JC Teixeira Gomes
Tenho evitado escrever sobre racismo pela delicadeza de
um tema que traduz imensas dívidas da sociedade brasileira para com a população
negra.Mas dois artigos recente sobre rolezinhosme fizeram mudar de idéia, um do
meu amigo Jorge Portugal, outro do deputado petista Luiz Alberto.
O primeiro vê
tais manifestações como “caso de política”. Há anos, diz ele, os garotos de
bairro populares, sobretudo negros, sentiam-se discriminados no “pedaço dos
barões” (!), incluindo shoppings. Hoje, resolveram ocupar tais espaços “com a
linguagem de seus corpos jovens e mestiços”.
Já para o petista
Luiz Alberto, radical e contundente, discriminações em shoppings paulistas
contra “jovens da periferia, na maioria negros” (sic), “num lugar onde não são
esperados”, causariam pânico. A denúncia acusa “uma reação das pessoas brancas”
(!), incomodadas como donas do “espaço do poder”, tudo exibindo “a face
perversa” de um tipo de exclusão orquestrada por brancos ricos contra negros
pobres. Só faltou dizer que a KluKlux Kahn invadiu os shoppings brasileiros
para expulsar negros, num texto agressivo, cuja ideologia rançosa expõe
objetivo eleitoreiro.
Não é a cor da
pele que define presenças em shoppings: é o seletivo e excludente consumismo capitalista. Empresários não vacilam diante de
lucros: o mega-empresário Odebrecht está construindo em Cuba um porto para o comunista
Fidel, com o fato dinheiro enviado pelo PT de Luiz Alberto. Não me consta que Pelé tenha sido barrado em
um único shopping do mundo.
Templos do consumismo, shoppings são também centros de
convivência social. À comodidade da concentração de lojas, acrescentam o prazer
dos passeios em segurança. Sendo espaços limitados, grandes massas em seu
interior podem intimidar fregueses, dificultar vendas e ameaçar patrimônios.
Não por causa específica da presença de jovens negros: rolezinhos são formações
compósitas e incluem negros, brancos, mulatos, louros, índios e cafusos. Multidões
em recintos fechados podem ser ordeiras ou tornar-se imprevisíveis como bois em
curral, doidos para arrombar a cerca ante um simples estalo. Não custa lembrar
que foram os apedrejadores que desvirtuaram as pacíficas manifestações do povo
nas ruas brasileiras em 2013.
Precisamos
evitar no Brasil o exercício do pensamento que discrimina a pretexto de
combater a discriminação. Simplificando: precisamos combater o racismo ao
contrário. Desde alguns anos, generalizou-se a absurda idéia de que usar a palavra
“negro” era ofensa racial e passaram a trocá-la por “afrodescendente”. Mas os
linguistas que o professor Jorge Portugal tão bem conhece lembram que existe o
vocábulo “polissemia”, para explicar os conteúdos
múltiplos das palavras. “Negro” pode designar não apenas a cor da pele, mas
também “escuridão”, “treva”,ou, metaforicamente,”dificuldade”, como ocorre
quando dizemos “a situação está negra”. A eficiente repórter de TV, Glória
Maria, já afirmou, com orgulho: ”Eu não sou afrodescendente, eu sou é negra!”.
Qualquer exaltação de uma raça particular com fim
discriminatório é racismo.Na década de 70, quando eu chefiava o Jornal da
Bahia, fui procurado pelo emérito sociólogo Thales de Azevedo, que me advertiu,
ao ler que o setor de promoção do jornal realizava o concurso “A Mais Bela
Mulata da Bahia”. Thales disse: “Vocês estão fomentando o racismo!”. O mestre
estava certo.Hoje, no entanto, tornaram-se comuns no Brasil inteiro designações
como “Calcinha Preta”, Raça Negra”, há uma revista, “Raça”, dedicada apenas a negros,etc.
Imaginem Jorge Portugal e o deputado Luiz Alberto se alguém andasse elogiando um
conjunto “Raça Branca”!
Enfim,
preocupados ambos em denunciar o rolezinho como a revolta de negros pobres
contra brancos opressores,andam esquecidos de enaltecer o mais aplaudido negro
do Brasil atual, moço que veio da pobrezapara tornar nossa Justiça respeitada :
refiro-me,claro, ao magistrado Joaquim Barbosa, que, aliás, meteu o branquelo
Dirceu e outros petistas corruptos na Papuda, sob o entusiasmo e aplausos da
dignidade nacional.
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