quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

DEBOCHOU DO VITÓRIA

O jornal do asterisco debocha do Vitória

(Por Marcelo Torres) 

O Correio-asterisco, jornal baiano fundado por ACM, publicou na capa da última quarta-feira a manchete “Vice de novo”, referindo-se ao 2º lugar obtido pelo Vitória na Copa do Brasil de Futebol Sub-20.

O clube baiano perdeu o título para o atual campeão brasileiro da categoria, o Inter de Porto Alegre. Mas se o Vitória nunca havia sido vice antes (ao contrário, lutava pelo bicampeonato), por que “Vice de novo”? 

No fundo, o jornal – tal qual um torcedor arquirrival – quer é zombar de todo e qualquer 2º lugar obtido pela instituição Vitória, seja em qualquer modalidade: futebol, remo, boliche, peteca, palitinho ou cuspe à distância.

A questão, aqui, é esta: se um clube de fora de SP/RJ/MG/RJ, fora, portanto do G12, os 12 mais ricos do país, vira vice-campeão de uma competição nacional, este 2º lugar é um mérito ou demérito? Deve ser tripudiado ou celebrado?

Qual a angulação que um veículo de comunicação deve dar à matéria? Mais ainda: que tratamento se espera de um jornal que é da mesma cidade desse clube? Zombar e tratar como fracasso ou valorizar como um feito meritório?  

Não é a primeira vez que o jornal do asterisco age como um torcedor do Bahia, debochando e tripudiando do Vitória, querendo transformar o mérito em demérito e mostrar um feito como se fosse um completo fracasso.

Em 2010, quando o time profissional do Vitória perdeu a final da Copa do Brasil para o Santos de Neymar, Robinho e Ganso, o jornal baiano publicou na capa apenas uma palavra em letras garrafais: “Vice”.

É curioso isso, pois em qualquer parte do mundo a imprensa esportiva local torce a favor dos clubes de sua “aldeia”, do seu estado, do seu país - quando em competições nacionais e internacionais.  

A própria imprensa brasileira torce pelo sucesso dos clubes nacionais na Taça Libertadores, na Copa Sul-Americana e no Mundial Interclubes, bem como da Seleção Brasileira – de futebol, de vôlei, de basquete, do que for.

Nos outros países não é diferente. A imprensa de Munique torce pelo Bayern e pela seleção alemã. A imprensa de Barcelona é a favor do clube da cidade nas competições espanholas, europeias e mundiais.

Veja-se o exemplo do Cruzeiro de Belo Horizonte: por duas vezes foi vice-campeão mundial. Em 1976 perdeu para o Bayern de Munique e, em 1997, para o Borussia Dortmund (ambos da Alemanha).  

A segunda derrota da Raposa naturalmente deixou atleticanos felicíssimos, fazendo piadas sobre o arquirrival. Mas nenhum jornal mineiro colocou o clube do estado como “vice de novo”.

Em Minas Gerais, a imprensa esportiva torce pelo sucesso de Atlético e Cruzeiro. No Rio Grande do Sul, eles exaltam o Inter e o Grêmio. E assim ocorre em SC, no PR, em GO, em PE, no RJ, em SP...

Quanto às rivalidades locais, os jornais buscam ficar neutros, não reproduzindo gritos de arquibancadas, que quase sempre são discursos alimentados pela cultura do ódio e do preconceito.

Que jornal paulistano, por exemplo, seria capaz de publicar em manchete – na capa ou em qualquer página interna – alguma das frases homofóbicas que corintianos e palmeirenses fazem com são-paulinos?

Em 1999, o Palmeiras disputou a final do mundial e perdeu para o Manchester United. No dia seguinte a Folha de São Paulo não publicou as frases que eram ditas pelos corintianos: “Chupa, Porco Vice!”

Em 1998 o Vasco foi ao Japão disputar o maior título de sua história – o mundial interclubes -, e perdeu para o Real Madrid. Nenhum jornal publicou a gozação flamenguista - “Vice de novo” – e nem era para publicar.

O Goiás e a Ponte Preta foram vice-campeões da Copa Sul-Americana, em 2010 e 2013, respectivamente. Não se viu nenhum jornal de Goiânia ou de Campinas publicar algum deboche em manchetes de primeira página.

Na Bahia, um jornal zomba sistematicamente do Vitória quando este fica em segundo lugar, mesmo quando se trata de feito inédito entre clubes baianos.

Em agosto de 2010, o Vitória, após uma campanha surpreendente, vencendo todos os jogos em seu estádio, perdeu o título da Copa do Brasil - nos critérios de desempate - para a poderosa equipe do Santos.

