquanto isso, a indústria do alumínio, maior beneficiada com a energia gerada pela barragem, vai lucrando…
Além da denúncia, este vídeo se preocupa em mostrar a luta e a esperança do povo de Tucuruí por seus direitos e por uma sociedade menos desigual.
Além da denúncia, este vídeo se preocupa em mostrar a luta e a esperança do povo de Tucuruí por seus direitos e por uma sociedade menos desigual.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Água para África
Este será meu cartão de Natal (mais um!) para meus leitores!
Ryan Hreljac_p.pps737K Visualizar Baixar
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
RETALHOS 29
Tenho recebido alguns comentários sobre minha suposta mudança de opinião a respeito da nova presidente do Brasil. Vou já esclarecendo: profundamente democrata, reconheço a escolha de significativa maioria eleitoral. O povo quis? Que assim seja. Em nada invalida minhas críticas e restrições anteriores. Na verdade nenhum dos três candidatos me pareceu merecer tão importante cargo. Lamentei em especial a hipocrisia em relação à religião, aborto e drogas. Por outro lado, nunca me afetou a eventualidade de Dilma Rousseff ter planejado assaltos a bancos na época da ditadura militar. Sabia perfeitamente que arriscava sua pele. E cá entre nós, estes não assaltam nossos bolsos cada dia, sem que nenhum governo, nenhuma polícia ache errado? Um amigo meu, hoje falecido, esbanjava alegria cada vez que uma agência bancária era assaltada. Chamava isso de “Lei das compensações”. O que me preocupa, sim, é a escolha fisiológica dos novos ministros, cujos conhecimentos profissionais pouco ou nada têm a ver com a pasta recebida. Para Fulano, tanto faz ser da Agricultura ou dos Transportes, da Energia ou da Burocracia, já que de qualquer forma nada entende do assunto. Isso sim, me incomoda, e muito.
Cuidado com a GVT: mesmo quando a chamada de celular não é completada, esta empresa não hesitará em debitar na conta.
Não se deve perder a exposição “Luzescrita” na galeria do Solar Ferrão, centro histórico de Salvador. Pena a mancada do Daniel Rangel - diretor dos museus do Ipac - que ostenta constrangedora ignorância ao atribuir ao latim o termo “Photographie”. Amigo! Todas e quaisquer palavras compostas com PH derivam do grego, sacou? Esta palavra – photos = luz + graphie = escrever – foi inventada pelo astrônomo inglês John Frederick William Herschel em 1839. Basta abrir o Google. A classe dos museólogos começa a resmungar, com toda razão. Este moço animado, com certeza, das melhores intenções, confunde museologia com galerismo (neologismo oriundo de Galeria e não de Galera). Existem referências e critérios que não podem ser simplesmente descartados ao bel prazer de um jovem que chegou de para-queda ao posto, no embalo das inovações, confundindo alguns básicos valores acadêmicos. Resta saber quem teve a idéia de colocar a pessoa talvez certa no posto com certeza errado.
Em tempo: o rapaz é filho de uma família de numerosos funcionários públicos.
E se houvesse um Weakleaks tupiniquim, heim?! Seria o fim do congresso e de todos os parlamentares! Um tsunami levaria para bem longe o bando Sarney, os compadres Renan, Collor, Maluf, Garotinho e tantos outros que, apesar do clamor público, nenhuma ficha limpa conseguiu afastar.
Para não dizer que ando perseguindo a atual prefeitura: pelo menos, após anos de omissão, se lembraram de restaurar o terminal do Aquidabã, magnífico trabalho de engenharia civil da década de 80, digna de registro em revistas especializadas internacionais.
Más línguas afirmam que a filha da esposa (responsável pela área de dança do teatro Vila Velha) do Marcio Meirelles está empregada na Secretaria Estadual de Cultura. Por acaso não seria nepotismo, proibido por lei?
A Aliança Francesa está de vento em popa. A reinauguração do teatro Molière, com 133 assentos, tem uma excelente acústica e ar condicionado bem regulado (não é preciso levar agasalho) O intimismo do espaço se revela ótimo para o teatro de vanguarda
E a área aberta e acolhedora do Café-Terrasse começa a ser o must dos eventos literários
A piada do ano? O Partido Verde estudando a admissão do prefeito João Henrique Carneiro. Este triste senhor, de ecológico só tem mesmo é o nome de família, porque, de resto, sempre foi considerado o Inimigo Público N°1 da natureza. Que o digam os bichos e insetos deslocados das matas que hoje tem como nome Alfaville, Greenville e outros villes, villages e parks.
Com a sucessão de escândalos e denúncias mil envolvendo a prefeitura e o próprio prefeito – desde 1990, Fernando José – não se via tão lamentável administração municipal. Muitos começam a considerar a renúncia como única saída honrosa de João Henrique. Senão, somente restará a operação cirúrgica sem anestesia do impeachment. Se fosse no Japão, seria hara-kiri na certa.
Quem não se lembra das falcatruas milionárias da doutora Jorgina, procuradora do Estado do Rio de Janeiro? Ela e comparsas surrupiaram do INSS R$310 milhões há mais de quinze anos. Até hoje só R$80 milhões foram recuperados. Já está em regime semi-aberto, trabalhando, dizem, numa empresa ligada ao governo. Acabará solta por “bom comportamento”, podendo assim usufruir ainda de generoso pé de meia. Só você, leitor, eu e mais uns poucos otários é que não conseguimos “se dar bem”.
Uma lamentável notícia: Paulo Maluf continua ativo na política. Conseguiu escapar da Ficha-Limpa! Brasília não tem jeito, não!
Esteve em Salvador, onde ficou por vinte dias hospedado no Solar Santo Antônio, o francês Christophe Voros, presidente da Fédération européenne des sites clunisiens. Vasculhou a cidade de cabo a rabo, escrevendo suas primeiras impressões para o blog http://www.tourismebahia.com/ Estranhou a total ausência de visitantes no belíssimo Museu de Arte Sacra. Tem anos que reclamo da total falta de interesse da Ufba em divulgar tão excepcional espaço. Todos os visitantes que mando para lá voltam com a mesma observação. Deveria ter assessoria de imprensa só para ele, tal a beleza do conjunto!
Para os que dominam o inglês, recomendo, neste mesmo blog, assistir aos 60 minutos do programa “Brazil success” da americana CBS.
Pedro Infante - La Barca de Oro
Ouçam a interpretação perfeita de um monumento da canção mexicana. Pedro Infante (1917-1957) foi o Frank Sinatra ou o Roberto Carlos mexicano.
92 years old and dancing with her 29 year old grandson
Recebi, e transmito, este fabuloso momento de felicidade: a avó, 92, dança com seu neto, 29. Me parece ser o mais belo presente de Natal e Ano Novo para meus leitores!
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
60 minutes report on Brazil´s success (CBS)
A pesar de 40% da população ainda viver com fome permanente, conforme as últimas estimativas, aqui está o país que transforma o futuro em presente:
http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=7143554n&tag=contentBody;housing
http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=7143554n&tag=contentBody;housing
domingo, 12 de dezembro de 2010
Sobre Picasso
Finalmente um trabalho sério sobre o maior génio do século XX.
Imperdivel!
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Imperdivel!
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Com que direito?...
