O que George Hilton fará
no Ministério do Esporte?
George Hilton na Câmara: pastor da Universal e estrela do baixo clero, ele é o novo ministro do Esporte (Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados)
A nomeação do deputado federal George Hilton (PRB-MG) para o Ministério do Esporte é um choque para o mundo esportivo. Não que Aldo Rebelo (PCdoB) – negador do aquecimento global agora à frente da pasta de Ciência e Tecnologia – e seus comentários ufanistas deixem saudade, mas a escolha de uma figura inexpressiva em um momento crucial como este impressiona.
Não há como negar que o cargo de ministro é eminentemente político. No Brasil, e em dezenas de outros países democráticos, é por meio de nomeações ao gabinete que o chefe de governo reforça suas alianças. Não necessariamente essa prática é um desastre. José Serra (PSDB) foi ministro da Saúde sem ter muita intimidade com a área e fez uma gestão até hoje elogiada.
O ministério é, também, uma maneira de criar novos quadros políticos. Fernando Haddad (PT) se tornou prefeito de São Paulo após ser alçado ao Ministério da Educação na “cota técnica” de Lula e fazer uma gestão também elogiada (retroativamente por alguns setores, no entanto).
Mesmo diante da necessidade de compor a coalizão, todo chefe de governo reserva algumas pastas que considera mais relevantes aos técnicos ou a políticos com intrínseca, e saudável, ligação com determinado setor. Essas pastas escolhidas, imagina-se, são as bases por meio das quais o governo lançará seu legado para o futuro.
Aqui, a nomeação de George Hilton por Dilma Rousseff (PT) escancara a importância que ela dá ao esporte: pouquíssima, ou nenhuma.
Uma das missões da pasta que Hilton comandará é democratizar e universalizar a prática esportiva. Não se sabe, no entanto, quais são os preceitos que o novo ministro vai aplicar nesses projetos. Teremos um esporte dedicado a ser mecanismo de ampliação da diversidade e redução da intolerância ou um influenciado pela visão religiosa do pastor Hilton e de sua Igreja Universal do Reino de Deus? O programa Segundo Tempo na Escola, por exemplo, tem como um de seus objetivos minimizar “qualquer tipo de discriminação” na prática esportiva. Hilton levará esse programa à frente sem se deixar influenciar por seu credo religioso? O Ministério do Esporte também apoia a realização dos Jogos dos Povos Indígenas. Como será a relação deste evento com um evangélico de denominação conhecida pelo proselitismo entre comunidades indígenas comandando a pasta?
Para o esporte de alto rendimento, outra missão do ministério, a nomeação de Hilton também é problemática. O Brasil vive um momento decisivo, com a realização da Copa do Mundo e, em especial, dos Jogos Olímpicos de 2016. Atletas e ex-atletas estão tentando se mobilizar para lutar contra as velhas estruturas formadas pelas federações regionais e confederações nacionais que fazem dos esportes no Brasil feudos improdutivos e antros de corrupção. O Bom Senso F.C. e o Atletas pelo Brasil são dois grupos conhecidos, mas outras associações podem surgir, como no vôlei.
Neste momento seria interessante que viesse do governo um recado claro, mostrando de qual lado o Planalto está: daquele que deseja manter tudo como está ou daquele que planeja fazer do esporte uma ferramenta de desenvolvimento da sociedade. Com um nome inexpressivo a cuidar do esporte, parece óbvio que o governo não planeja se envolver nesta briga.
A escolha de George Hilton, seja para base ou para o alto rendimento, deixa claro que o esporte não é uma preocupação central do governo petista. Mesmo diante da crescente mobilização dos atletas profissionais e da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o que poderia alavancar o setor como um todo no país, a opção foi entregar a pasta a um ilustre desconhecido parlamentar do baixo clero da Câmara de forma a contemplar seu partido no fatiamento do governo. Mais do que nunca, o esporte brasileiro está sozinho.
Novo ministro do Esporte foi expulso do PFL flagrado com dinheiro da IURD Juca Kfouri
Em julho de 2007, o agora ministro do Esporte, George Hilton, foi expulso do PFL por ter sido flagrado no aeroporto de Belo Horizonte com malas de dinheiro que seriam provenientes de doações de membros da Igreja Universal do Reino de Deus.
Então, ele era deputado estadual e a Polícia Federal o flagrou com 11 caixas de papelão com dinheiro e cheques, algo na casa dos R$ 600 mil segundo calculou a PF à época.
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