sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

RACISMO E ROLEZINHO

JC Teixeira Gomes

Tenho evitado escrever sobre racismo pela delicadeza de um tema que traduz imensas dívidas da sociedade brasileira para com a população negra.Mas dois artigos recente sobre rolezinhosme fizeram mudar de idéia, um do meu amigo Jorge Portugal, outro do deputado petista Luiz Alberto.
    O primeiro vê tais manifestações como “caso de política”. Há anos, diz ele, os garotos de bairro populares, sobretudo negros, sentiam-se discriminados no “pedaço dos barões” (!), incluindo shoppings. Hoje, resolveram ocupar tais espaços “com a linguagem de seus corpos jovens e mestiços”.
    Já para o petista Luiz Alberto, radical e contundente, discriminações em shoppings paulistas contra “jovens da periferia, na maioria negros” (sic), “num lugar onde não são esperados”, causariam pânico. A denúncia acusa “uma reação das pessoas brancas” (!), incomodadas como donas do “espaço do poder”, tudo exibindo “a face perversa” de um tipo de exclusão orquestrada por brancos ricos contra negros pobres. Só faltou dizer que a KluKlux Kahn invadiu os shoppings brasileiros para expulsar negros, num texto agressivo, cuja ideologia rançosa expõe objetivo eleitoreiro.
    Não é a cor da pele que define presenças em shoppings: é o seletivo e excludente consumismo capitalista. Empresários não vacilam diante de lucros: o mega-empresário Odebrecht está construindo em Cuba um porto para o comunista Fidel, com o fato dinheiro enviado pelo PT de Luiz Alberto.  Não me consta que Pelé tenha sido barrado em um único shopping do mundo.
Templos do consumismo, shoppings são também centros de convivência social. À comodidade da concentração de lojas, acrescentam o prazer dos passeios em segurança. Sendo espaços limitados, grandes massas em seu interior podem intimidar fregueses, dificultar vendas e ameaçar patrimônios. Não por causa específica da presença de jovens negros: rolezinhos são formações compósitas e incluem negros, brancos, mulatos, louros, índios e cafusos. Multidões em recintos fechados podem ser ordeiras ou tornar-se imprevisíveis como bois em curral, doidos para arrombar a cerca ante um simples estalo. Não custa lembrar que foram os apedrejadores que desvirtuaram as pacíficas manifestações do povo nas ruas brasileiras em 2013.
    Precisamos evitar no Brasil o exercício do pensamento que discrimina a pretexto de combater a discriminação. Simplificando: precisamos combater o racismo ao contrário. Desde alguns anos, generalizou-se a absurda idéia de que usar a palavra “negro” era ofensa racial e passaram a trocá-la por “afrodescendente”. Mas os linguistas que o professor Jorge Portugal tão bem conhece lembram que existe o vocábulo     “polissemia”, para explicar os conteúdos múltiplos das palavras. “Negro” pode designar não apenas a cor da pele, mas também “escuridão”, “treva”,ou, metaforicamente,”dificuldade”, como ocorre quando dizemos “a situação está negra”. A eficiente repórter de TV, Glória Maria, já afirmou, com orgulho: ”Eu não sou afrodescendente, eu sou é negra!”.
Qualquer exaltação de uma raça particular com fim discriminatório é racismo.Na década de 70, quando eu chefiava o Jornal da Bahia, fui procurado pelo emérito sociólogo Thales de Azevedo, que me advertiu, ao ler que o setor de promoção do jornal realizava o concurso “A Mais Bela Mulata da Bahia”. Thales disse: “Vocês estão fomentando o racismo!”. O mestre estava certo.Hoje, no entanto, tornaram-se comuns no Brasil inteiro designações como “Calcinha Preta”, Raça Negra”, há uma revista, “Raça”, dedicada apenas a negros,etc. Imaginem Jorge Portugal e o deputado Luiz Alberto se alguém andasse elogiando um conjunto “Raça Branca”!

     Enfim, preocupados ambos em denunciar o rolezinho como a revolta de negros pobres contra brancos opressores,andam esquecidos de enaltecer o mais aplaudido negro do Brasil atual, moço que veio da pobrezapara tornar nossa Justiça respeitada : refiro-me,claro, ao magistrado Joaquim Barbosa, que, aliás, meteu o branquelo Dirceu e outros petistas corruptos na Papuda, sob o entusiasmo e aplausos da dignidade nacional.

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