Cada nova administração pública muda os critérios culturais. O que seria uma ótima forma de dinamizá-la e renovar o interesse das platéias se transforma em política de terra arrasada, impondo a total supressão de eventos que encontraram, durante anos seguidos, expressivo apoio popular. Exemplos? A Caminhada Axé, que apresentava, geralmente nos últimos dias da primavera, um amplo leque de grupos folclóricos oriundos de cidades e vilarejos distantes ou até da própria capital. Foi assim que eu mesmo desfilei com cem vendedores de cafezinhos e seus belos carros. Foi assim também que descobri o Zambiapunga de Nilo Peçanha, conseguindo levar - sem ónus para o contribuinte - cinqüenta componentes e agregados a uma memorável viagem a Marrocos, via Paris, onde pescadores, motoristas, operários e estudantes baianos puderam ser fotografados frente à Torre Eiffel. Com novas ideologias, este significativo evento foi banido da alegria geral. A Paixão do Cristo, no dique do Tororó, foi mais uma vítima do papel mal interpretado de nossos edis. Até pela memória do saudoso Carlos Petrovitch, deveria ter sido transformado em ato institucional. Os orixás das águas nunca se incomodaram com o evento. Outra manifestação cultural de peso, a Trezena de Santo Antônio, trazia à Praça da Sé um momento de paz e comunhão entre todos os participantes, sem excesso de decibéis nem histerismo coletivo. Algumas centenas de cristãos se reuniam, treze noites seguidas, para simplesmente cantar ladainhas em louvor a um santo símbolo da luta por um mundo melhor. Algo errado nisso? Não se aproveitava o momento para fanatizar a assistência, fazer discursos inflamados ou pedir qualquer contribuição. Mesmo eu, pouco dado a espiritualidade, não deixava de comparecer e cantar, desafinando com certeza, para me sentir parte de uma comunidade amena e sorridente. Será que os governos têm o direito de dispor de eventos que, pela grande aceitação popular, se transformaram em referencial? Para mim, isto se caracteriza como condenável ato de prepotência.
Salvador, 11 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Campanha contra o WikiLeaks
Caros amigos,
A campanha de intimidação massiva contra o WikiLeaks está assustando defensores da mídia livre do mundo todo.
Advogados peritos estão dizendo que o WikiLeaks provavelmente não violou nenhuma lei. Mas mesmo assim políticos dos EUA de alto escalão estão chamando o site de grupo terrorista e comentaristas estão pedindo o assassinato de sua equipe. O site vem sofrendo ataques fortes de países e empresas, porém o WikiLeaks só publica informações passadas por delatores. Eles trabalham com os principais jornais (NY Times, Guardian, Spiegel) para cuidadosamente selecionar as informações que eles publicam.
A intimidação extra judicial é um ataque à democracia. Nós precisamos de uma manifestação publica pela liberdade de expressão e de imprensa. Assine a petição pelo fim dos ataques e depois encaminhe este email para todo mundo – vamos conseguir 1 milhão de vozes e publicar anúncios de página inteira em jornais dos EUA esta semana!
http://www.avaaz.org/po/
O WikiLeaks não age sozinho – eles trabalham em parceria com os principais jornais do mundo (NY Times, Guardian, Der Spiegel, etc) para cuidadosamente revisar 250.000 telegramas (cabos) diplomáticos dos EUA, removendo qualquer informação que seja irresponsável publicar. Somente 800 cabos foram publicados até agora. No passado, a WikiLeaks expôs tortura, assassinato de civis inocentes no Iraque e Afeganistão pelo governo, e corrupção corporativa.
O governo dos EUA está usando todas as vias legais para impedir novas publicações de documentos, porém leis democráticas protegem a liberdade de imprensa. Os EUA e outros governos podem não gostar das leis que protegem a nossa liberdade de expressão, mas é justamente por isso que elas são importantes e porque somente um processo democrático pode alterá-las.
Algumas pessoas podem discordar se o WikiLeaks e seus grandes jornais parceiros estão publicando mais informações que o público deveria ver, se ele compromete a confidencialidade diplomática, ou se o seu fundador Julian Assange é um herói ou vilão. Porém nada disso justifica uma campanha agressiva de governos e empresas para silenciar um canal midiático legal. Clique abaixo para se juntar ao chamado contra a perseguição:
http://www.avaaz.org/po/
Você já se perguntou porque a mídia raramente publica as histórias completas do que acontece nos bastidores? Por que quando o fazem, governos reagem de forma agressiva, Nestas horas, depende do público defender os direitos democráticos de liberdade de imprensa e de expressão. Nunca houve um momento tão necessário de agirmos como agora.
Com esperança,
Ricken, Emma, Alex, Alice, Maria Paz e toda a equipe da Avaaz
Fontes:
Fundador do site WikiLeaks é preso em Londres:
http://ultimosegundo.ig.com.
Visa e MasterCard se unem ao boicote contra WikiLeaks:
http://exame.abril.com.br/
Hackers lançam ataques em resposta a bloqueio de dinheiro do Wikileaks:
http://www.google.com/
Conheça o homem por trás do site que revelou documentos secretos americanos:
http://www.correio24horas.com.
O criador do WikiLeaks, entre a sombra e a busca pela verdade:
http://www.google.com/
Saiba mais sobre os telegramas diplomáticos:
http://ultimosegundo.ig.com.
Apoie a comunidade da Avaaz! Nós somos totalmente sustentados por doações de indivíduos, não aceitamos financiamento de governos ou empresas. Nossa equipe dedicada garante que até as menores doações sejam bem aproveitadas -- clique para doar.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Teatro Colon
O TEATRO COLON de Buenos-Aires é considerado um dos mais belos do mundo. Vale a pena conhecer
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente.
Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.
Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.
Festa sem cocaína era festa careta.
As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a
necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem
famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.
Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente.
Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.
Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.
Festa sem cocaína era festa careta.
As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a
necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem
famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.
Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília
RETALHOS 28
O alemão descomplexado.
Antecipando os faustosos fogos de artifício do Réveillon, o Rio de Janeiro nos brindou com uma semana de gostosas visões de bandidos aterrorizados, espalhados pelas estradas de barro dos subúrbios cariocas. Encontraram-se algumas toneladas de maconha, cocaína, crack e pilhas de armas pesadas. É fantástico! Plim! Plim! Mas, sorry periferia, nada deste filme me deslumbrou. Pode ter aliviado, por alguns dias, a tensão dos moradores dos bairros, ajoelhados por trinta anos sob as leis da bandidagem, mas não vejo nesta operação nenhuma política de longo alcance. É tudo para FIFA ver. Foram presas algumas dúzias de marginais? Geralmente adolescentes armados e tatuados, cheios de gíria e pouca responsabilidade. Os garis do narcotráfico. Ninguém se ilude. Os grandes criminosos não moram em favelas. Moram no Morumbi, no Jardim Botânico, no Horto Florestal, na Gávea, em Boa Viagem ou Praia do Futuro. Com piscina, garagem para quatro ou mais carros e segurança máxima. Trabalham em tribunais, bancos e parlamentos. Executivos em postos de confiança, muitos deles eleitos pelo povão. Ah! Se suas cadeiras falassem, quantos secretários de estado, governadores e deputados estariam trancados para ver a lua quadrada durante uns anos!... Bom é abrir os documentos deste mesmo blog e ler pareceres de quem sabe do assunto e não se deixa iludi
E o prefeito João Henrique, será que o Partido Verde vai mesmo aceitar o cara como afiliiado? Era o que faltava! Seria o suicidio por dose letal de incoerência deste lamentavel partido...
