No começo do ano passado, publiquei nesse jornal um
artigo sobre a impossibilidade do “Sonho do Pibão” da Presidente Dilma se
realizar num país onde o nível dos impostos e a imprevisibilidade das leis,
medidas provisórias e decretos impossibilitam as pequenas e medias empresas de
investir sem poder prever o retorno dos seus investimentos. A previsão se
confirmou: o país cresceu pouco, a inflação ficou alta e o ciclo de abaixamento
dos juros, grande conquista do Governo Dilma, foi revertido.
No mesmo artigo, eu fiz questão de apontar que não
pertenço a nenhum partido politico e só não queria passar o ano todo me
perguntando se eu devia preservar parte do meu capital de giro para enfrentar
custos e taxas imprevisíveis ou se eu teria condição de investir no futuro do
meu projeto, dos meus funcionários e no destino deste país.
Infelizmente, nesse começo do ano novo, estou
enfrentando a mesma pergunta essa vez não somente por causa da imobilidade
econômica do Governo Federal, mas também em razão da politica tributária da
nova Prefeitura de Salvador. Entendo perfeitamente a necessidade de aumentar a
arrecadação da cidade que sofreu durante muitos anos da escassez dos
investimentos em infraestrutura. Mas quando esses ajustes tributários chegam a
asfixiar a iniciativa privada, tal politica se torna perigosa e pode causar
efeitos contrários.
Vou dar um exemplo concreto. Dois anos atrás, minha
empresa, que fundou e administra o maior polo de economia criativa do Nordeste,
começou a reformar um prédio histórico do séculos XVIII, o Trapiche Barnabé,
abandonado há quase cinquenta anos, para ampliar nosso polo e criar um espaço
público de entretenimento cultural. Apesar das condições cada vez mais precárias
de nosso bairro, quase dois milhões de reais foram investidos sem ajuda pública
nenhuma para recuperar a estrutura histórica, reconstruir o passeio e plantar
arvores de Pau Brasil. Esses investimentos foram realizados apostando no futuro
e sabendo que a Prefeitura deixou vencer no final de 2012 a lei de isenções
fiscais para o Comércio sem criar mecanismo de substituição.
Há duas semanas, recebemos o carnê de IPTU e
observamos um crescimento da taxa de mais de seiscentos por centos (600%) em
relação a 2013. Por ser considerado terreno em vez de prédio histórico, em
2014, teremos que pagar só de IPTU um imposto igual a cento e dez por centos (110%)
da sua escassa renda. Adicionando as outras taxas municipais e o foro devido
sobre terreno da União, chegamos a um taxa tributária de cento cinquenta por
centos (150%). Vale destacar que hoje em dia, Salvador aplica algumas alíquotas
sobre bens não residenciais superiores a São Paulo, inclusive uma taxa confiscatória
de cinco por centos sobre terrenos que por definição quase não geram
faturamento.
A consequência imediata desse reajuste é que vamos
suspender as obras e aumentar nossos preços e, se não basta, desistir de
nosso projeto. Assim a politica tributária da prefeitura vai ter os mesmos
efeitos do que as medidas federais: cortar o investimento privado e alimentar a
inflação.
Nossos políticos, sejam de esquerda ou de direita,
precisam entender que a politica econômica não se resume em aumentar a
arrecadação e substituir a iniciativa privada em tudo. O papel deles é também
criar as condições para o cidadão produzir e se realizar dentro de um quadro de
leis simples visando a proteger a sociedade e o interesse comum.
Então, Sr. Prefeito, nossa cidade necessita de
investimentos públicos, e o IPTU precisa sim ser ajustado, mas com
discriminação, incentivando e não reprimindo a energia criativa e produtiva.
BERNARD ATTAL
battal1@mac.com
Cineasta e Criador do Trapiche Pequeno, o Centro de Economia Criativa da
Bahia.
A NOVA ÁREA NOBRE DE SALVADOR
POR DETERMINAÇÃO MUNICIPAL, A ÁREA CONHECIDA COMO "SANTA LUZIA", TOTALMENTE ABANDONADO PELA PREFEITURA É O PERFEITO EXEMPLO DA LEVIANDADE DA NOVA ADMINISTRAÇÃO.
UM EMPRESÁRIO ESTRANGEIRO DUBLÉ DE CINEASTA, BERNARD ATTAL (DO PREMIADÍSSIMO FILME "A COLEÇÃO INVISÍVEL") INVESTIU PESADO NA COMPRA E RECUPERAÇÃO DO ANTIGO TRAPICHE BARNABÉ, CUJA PARTE MAIS ANTIGA DATA DO SÉCULO XVIII.
APESAR DE TER POR VÁRIAS VEZES, PEDIDO O APOIO DA PREFEITURA, A ÁREA CONTINUA SUJA, ESBURACADA E COM ILUMINAÇÃO DEFICIENTE.
