Pensei que
tivesse terminado. Erro meu. Ele voltou a rondar minha casa, perturbando meu
silêncio com a violência daqueles que sabem que estão errados, mas encontram
neste erro o prazer cruel de quem se acha acima do bem e do mal.
Estou falando
do guindaste que massacra há meses meu bairro, sob o pretexto de pintar as
fachadas – com as cores mais berrantes do mo(n)struário da firma cúmplice -
lógica conseqüência de uma política cultural de fachada. Após semanas de
silêncio, eis o monstro laranja de novo infernizando nossas vidas. O governador
não tinha inaugurado a igreja do Boqueirão em fim de dezembro? Então porque
voltou? Voltou por quê? Resposta simples: porque o trabalho estava inacabado.
Logo pelas 7 da manhã, quando ainda descansam os notívagos e os turistas nas
pousadas vizinhas, começa a barulheira. Para a Conder, respeito a moradores e
turistas... Pourquoi? ...Why? O
tiic-tiic-tiic anunciando o menor movimento do guindaste é tortura permanente.
Absolvido seria qualquer cidadão após tresloucado gesto assassino. Há anos que
o centro histórico de Salvador é vítima das imposições dessa estatal. O
freqüentador do bairro terá constatado, desolado, o grotesco entulho de
concreto frente à Casa de Jorge Amado e do Museu da Cidade, no Largo do
Pelourinho, sob pretexto de acessibilidade. Que tipo de
arquiteto está por trás destas decisões? Que formação tem para gerar tais
absurdos? Com quais credenciais esta empresa estatal conseguiu abocanhar a
responsabilidade de intervir num centro histórico tombado pela Unescoe como
patrimônio mundial? Qual o planejamento das futuras intervenções? Aprovado por
quais especialistas?
Enfim, com a
decisão ilegal e precipitada do governador entregar 315 milhões de reais a quem
pouco ou nada entende das complexidades de tão árdua tarefa, o IPAC deixa de
ter qualquer razão de existir.
Será que o
atual governo, a menos de um ano do término, resolveu fechar o Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia? Afinal, por pouco que conseguisse
realizar, pelo menos chegava a equilibrar as teimosas omissões do Iphan...
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