E o prefeito João Henrique, será que o Partido Verde vai mesmo aceitar o cara como afiliiado? Era o que faltava! Seria o suicidio por dose letal de incoerência deste lamentavel partido...
“Grupo Aliança promete a venda do Hospital e seus terrenos à Odebrecht.
O valor da transação estaria em torno de R$ 250 milhões, incluindo o terreno com 250.000 m² e todo o complexo hospitalar. As tratativas se desenvolvem há mais de 4 meses entre o presidente do Grupo Aliança,
Paulo Sérgio Freire de Carvalho Gonçalves Tourinho e o presidente do conselho Deliberativo da Holding Odebrecht, Emílio Odebrecht. No acordo final, a empresa compradora se compromete a manter emfuncionamento o Hospital, que seria administrado por um grupo
O terreno ao lado abrigará um projeto imobiliário classe A, semelhante ao Vale do Loire, também da Odebrecht, que fica em frente ao HA. Representantes da Odebrecht já estão no HA levantando informações sobre o funcionamento da maternidade, radiologia, pronto atendimento de emergência, pronto atendimento pediátrico e a torre exclusiva para consultórios médicos. A negociação envolve muito mais o interesse social de Paulo Sérgio Tourinho na continuação do Hospital Aliança, que praticamente entra no pacote sem o seu valor verdadeiro computado, bastando dizer que lá está o maior acervo do artista plástico Francisco Brennand fora do seu atelier em Recife. Será o maior negócio imobiliário fechado em Salvador nos últimos tempos.”
Assim teremos mais alguns espigões em vez de inútil natureza. Muito obrigado doutor Norberto!
Cara de pau!
Durante três anos não consegui engolir um enorme sapo que uma empresa colocou, atravessado, na minha garganta. Hoje de manhã, finalmente, tive o imenso prazer de bater o telefone na cara desse pessoal. Imaginem que pretendiam alugar minha casa para um evento. Tem gente que acha que ninguém tem dignidade. Basta sacudir umas verdinhas. Recusar curto e grosso foi tão, mas tão bom!
A galinha dos ovos de ouro do Teixeira
E por falar na FIFA, o negócio tá preto para o Ricardo Teixeira, acusado de receber em conta na Suíça, alguns milhões de dólares de propina. Você estranhou? Não esperava essa? Deixa de ser besta, garoto! Nunca lhe passou pela cabeça que havia um rio subterrâneo de dinheiro rolando entre os big bosses do futebol? Ou você achava que se movimentam bilhões a cada ano, mesmo fora da Copa, sem que um punhado de espertalhões se assegure de “meu pirão primeiro”? Honestamente, alguém acredita que a derrubada da Fonte Nova, em vésperas de eleições, foi isenta de quadrilhas juninas?
Numa ilha baiana
E a restauração do convento de São Francisco em Cairu? Uma firma altamente qualificada foi contrada. Parte do orçamento foi paga por uma ong com elástico. Angústia permanente dos restauradores e arqueólogos. Finalizou a metade do belo trabalho com publicação merecida de livro.
No entanto a Ong Papamel (que nome mais adequado, hein!) resolveu trocar de firma sem o mínimo esclarecimento, escolhendo desta vez uma empresa que não inspira a menor confiança, haja visto o histórico. Por outro lado, o Iphan, pretextando falta de grana para viajar, demora mais de oito meses para mandar fiscais. Assim tratamos nosso patrimônio.
Assistindo à TV Senado, nunca me convenceram os discursos pseudo-literários de Francisco de Assis de Moraes Souza. Ao abrir o jornal, não estranhei o envolvimento do homem em crimes de peculato.
O senador, eleito pelo Piauí para defender seus interesses (do povo), como tantos outros, escolheu cuidar dos seus (dele) primeiro, nomeando 913 funcionários fantasmas. Mas continua citando Cícero e Georges Washington. Deveria ter o apelido de Mão Boba em vez de Mão Santa.
Em oito anos de mandato, o Fernando Henrique Cardoso passou 347 dias fora do país. Já o Lula, com 470 dias viajando no exterior, ultrapassou o marco precedente em quatro meses. Ou seja: mais de quinze meses viajando, com numerosa comitiva, no seu avião particular. E haja dinheiro público!
Não, não chore mais...
PERDÃO DE DÍVIDA DE R$ 35 MI DO AEROCLUBE FOI ILEGAL
Tudo teve início na gestão de Lidice da Mata para, dizem, apoiar a candidatura de Domingos Leonelli. Até hoje, o parque prometido à população não foi criado.
“A Prefeitura de Salvador perdoou uma dívida de cerca de R$ 35 milhões do Aeroclube em janeiro de 2007, contrariando avaliações de procuradores do município, como revelam documentos obtidos pelo Jornal A Tarde. O caso volta à tona depois que a prefeitura apresentou um projeto de construção de uma arena de shows no local, em janeiro deste ano, dentro do pacote chamado Salvador Capital Mundial, motivando protestos de associações de bairro e a interferência do Ministério Público (MP-BA). O órgão aponta irregularidades nas mudanças feitas ao contrato original. A dívida tributária teve início em janeiro de 2002, quando o consórcio deixou de pagar os tributos (uma mensalidade de R$ 100 mil).Em 2004, o consórcio apresentou à prefeitura um estudo, no qual argumenta ter obtido prejuízos de R$ 137 milhões, devido a um embargo inicial que a obra sofreu na Justiça e supostas modificações no contrato.O estudo alega que o município deveria ressarcir essa quantia e ingressa com ação judicial para anistiar a dívida. Respondendo à ação, o procurador municipal Almir Britto rebate os argumentos do consórcio. "Os danos materiais e morais alegados na petição inicial não decorreram de qualquer ato ou omissão do acionado (a prefeitura) ou de seus servidores; teriam sido provocados pela decisão judicial que embargou a execução das obras do Aeroclube", escreveu em documento de março de 2005. Já o embargo, justifica o procurador, ocorreu devido às empresas constituintes do consórcio "não terem obedecido às exigências do edital de licitação, do contrato de concessão e do projeto apresentado". Britto chega a dizer que os prejuízos "decorreram exclusivamente da má-administração". Bahia Noticias – 29/03/2010 Mandado por Rogério Horlle
Moral da história: depois o prefeito ainda vem choramingando que os cofres estão vazios, bancarrota da prefeitura etc. Algo está sendo mal contado, algo que cheira a podre.
Lembrando o passado...
Não sei por que absurda associação de idéia, me lembrei da Barbara Hutton, famosa americana herdeira do fundador do Woolworth. Tinha montanhas de dinheiro. Comprou palácios e amantes a quem oferecia Cartiers e Bugattis. Dava festas deslumbrantes onde vinha o jet set inteirinho do após-guerra. Apesar do Iguaçu bancário, morreu na miséria, alcoólatra e drogada, ajudada unicamente pelo ex-marido, o ator Cary Grant, o único que jamais se aproveitou dela. Não posso concordar com a leviandade de certas atitudes, mas gostaria, simplesmente, que o passado servisse de exemplo para que a história não se repita.
La vie en rose
A colônia francesa da Bahia está, finalmente, com representação ao nível de seus ideais. O novo cônsul honorário, Pierre Sabaté, não precisa do título para se promover, já que se trata de cientista de mérito reconhecido, e na Aliança Francesa, um dinamismo nunca dantes alcançado, graças ao novo diretor, Bruno Peyrrefitte. Oriundo de uma família de respeitados escritores e diplomatas, é bom comunicador e administrador cuidadoso. Enfim, o Café-Terrasse é, após anos de gestões fracassadas, o sucesso sócio-cultural do momento.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Epigrama...