Tratava-se de um mérito e não de demérito, tendo em vista que, apesar de ser um clube com receitas financeiras muito abaixo do G12, chegou à frente de 11 dos 12 clubes mais ricos do país.  

No dia seguinte da decisão (05/08/2010), a crônica esportiva do país (Globo, SporTV, Folha, Estadão, ESPN) reconheceu o mérito do Vitória e elogiou a campanha do clube, enfatizando a sua força no Barradão.

O jornal do asterisco, porém, em cuja redação a maioria era notoriamente torcedora do arquirrival Bahia, dedicou uma capa inteira ao escudo do Vitória, com uma lágrima em forma de estrela e a palavra “vice”.

Ou seja, em vez de enaltecer o feito do clube do estado, como fizeram e fazem os demais veículos, o jornal optou por reproduzir a galhofa do torcedor do rival, como a tripudiar do clube e depreciar um feito.

Enquanto o jornal do asterisco repetia a zombaria de torcedores arquirrivais, Lédio Carmona, comentarista do SporTV, escreveu “Dois gigantes, um campeão”, chamando o Vitória de “estupendo”, entre outros elogios.

O Correio tentou justificar o injustificável alegando que a referida capa era apenas a reprodução do “espírito irreverente dos baianos”.

Pois então chegou 25 de janeiro de 2011 e o jornal teve uma oportunidade de mostrar coerência e fazer outra capa “irreverente” quando o arquirrival Bahia, no dia anterior, tornara-se vice-campeão da Copa São Paulo de Júniores.

Neste caso, porém, em vez da tal “irreverência”, o jornal optou pela reverência ao vice, exaltando o feito. Manchete: “Com um a menos, Bahia perde para Flamengo e é vice da Copinha”. Clique aqui para ler

Ou seja, usou dois pesos e duas medidas: por um lado o vice do Vitória na Copa do Brasil 2010 foi tratado com deboche; por outro, o vice do Bahia na Copa SP de 2011 foi tratado como um feito heroico.

A linha editorial do jornal, apesar de ter trocado o nome “da Bahia” por um asterisco, jamais primou pela irreverência em qualquer manchete, de qualquer editoria, em qualquer tempo, sobre qualquer assunto.

Quantas manchetes de humor, por exemplo, poderiam ser feitas sobre a controversa figura de Antônio Carlos Magalhães? Que ótima capa não daria aquele escândalo dos grampos que ele montou contra seus adversários?

Manchete: “Malvadeza grampeia meia-Bahia”.

Quando o antigo dono do asterisco teve que renunciar ao mandato de senador para não ser cassado, por ter violado o painel de votação do Senado, isso daria uma manchete: “Com Malvadeza não tem sigilo certo”.

Mas o jornal do asterisco sempre foi parcialíssimo, nascido à imagem e semelhança do seu criador, o coronel que matou e enterrou o Jornal da Bahia e o Diário de Notícias, e ainda quebrou a Tribuna da Bahia e A Tarde.

Na Bahia, há décadas as pessoas minimamente informadas já sabiam que esse panfleto sempre foi um Diário Oficial, em cuja sede funcionava o escritório político do poderoso chefão.  

Por muito tempo, as torneiras do dinheiro público, que eram ilegalmente fechadas para A Tarde - o então líder em vendas - eram vergonhosamente abertas para o jornal do asterisco, que era o “vice” à época. 

Por décadas, o diário sobreviveu graças a verbas do governo estadual e da prefeitura de Salvador, além de “ajudas” de 300 prefeituras, coagidas a fazer assinaturas ou anúncios (num jornal que ninguém lia).

Esta é a história do diário do asterisco...

Ironia das ironias é que o poderoso chefão era torcedor do Vitória (porque um clube tem torcedor de todo tipo). Se vivo fosse, porém, difícil imaginar que alguém ali tivesse coragem de publicar essas zombarias.

Quando se vê essa obsessão do jornal, fico a imaginar se eles fossem por 27 anos o líder no estado, cinco vezes líder no Nordeste, segundo em dois outros anos, além de, por algumas vezes, ser o segundo melhor do Brasil...

Com certeza, seria um jornal de nome e respeito, seria maior e teria mais valor.
Não seria o que é hoje: um jornal menor - no tamanho, na postura, no valor. Um jornal pequeno e vendido a 1 real (uma nica) .

Sabe-se que asterisco é um sinal gráfico de nota de rodapé, também usado no campeonato brasileiro para times que perdem pontos. É emblemático que eles tenham no nome e na marca um asterisco.

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