NO ENTANTO, A ATUAL GESTÃO MUNICIPAL CONSIDEROU, PARA APROVISIONAR OS COFRES, QUE DE HOJE EM DIANTE, ESTA SERÁ UMA "ÁREA NOBRE".
EIS ALGUMAS FOTOS DA DITA ÁREA NOBRE:
POR DETERMINAÇÃO MUNICIPAL, A ÁREA CONHECIDA COMO "SANTA LUZIA", TOTALMENTE ABANDONADO PELA PREFEITURA É O PERFEITO EXEMPLO DA LEVIANDADE DA NOVA ADMINISTRAÇÃO.
UM EMPRESÁRIO ESTRANGEIRO DUBLÉ DE CINEASTA, BERNARD ATTAL (DO PREMIADÍSSIMO FILME "A COLEÇÃO INVISÍVEL") INVESTIU PESADO NA COMPRA E RECUPERAÇÃO DO ANTIGO TRAPICHE BARNABÉ, CUJA PARTE MAIS ANTIGA DATA DO SÉCULO XVIII.
APESAR DE TER POR VÁRIAS VEZES, PEDIDO O APOIO DA PREFEITURA, A ÁREA CONTINUA SUJA, ESBURACADA E COM ILUMINAÇÃO DEFICIENTE.
NO ENTANTO, A ATUAL GESTÃO MUNICIPAL CONSIDEROU, PARA APROVISIONAR OS COFRES, QUE DE HOJE EM DIANTE, ESTA SERÁ UMA "ÁREA NOBRE".
EIS ALGUMAS FOTOS DA DITA ÁREA NOBRE:
NESTA ELEGANTE PRACINHA O RESTAURANTE CHEZ BERNARD
ACABA DE ABRIR UMA SUCURSAL...
ÚLTIMAS CRIAÇÕES DOS ARQUITETOS ANDRÉ SÁ E FERNANDO FRANK...
ELEGANTE FACHADA DA RECÉM INAUGURADA DISCOTECA
QUE RECEBE O MELHOR DA ZELITE BAIANA
COM RARA EFICIÊNCIA, A PREFEITURA RECOLHE O LIXO,
REGULARMENTE A CADA TRÊS MESES.
DE NOITE COMO DE DIA LIMUSINES, BMW E FERRARIS
TÊM DIFICULDADE EM ENCONTRAR ONDE ESTACIONAR
EM BREVE, A SECRETARIA DE TURISMO DA PREFEITURA DEVE RESTAURAR
ESTE RARO EXEMPLO DO GÉNIO DE OSCAR NIEMEYER.
MUITAS OUTRAS FOTOS TESTEMUNHANDO DO DELICADO FARO
DA PREFEITURA SERÃO APRESENTADAS POSTERIORMENTE...
MAS, PARA IMPEDIR VISITAS INDESEJÁVEIS,
A PREFEITURA RESOLVEU MANTER FECHADO
O PLANO INCLINADO DO PILAR
MAS, PARA IMPEDIR VISITAS INDESEJÁVEIS,
A PREFEITURA RESOLVEU MANTER FECHADO
O PLANO INCLINADO DO PILAR
Fina ironia do missivista. Mas há poréns.
ResponderExcluirMinha vizinhança também virou zona nobre. Deve ser porque os provincianos locais, antigamente, muito antigamente, antes daqui – Stella Maris/ Flamengo - se tornar um lugar abandonado onde é permitido construir aglomerados toscos de quarto e sala, diziam que era bairro de Barão.
O valor venal de meu imóvel e IPTU foram multiplicados por 3. Ou seja, ficou o mesmo valor praticado no mercado pois duas casas do condomínio onde moro foram vendidas, em meados de 2013, exatamente pelo valor venal de hoje.
Porém há outro ponto de vista a considerar.
O cálculo do IPTU estava defasado há pelo menos 8 anos. A prefeitura – erroneamente, concordo, porque o fez de uma só vez – ao aplicar pesados índices de atualização também concedeu isenção para uma representativa parcela da população.
O IPTU da terceira maior cidade do Brasil é ridiculamente baixo. Quando conto a meus amigos o quanto pago para morar em uma casa de 100 metros quadrados a beira mar, mal acreditam. Quem teve seu IPTU recalculado tem sim poder de pagamento. A população foi mal acostumada com as gestões displicentes na administração financeira do município.
E a cidade está falida, destruída, imunda, o povo é mal educado e principal devastador do bem público. E ironicamente reclamam da degradação provocada por eles próprios. Salvador precisa ser recuperada e requalificada, como bem mostram essas fotos e tantos outros flagrantes de abandono, se quisermos fazer uma varredura urbanística.
Não tenho simpatia especial pelo prefeito e nem estou me posicionado politicamente. Minha fala é como técnica.
E saibam que já paguei meu IPTU.