Epigrama do verso hodierno
ou
Triste é o poeta que não sabe métrica
Bernardo Linhares
- Se eu não ganho de uma quadra,muito menos de um terceto,imagine de um soneto!Indolente não se enquadra:
Até curto, eu sou obeso!
O diabo que me livre!Tenho medo de ser preso,
verso fácil é o verso livre!!!
Não escondo o meu percurso;
minha pena é contrapeso
no vazio do meu discurso.
A Beleza, menosprezo.
Eu não sei nem redondilha.O soneto me humilha.
Meus lindos, só responderei - em verso hodierno - as mensagens formuladas em soneto.
Depois de reler Humberto de Campos e de ouvir Sylvinha Telles e Dick Farney, dormirei admirando a foto da mais encantadora Beleza viniciana da Bahia.
ESBOÇO PARA SONETO
Transformado em um mar de prantos,
um oceano claro e doce
seguia a sua viagem:
ao fitá-lo, ele espelhou-se
pra reter a tua imagem.
ou
Triste é o poeta que não sabe métrica
Bernardo Linhares
- Se eu não ganho de uma quadra,muito menos de um terceto,imagine de um soneto!Indolente não se enquadra:
Até curto, eu sou obeso!
O diabo que me livre!Tenho medo de ser preso,
verso fácil é o verso livre!!!
Não escondo o meu percurso;
minha pena é contrapeso
no vazio do meu discurso.
A Beleza, menosprezo.
Eu não sei nem redondilha.O soneto me humilha.
Meus lindos, só responderei - em verso hodierno - as mensagens formuladas em soneto.
Depois de reler Humberto de Campos e de ouvir Sylvinha Telles e Dick Farney, dormirei admirando a foto da mais encantadora Beleza viniciana da Bahia.
ESBOÇO PARA SONETO
Transformado em um mar de prantos,
um oceano claro e doce
seguia a sua viagem:
ao fitá-lo, ele espelhou-se
pra reter a tua imagem.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Uns segundos de alto astral!
11 emissoras de radio se uniram em São Paulo para na mesma hora soltar esta propaganda da Brastemp. . Vejam que mensagem alto astral para começar o dia.
http://www.youtube.com/watch?v=-Hc1kFvUTT4
http://www.youtube.com/watch?v=-Hc1kFvUTT4
terça-feira, 30 de novembro de 2010
O jornalismo desonesto e o "Crimo organizado"
Atualizado em 25/11/2010 – 14h29
O “Jornal da Globo” fechou com chave de ouro o dia de uma emissora empenhada em assustar e desinformar o público, enquanto outras emissoras e rádios acompanharam a tática do pânico. A velha técnica do “Mantenham a calma” seguido de imagens impactantes da violência no Rio de Janeiro é a melhor forma, do ponto de vista da cultura do medo que tenta se impor, de pôr em ação esse objetivo. É como você dizer “Fique à vontade” quando recebe alguém pouco conhecido em sua casa, provocando o efeito contrário. Neste caso é bem pior: trata-se do imaginário social de um conjunto de milhões de brasileiros que está em jogo. E neste caso há consequências políticas.
Não há dúvidas de que (1) o índice de criminalidade no Rio é muito alto, inaceitável, e que (2) a lógica que rege o projeto da polícia comunitária, que esse governo chama da “UPP” e que outros governos já tentaram com outros nomes, é um bom caminho, desde que proponha de fato a participação da comunidade no processo decisório e que seja mais amplo. Atualmente é um conjunto de projetos-piloto.
No entanto, estratégias diversas estão em jogo. A saber:
A. O Governo do Estado, principalmente por meio do governador Sergio Cabral, tenta capitalizar a crise politicamente. Aparece como o “líder destemido” que as pessoas assustadas das classes A e B exigem nessa hora. Ao mesmo tempo, desvia a atenção da plena incompetência do governo nas áreas de educação e saúde – incluindo a recente busca e apreensão na casa de Cesar Romero, o ex-subsecretário-executivo de Saúde, primo da mulher do secretário Sérgio Côrtes e braço direito dele na secretaria. A acusação: fraude em licitação ao contratar manutenção de ambulâncias superfaturada em mais de 1.000%;
B. Setores mais violentos da Polícia Militar – a banda podre que não quer saber de papo de UPP – ganham carta branca, por conta do clima de medo, para fazer suas velhas e conhecidas “incursões” nas favelas, a política burra do confronto com o “crime organizado”, vitimando cidadãos inocentes e realizando execuções sumárias de suspeitos. O Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, chama isso de “efeito colateral”, enquanto jornalistas passam uma coletiva de imprensa inteira perguntando apenas por “números” e trajetos da PM e do BOPE;
C. Os principais chefes da Polícia Militar do Rio de Janeiro e a Secretaria de Segurança Pública vendem a tese deplorável de que os atentados são uma “reação às políticas das UPPs”, e a velha mídia simplesmente engole. O curioso é que as UPPs estão presentes em 13 favelas, de um universo de 1.000 existentes no Rio e região metropolitana. Imagina quando chegarem a 20, 30! Melhor mudar para Miami de uma vez;
D. A mídia cria uma dinâmica do medo a partir de absurdos sociológicos, como afirmar que o “crime organizado” atual surgiu do encontro entre presos comuns e presos políticos nos anos 70 (tentando vincular militantes de esquerda a traficantes de drogas); separar a cidade em esquemas tipos “eles-nós”, como fez Arnaldo Jabor, ao afirmar que “é preciso apoio da população, principalmente da Zona Sul, pois a periferia já mora dentro da violência” (JG, 24/11/2010) e até mesmo mentir descaradamente, afirmando por exemplo que os “índices de criminalidade estão estagnados no Rio” (editorial de William Waack), o que é mentira, conforme atesta até mesmo um dos maiores críticos do Governo do Estado, o sociólogo Ignácio Cano. Pouco importa para o jornalismo desonesto: o que está em questão é reafirmar o discurso vazio do “A que ponto chegamos!” e o elogio ao “endurecimento” das leis e das ações vingativas, como forma de alívio do medo criado. Não adianta nada, conforme apontou este seminário (em especial a fala do Coordenador do Núcleo de Presos da Polinter no Estado do Rio de Janeiro, o delegado da Polícia Civil, Orlando Zaccone).
Os interesses, portanto, são complexos tal como os nossos problemas. A Zona Sul (parte dela, aquela à qual o Jabor se refere e da qual faz parte) está tão assustada que não consegue raciocinar. Milhares de pessoas são executadas todo ano no Rio de Janeiro, dados absolutamente grotescos. A cobertura é a mesma? Não. “As pessoas lidam com insegurança no Rio de forma cíclica e dramática. Para conviver com o alto nível de violência na cidade, tratam como se ela não existisse. Mas, então, surge um evento de grande repercussão e vira uma pauta central na cidade, todos discutem, é uma grande catarse”, aponta Ignácio Cano. “Sensação de segurança pública é muito diferente da efetiva segurança”, completa o deputado Marcelo Freixo.
Se fosse de fato uma preocupação, pararia para ler o relatório da CPI das Milícias, concluído no dia 10 de dezembro de 2008. Contém o mapa das milícias, seu funcionamento, seus braços econômicos, a relação do braço político com o braço econômico e o domínio de território. Enquanto as Nações Unidas calculam que o narcotráfico rende 200 mil dólares por minuto, só no domínio das vans no Rio de Janeiro, uma das milícias faturava 170 mil reais por dia. Este é apenas um exemplo.
Crime organizado, portanto, é isso: um negócio bem organizado. O que torna o crime “organizado” é sua capacidade de se organizar, e não de reagir violentamente. “Em qualquer lugar do mundo, o crime organizado está sempre dentro do Estado, e não fora”, aponta o deputado Marcelo Freixo, que relata sua dificuldade quando tentou instituir a referida CPI neste depoimento.
O pior é que o número de milícias é, hoje, maior do que em 2008. “O número de territórios dominados por milícias hoje é maior do que o número de territórios dominados pelo varejo da droga”, comenta Freixo. “Eu estranho o silêncio desse governo em relação às milícias, dizendo que o Rio está pacificado, diante do crescimento das milícias”.
E o poder público tampouco ajuda. O relatório foi entregue pelos membros da CPI nas mãos do prefeito Eduardo Paes. Solicitaram, por exemplo, que a licitação das vans fosse feita individualmente e não por cooperativas. “O prefeito acaba de fazer licitação por cooperativas e não individualmente”, denunciou Freixo.
Outro fator que aponta o descaso do poder público é o descaso com os serviços sociais que deveriam acompanhar o processo de “pacificação”. “Eu estive no Chapéu Mangueira e na Babilônia. Além da polícia, não há lá qualquer braço do Estado. A creche mal funciona, com o salário atrasado das professoras, o que a Prefeitura não assume. O posto de saúde não tem nenhum médico, nenhum dentista da rede pública do Estado. É mais uma vez a lógica exclusiva da polícia nas favelas – e somente a polícia”, afirmou. O projeto das UPPs está traçando um caminho bem delimitado: setor hoteleiro da Zona Sul, entorno do Maracanã, Zona Portuária e a Cidade de Deus, “única área dominada pelo tráfico em toda Jacarepaguá, que tem o domínio hegemônico das milícias”.
Danem-se as demais regiões que, como ressaltou Jabor, “já moram dentro da violência”.
Uma questão social, de classe
Para quem ainda acha que as questões de classe acabaram, basta comparar a forma como os diversos crimes em nossa sociedade são enfrentados. Para combater crimes financeiros (quando se combate), ninguém entra em agências bancárias rendendo as pessoas e atirando. Nas favelas, áreas com assentamentos humanos extremamente degradados, é diferente.
Um dos “efeitos colaterais”, na expressão de Beltrame, é a estudante Rosângela Alves, de 14 anos. Seu pai Roberto Alves, ironizou a presença dos policiais militares na unidade de saúde com aplausos: “Parabéns a vocês. Parabéns, Beltrame, parabéns, Cabral. Olha o que vocês conseguiram com isso! Matar uma menina que estava em casa! Sabe o que vocês conseguem com essas operações: matar pobres”. Sem conseguir sair de casa por causa do intenso tiroteio, a mãe da menina, Thereza Cristina Barbosa, acusou em relato ao jornal O Dia a polícia de ter disparado o tiro que matou sua filha. “O tiro que atingiu minha casa partiu de baixo para cima. Minha filha está morta, e eu sequer consigo velar o corpo dela”, lamentou ela, por telefone. (Leia aqui e aqui)
Como já apontei, o narcotráfico é um negócio como qualquer outro. E rende bastante: dados conservadores das Nações Unidas estimam que o rendimento líquido é de US$ 400 bilhões ano. Um “freela” para se queimar um carro custa entre R$ 200 e R$ 400. “Falo em ‘varejo de drogas’ na favela, e não de traficantes”, reafirma Freixo, apontando que a ponta do sistema – o 1% que está na favela – não tem projeto de poder e qualquer noção de organização criminal, como apontei. “Nunca participaram de juventude católica, de grêmio estudantil, nunca tiveram qualquer noção de coletividade. Sabe quantas escolas públicas existem no Complexo do Alemão? Duas”.
Conforme afirmou até mesmo um capitão e um dos fundadores do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) – um grupo de policiais fascistas que acreditam que executar sumariamente é uma prática normal, conforme não escondem mesmo em declarações públicas – em uma entrevista hoje (25/11) pela manhã na TV Record: “Os Batalhões da PM não possuem estrutura mínima de inteligência para operar”.
O deputado Marcelo Freixo deu uma entrevista nesta quinta-feira (25/11) na GloboNews afirmando o óbvio: o número de pessoas portando fuzis não chega a 1% dos moradores. Ele costuma ironizar: “Eu gostaria que no parlamento fosse a mesma coisa: menos de 1% envolvido com o crime. Infelizmente não é assim, mas na favela é”. A polícia tem que agir com responsabilidade diante destes cidadãos. Enquanto isso telespectadores igualmente fascistas comentam pela internet: “Tem que entrar mesmo e enfrentá-los”. De quem estamos falando?
Freixo, focado na solução do problema, lembra: “Armas não são produzidas nas favelas. Eles vieram de algum lugar. Quantas ações policiais foram feitas na Baía de Guanabara? Quantas foram realizadas no Porto? Eu não me lembro de nenhuma”. É uma constatação que deixa todos os “notáveis” comentadores políticos envergonhados, pois só sabem falar abobrinhas sobre a “coragem” dos policiais em “enfrentar” o crime organizado. Estão focados na política burra do confronto.
Freixo lembrou ainda, na entrevista de hoje, que essas áreas pertencem ao tráfico de drogas. A área das milícias, conforme descrito anteriormente neste artigo, não foram tocadas – e tão somente por isso não estão reagindo. “Vamos lembrar que esses eventos já aconteceram próximo ao réveillon de 2006. O problema não é esse. A questão é que o setor de inteligência no Rio de Janeiro é muito falho. Para constatar isso basta visitar a DRACO [Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil do Rio de Janeiro]”, concluiu Freixo.
Agora, muito pertinentemente alguém poderia se perguntar: e os movimentos sociais nisso tudo? Eles não possuem meios para se comunicar, portanto não fazem parte do cenário político. É tão simples quanto é trágico.
_____________________________________________
(*) Gustavo Barreto, jornalista. Contato pelo @gustavobarreto_. Atualizado em 25/11/2010 – 14h29
O “Jornal da Globo” fechou com chave de ouro o dia de uma emissora empenhada em assustar e desinformar o público, enquanto outras emissoras e rádios acompanharam a tática do pânico. A velha técnica do “Mantenham a calma” seguido de imagens impactantes da violência no Rio de Janeiro é a melhor forma, do ponto de vista da cultura do medo que tenta se impor, de pôr em ação esse objetivo. É como você dizer “Fique à vontade” quando recebe alguém pouco conhecido em sua casa, provocando o efeito contrário. Neste caso é bem pior: trata-se do imaginário social de um conjunto de milhões de brasileiros que está em jogo. E neste caso há consequências políticas.
Não há dúvidas de que (1) o índice de criminalidade no Rio é muito alto, inaceitável, e que (2) a lógica que rege o projeto da polícia comunitária, que esse governo chama da “UPP” e que outros governos já tentaram com outros nomes, é um bom caminho, desde que proponha de fato a participação da comunidade no processo decisório e que seja mais amplo. Atualmente é um conjunto de projetos-piloto.
No entanto, estratégias diversas estão em jogo. A saber:
A. O Governo do Estado, principalmente por meio do governador Sergio Cabral, tenta capitalizar a crise politicamente. Aparece como o “líder destemido” que as pessoas assustadas das classes A e B exigem nessa hora. Ao mesmo tempo, desvia a atenção da plena incompetência do governo nas áreas de educação e saúde – incluindo a recente busca e apreensão na casa de Cesar Romero, o ex-subsecretário-executivo de Saúde, primo da mulher do secretário Sérgio Côrtes e braço direito dele na secretaria. A acusação: fraude em licitação ao contratar manutenção de ambulâncias superfaturada em mais de 1.000%;
B. Setores mais violentos da Polícia Militar – a banda podre que não quer saber de papo de UPP – ganham carta branca, por conta do clima de medo, para fazer suas velhas e conhecidas “incursões” nas favelas, a política burra do confronto com o “crime organizado”, vitimando cidadãos inocentes e realizando execuções sumárias de suspeitos. O Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, chama isso de “efeito colateral”, enquanto jornalistas passam uma coletiva de imprensa inteira perguntando apenas por “números” e trajetos da PM e do BOPE;
C. Os principais chefes da Polícia Militar do Rio de Janeiro e a Secretaria de Segurança Pública vendem a tese deplorável de que os atentados são uma “reação às políticas das UPPs”, e a velha mídia simplesmente engole. O curioso é que as UPPs estão presentes em 13 favelas, de um universo de 1.000 existentes no Rio e região metropolitana. Imagina quando chegarem a 20, 30! Melhor mudar para Miami de uma vez;
D. A mídia cria uma dinâmica do medo a partir de absurdos sociológicos, como afirmar que o “crime organizado” atual surgiu do encontro entre presos comuns e presos políticos nos anos 70 (tentando vincular militantes de esquerda a traficantes de drogas); separar a cidade em esquemas tipos “eles-nós”, como fez Arnaldo Jabor, ao afirmar que “é preciso apoio da população, principalmente da Zona Sul, pois a periferia já mora dentro da violência” (JG, 24/11/2010) e até mesmo mentir descaradamente, afirmando por exemplo que os “índices de criminalidade estão estagnados no Rio” (editorial de William Waack), o que é mentira, conforme atesta até mesmo um dos maiores críticos do Governo do Estado, o sociólogo Ignácio Cano. Pouco importa para o jornalismo desonesto: o que está em questão é reafirmar o discurso vazio do “A que ponto chegamos!” e o elogio ao “endurecimento” das leis e das ações vingativas, como forma de alívio do medo criado. Não adianta nada, conforme apontou este seminário (em especial a fala do Coordenador do Núcleo de Presos da Polinter no Estado do Rio de Janeiro, o delegado da Polícia Civil, Orlando Zaccone).
Os interesses, portanto, são complexos tal como os nossos problemas. A Zona Sul (parte dela, aquela à qual o Jabor se refere e da qual faz parte) está tão assustada que não consegue raciocinar. Milhares de pessoas são executadas todo ano no Rio de Janeiro, dados absolutamente grotescos. A cobertura é a mesma? Não. “As pessoas lidam com insegurança no Rio de forma cíclica e dramática. Para conviver com o alto nível de violência na cidade, tratam como se ela não existisse. Mas, então, surge um evento de grande repercussão e vira uma pauta central na cidade, todos discutem, é uma grande catarse”, aponta Ignácio Cano. “Sensação de segurança pública é muito diferente da efetiva segurança”, completa o deputado Marcelo Freixo.
Se fosse de fato uma preocupação, pararia para ler o relatório da CPI das Milícias, concluído no dia 10 de dezembro de 2008. Contém o mapa das milícias, seu funcionamento, seus braços econômicos, a relação do braço político com o braço econômico e o domínio de território. Enquanto as Nações Unidas calculam que o narcotráfico rende 200 mil dólares por minuto, só no domínio das vans no Rio de Janeiro, uma das milícias faturava 170 mil reais por dia. Este é apenas um exemplo.
Crime organizado, portanto, é isso: um negócio bem organizado. O que torna o crime “organizado” é sua capacidade de se organizar, e não de reagir violentamente. “Em qualquer lugar do mundo, o crime organizado está sempre dentro do Estado, e não fora”, aponta o deputado Marcelo Freixo, que relata sua dificuldade quando tentou instituir a referida CPI neste depoimento.
O pior é que o número de milícias é, hoje, maior do que em 2008. “O número de territórios dominados por milícias hoje é maior do que o número de territórios dominados pelo varejo da droga”, comenta Freixo. “Eu estranho o silêncio desse governo em relação às milícias, dizendo que o Rio está pacificado, diante do crescimento das milícias”.
E o poder público tampouco ajuda. O relatório foi entregue pelos membros da CPI nas mãos do prefeito Eduardo Paes. Solicitaram, por exemplo, que a licitação das vans fosse feita individualmente e não por cooperativas. “O prefeito acaba de fazer licitação por cooperativas e não individualmente”, denunciou Freixo.
Outro fator que aponta o descaso do poder público é o descaso com os serviços sociais que deveriam acompanhar o processo de “pacificação”. “Eu estive no Chapéu Mangueira e na Babilônia. Além da polícia, não há lá qualquer braço do Estado. A creche mal funciona, com o salário atrasado das professoras, o que a Prefeitura não assume. O posto de saúde não tem nenhum médico, nenhum dentista da rede pública do Estado. É mais uma vez a lógica exclusiva da polícia nas favelas – e somente a polícia”, afirmou. O projeto das UPPs está traçando um caminho bem delimitado: setor hoteleiro da Zona Sul, entorno do Maracanã, Zona Portuária e a Cidade de Deus, “única área dominada pelo tráfico em toda Jacarepaguá, que tem o domínio hegemônico das milícias”.
Danem-se as demais regiões que, como ressaltou Jabor, “já moram dentro da violência”.
Uma questão social, de classe
Para quem ainda acha que as questões de classe acabaram, basta comparar a forma como os diversos crimes em nossa sociedade são enfrentados. Para combater crimes financeiros (quando se combate), ninguém entra em agências bancárias rendendo as pessoas e atirando. Nas favelas, áreas com assentamentos humanos extremamente degradados, é diferente.
Um dos “efeitos colaterais”, na expressão de Beltrame, é a estudante Rosângela Alves, de 14 anos. Seu pai Roberto Alves, ironizou a presença dos policiais militares na unidade de saúde com aplausos: “Parabéns a vocês. Parabéns, Beltrame, parabéns, Cabral. Olha o que vocês conseguiram com isso! Matar uma menina que estava em casa! Sabe o que vocês conseguem com essas operações: matar pobres”. Sem conseguir sair de casa por causa do intenso tiroteio, a mãe da menina, Thereza Cristina Barbosa, acusou em relato ao jornal O Dia a polícia de ter disparado o tiro que matou sua filha. “O tiro que atingiu minha casa partiu de baixo para cima. Minha filha está morta, e eu sequer consigo velar o corpo dela”, lamentou ela, por telefone. (Leia aqui e aqui)
Como já apontei, o narcotráfico é um negócio como qualquer outro. E rende bastante: dados conservadores das Nações Unidas estimam que o rendimento líquido é de US$ 400 bilhões ano. Um “freela” para se queimar um carro custa entre R$ 200 e R$ 400. “Falo em ‘varejo de drogas’ na favela, e não de traficantes”, reafirma Freixo, apontando que a ponta do sistema – o 1% que está na favela – não tem projeto de poder e qualquer noção de organização criminal, como apontei. “Nunca participaram de juventude católica, de grêmio estudantil, nunca tiveram qualquer noção de coletividade. Sabe quantas escolas públicas existem no Complexo do Alemão? Duas”.
Conforme afirmou até mesmo um capitão e um dos fundadores do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) – um grupo de policiais fascistas que acreditam que executar sumariamente é uma prática normal, conforme não escondem mesmo em declarações públicas – em uma entrevista hoje (25/11) pela manhã na TV Record: “Os Batalhões da PM não possuem estrutura mínima de inteligência para operar”.
O deputado Marcelo Freixo deu uma entrevista nesta quinta-feira (25/11) na GloboNews afirmando o óbvio: o número de pessoas portando fuzis não chega a 1% dos moradores. Ele costuma ironizar: “Eu gostaria que no parlamento fosse a mesma coisa: menos de 1% envolvido com o crime. Infelizmente não é assim, mas na favela é”. A polícia tem que agir com responsabilidade diante destes cidadãos. Enquanto isso telespectadores igualmente fascistas comentam pela internet: “Tem que entrar mesmo e enfrentá-los”. De quem estamos falando?
Freixo, focado na solução do problema, lembra: “Armas não são produzidas nas favelas. Eles vieram de algum lugar. Quantas ações policiais foram feitas na Baía de Guanabara? Quantas foram realizadas no Porto? Eu não me lembro de nenhuma”. É uma constatação que deixa todos os “notáveis” comentadores políticos envergonhados, pois só sabem falar abobrinhas sobre a “coragem” dos policiais em “enfrentar” o crime organizado. Estão focados na política burra do confronto.
Freixo lembrou ainda, na entrevista de hoje, que essas áreas pertencem ao tráfico de drogas. A área das milícias, conforme descrito anteriormente neste artigo, não foram tocadas – e tão somente por isso não estão reagindo. “Vamos lembrar que esses eventos já aconteceram próximo ao réveillon de 2006. O problema não é esse. A questão é que o setor de inteligência no Rio de Janeiro é muito falho. Para constatar isso basta visitar a DRACO [Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil do Rio de Janeiro]”, concluiu Freixo.
Agora, muito pertinentemente alguém poderia se perguntar: e os movimentos sociais nisso tudo? Eles não possuem meios para se comunicar, portanto não fazem parte do cenário político. É tão simples quanto é trágico.
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(*) Gustavo Barreto, jornalista. Contato pelo @gustavobarreto_. Atualizado em 25/11/2010 – 14h29
A Casa das Muitas Mortes
Durante quase quinze anos morei numa agradável cobertura da Rua do Passo. Pouco tempo depois de me mudar para o Boqueirão, o Ipac convencia os donos do imóvel a confiar-lhe a restauração. Mais de vinte anos se passaram. Hoje o 28 é uma triste ruína. Poucos metros abaixo, conheci a Casa das Sete Mortes com vida “napolitana”. Todas as salas, todos os quartos eram habitados. Por gente modesta, mas habitados. Com freqüência levava amigos visitantes para admirar “o edifício de notável mérito arquitetônico” conforme definição do Inventário do mesmo Ipac. Veio o tsunami da renovação do centro histórico, anos 90, e com ele o casarão foi prontamente desocupado. Entraria então em lenta decadência sob a silenciosa omissão dos donos, os Órfãos de São Joaquim. Durante estes anos, o meio-portão de ferro trabalhado da entrada foi roubado. Grande parte dos azulejos do século XVII foi arrancada, assim como muitos da fachada, com total conhecimento e incúria do Ipac. Roubadas também as belas portas do oratório embutido na parede do salão nobre. Nem o banheiro seria poupado. Decorado com farto embrechamento de conchas, fora impiedosamente quebrado. Por várias vezes reclamei. Em vão. A indiferença dos órgãos “competentes” provou que, mais uma vez, a arrogante burocracia tem nos três macacos seu símbolo mor.
Dia desses, passando pela porta aberta, resolvi entrar. Ninguém na portaria, ninguém nas salas do térreo, a não ser uma possível reunião de trabalho numa sala perto da antiga cozinha. Subi pela ampla escada sem ser incomodado, visitei cada sala, constatando a intenção de se transformar a casa em escola ou centro de reuniões. Tudo restaurado com charme discretíssimo de repartição pública, incluindo uma agressiva e horrenda rampa para deficientes e a complementação dos azulejos da fachada com outros, de cor incompreensivelmente diferenciada. Efeito confuso e deprimente de mau acabamento. Do constrangedor jardim, nem falarei. Desde aquele dia, a Casa das Sete Mortes continua fechada. Terá o mesmo destino que o cinema Excelsior?
Salvador, 27 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A guerra termina em samba
Inevitável. A cobertura da invasão do conjunto de favelas no Rio de Janeiro onde supostamente se escondiam os chefões do tráfico se transformou em uma guerra particular da imprensa contra os fatos.
O anunciado confronto não aconteceu. Assustados com o aparado de guerra montado pelo governo, os criminosos fugiram para o labirinto chamado de Complexo do Alemão e acabaram se entregando ou fugiram, após uma reunião com ativistas de uma organização não governamental especializada em negociação.
As revistas semanais de informação ficaram no meio do caminho. Na sexta-feira, quando suas edições saíam às ruas, as tropas oficiais ainda se posicionavam para cercar as centenas de bandidos que haviam fugido do ataque à favela de Vila Cruzeiro. O tom das reportagens ainda apostava na possibilidade de uma batalha sangrenta, embora as autoridades tivessem dado claros sinais de que estavam dispostas e sitiar o local por
muito tempo, para evitar o derramamento de sangue e a morte de civis inocentes.
Epílogo frustrante
A revista Veja enxergou "tintas de Armagedon" naquilo que chamou de "batalha do bem contra o mal". Mas o apocalipse simplesmente não aconteceu e o poderoso negócio do narcotráfico perdeu apenas uma batalha.
Os repórteres reproduziam a expectativa de militares e agentes policiais, muitos dos quais ansiavam pela oportunidade de produzir um "extermínio" de traficantes. Calculava-se em mais de 1.500 os criminosos escondidos no Complexo do Alemão, muitos deles equipados com armas poderosas. Mas as autoridades, que têm a responsabilidade política pela ação policial estavam preocupadas em evitar derramamento de sangue e reduzir o risco de morte de civis inocentes.
A imprensa amanheceu na segunda-feira (29/11) celebrando uma vitória que ainda não houve. Foram apenas vinte os presos, a maioria jovens encarregados de funções menos importantes nas organizações criminosas. Nenhum sinal dos chamados chefões e, mesmo estes, são, quando muito, apenas gerentes de pontos de venda de droga.
As toneladas de maconha apreendidas fazem parte da encenação de um epílogo frustrante. Mas o noticiário dá a impressão de que tudo está resolvido.
Apenas figurantes
O tom da imprensa é triunfal. O Globo esquece o manual de redação e sai com cara de panfleto. "A senhora liberdade abre as asas sobre nós", diz a manchete do caderno especial sobre a operação de guerra, usando versos do samba de Nei Lopes e Wilson Moreira que já havia embalado o movimento pela volta das eleições diretas há vinte anos.
O jornal carioca chama de "libertação histórica" a fuga dos criminosos que havia décadas dominavam aquelas comunidades. Mas aquilo que foi descrito como uma vitória fulminante do Estado contra o governo paralelo do crime ainda não oferece garantias de que o problema está solucionado.
Na manhã de segunda-feira (29), o noticiário online dava informações sobre planos de ocupação também das favelas da Rocinha e do Vidigal, duas imensas áreas, na zona Sul do Rio, onde os traficantes ainda agiam à vontade no fim de semana. Ali a polícia vai enfrentar mais do que criminosos armados. Vai combater também a associação do narcotráfico com clientes influentes, entre os quais certamente há jornalistas e outras celebridades.
Diferentemente do que diz a imprensa, não se trata de uma operação para aniquilar o narcotráfico. Trata-se de uma guerra para a retomada de territórios e, assim, assegurar o bom andamento dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014. O que não é pouco.
Os benefícios para os moradores das comunidades pobres dominadas por bandos de criminosos são inegáveis, mas é preciso observar que a questão do tráfico de drogas é muito mais complexa. Ao se concentrar na cobertura do ambiente de guerra, a imprensa deixa de lado o ambiente de negócios da droga, por exemplo.
Apenas vinte presos, e entre eles nenhum personagem importante, é um balanço pífio demais para tanto aparato militar. Os jornais deveriam estar questionando onde foram parar os chefões que supostamente se escondiam no Complexo do Alemão.
Mais do que isso, já é mais do que tempo de a imprensa investigar onde estão os acionistas do tráfico, os financiadores que não aparecem no noticiário policial.
"O Rio mostrou que é possível", diz a mancherte principal do Globo. Os fatos ainda precisam demonstrar que o Rio quer realmente acabar com o narcotráfico.
Por Luciano Martins Costa em 29/11/2010
Comentário para o programa radiofônico do OI, 29/11/2010
O anunciado confronto não aconteceu. Assustados com o aparado de guerra montado pelo governo, os criminosos fugiram para o labirinto chamado de Complexo do Alemão e acabaram se entregando ou fugiram, após uma reunião com ativistas de uma organização não governamental especializada em negociação.
As revistas semanais de informação ficaram no meio do caminho. Na sexta-feira, quando suas edições saíam às ruas, as tropas oficiais ainda se posicionavam para cercar as centenas de bandidos que haviam fugido do ataque à favela de Vila Cruzeiro. O tom das reportagens ainda apostava na possibilidade de uma batalha sangrenta, embora as autoridades tivessem dado claros sinais de que estavam dispostas e sitiar o local por
muito tempo, para evitar o derramamento de sangue e a morte de civis inocentes.
Epílogo frustrante
A revista Veja enxergou "tintas de Armagedon" naquilo que chamou de "batalha do bem contra o mal". Mas o apocalipse simplesmente não aconteceu e o poderoso negócio do narcotráfico perdeu apenas uma batalha.
Os repórteres reproduziam a expectativa de militares e agentes policiais, muitos dos quais ansiavam pela oportunidade de produzir um "extermínio" de traficantes. Calculava-se em mais de 1.500 os criminosos escondidos no Complexo do Alemão, muitos deles equipados com armas poderosas. Mas as autoridades, que têm a responsabilidade política pela ação policial estavam preocupadas em evitar derramamento de sangue e reduzir o risco de morte de civis inocentes.
A imprensa amanheceu na segunda-feira (29/11) celebrando uma vitória que ainda não houve. Foram apenas vinte os presos, a maioria jovens encarregados de funções menos importantes nas organizações criminosas. Nenhum sinal dos chamados chefões e, mesmo estes, são, quando muito, apenas gerentes de pontos de venda de droga.
As toneladas de maconha apreendidas fazem parte da encenação de um epílogo frustrante. Mas o noticiário dá a impressão de que tudo está resolvido.
Apenas figurantes
O tom da imprensa é triunfal. O Globo esquece o manual de redação e sai com cara de panfleto. "A senhora liberdade abre as asas sobre nós", diz a manchete do caderno especial sobre a operação de guerra, usando versos do samba de Nei Lopes e Wilson Moreira que já havia embalado o movimento pela volta das eleições diretas há vinte anos.
O jornal carioca chama de "libertação histórica" a fuga dos criminosos que havia décadas dominavam aquelas comunidades. Mas aquilo que foi descrito como uma vitória fulminante do Estado contra o governo paralelo do crime ainda não oferece garantias de que o problema está solucionado.
Na manhã de segunda-feira (29), o noticiário online dava informações sobre planos de ocupação também das favelas da Rocinha e do Vidigal, duas imensas áreas, na zona Sul do Rio, onde os traficantes ainda agiam à vontade no fim de semana. Ali a polícia vai enfrentar mais do que criminosos armados. Vai combater também a associação do narcotráfico com clientes influentes, entre os quais certamente há jornalistas e outras celebridades.
Diferentemente do que diz a imprensa, não se trata de uma operação para aniquilar o narcotráfico. Trata-se de uma guerra para a retomada de territórios e, assim, assegurar o bom andamento dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014. O que não é pouco.
Os benefícios para os moradores das comunidades pobres dominadas por bandos de criminosos são inegáveis, mas é preciso observar que a questão do tráfico de drogas é muito mais complexa. Ao se concentrar na cobertura do ambiente de guerra, a imprensa deixa de lado o ambiente de negócios da droga, por exemplo.
Apenas vinte presos, e entre eles nenhum personagem importante, é um balanço pífio demais para tanto aparato militar. Os jornais deveriam estar questionando onde foram parar os chefões que supostamente se escondiam no Complexo do Alemão.
Mais do que isso, já é mais do que tempo de a imprensa investigar onde estão os acionistas do tráfico, os financiadores que não aparecem no noticiário policial.
"O Rio mostrou que é possível", diz a mancherte principal do Globo. Os fatos ainda precisam demonstrar que o Rio quer realmente acabar com o narcotráfico.
Por Luciano Martins Costa em 29/11/2010
Comentário para o programa radiofônico do OI, 29/11/2010
A crise no Rio e o pastiche midiático
Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu--, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão-- quanto os jornalistas.
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:
(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.
(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?
(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises.
Na crise, as perguntas recorrentes são:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência?
(b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
(c) Por que o governo não chama o Exército?
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insust
entável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.
Luiz Eduardo Soares
25/11/2010
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:
(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.
(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?
(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises.
Na crise, as perguntas recorrentes são:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência?
(b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
(c) Por que o governo não chama o Exército?
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insust
entável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.
Luiz Eduardo Soares
25/11/2010
domingo, 28 de novembro de 2010
Fatalismo Piorado (Malu Fontes)
Às imagens espetaculares e hollywoodianas de automóveis e ônibus incendiados sob as ordens dos traficantes, no Rio de Janeiro, somaram-se o assombro causado pelo assassinato bárbaro de duas meninas em Salvador, de 13 e 16 anos, e pela morte, causada por uma bala perdida deflagrada pela Polícia, do garoto Joel Castro, 10 anos, atingido na cabeça quando se preparava para dormir, em casa, no Nordeste de Amaralina, Salvador.
O inimigo agora é o mesmo
O governador do Rio declarou que os traficantes estão desesperados. Enquanto isso, o porta-voz da Polícia Militar orientava a população a manter a calma durante os ataques da bandidagem, explicando que é melhor perder o patrimônio do que a vida. E assim, com os bandidos em pânico e a população em paz, o Rio de Janeiro e o Brasil celebrarão mais uma vitória dos seus Napoleões de hospício contra o crime.
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