Não é de nosso hábito reclamar ou desabafar, resmungamos um
pouco de vez em quando, mas desta vez literalmente, estamos em prantos.,
Implantamos nosso estabelecimento hoteleiro em pleno
Pelourinho e desde 2006 tentamos fazer o melhor. Acreditávamos no potencial do
centro histórico de Salvador, único ponto da cidade com real atrativo
turístico. Porque o resto da cidade, sem querer desprezar, não tem nenhum
chamativo capaz de substituir o Pelourinho, bairro conhecido
internacionalmente, e indiscutível cartão de visita da cidade.
Pois bem, restauramos dois prédios antigos e tombados, tudo
com o maior cuidado e respeito para a história e sua herança. Criamos 30
empregos direitos e tratamos nossos funcionários como poucas empresas o fazem,
andamos sempre na linha, pagamos sempre tudo em dia e investimos na qualidade.
Acreditamos que a qualidade ajuda a valorizar o lugar.
Em
mais de seis anos conseguimos ser classificado como o “Melhor Hotel do Brasil”,
estamos na lista dos 50 melhores da América Latina. Fomos convidados a
ingressar na prestigiosa associação dos “Roteiros de Charme”, sendo o único
membro desta instituição em Salvador. Recebemos hóspedes do mundo inteiro,
alguns muito famosos, outros menos, mas sempre com o mesmo perfil, amante da
história, da cultura, e da qualidade.
Obviamente, para todos que conhecem o centro histórico de
Salvador, não é nada fácil conciliar qualidade, o que implica, entre outros
aspectos, requinto, limpeza, segurança, conforto, e bem estar, com a realidade
do local. Precisamos lidar com o descaso das autoridades que afeta o centro
histórico no seu todo.
Citarei aqui apenas alguns exemplos:
Lixo nas ruas, basta descer a ladeira a noite, ou até de dia,
ao lado da igreja da Ordem 3ª de S. Francisco indo para o estacionamento Master
Park (outro descaso!) para ver que não estamos exagerando. O lixo permanece lá
por horas, às vezes dias, atraindo insetos e roedores de todos os tipo. Para
nós, que ficamos a menos de 100 metros deste “lixão” permanente, é difícil
combater as pragas de forma eficaz. Mesmo assim, detetizamos, deratizamos e
“depraguizamos” o mais que pudemos. Mais do que fazemos, apenas com armas de destruição
em massa! Sempre pensei: será que os serviços sanitários da prefeitura, que
efetuam regularmente suas blitz nos estabelecimentos, vão se tocar um dia que o
combate ás pragas deve ser feito também do lado de fora das casas, ou seja, na
rua, ou será que isto também cabe a nós de fazê-lo? Mas com certeza raciocinar
não faz parte da função dos responsáveis da prefeitura.
Outro exemplo:
No último dia 05 de fevereiro fomos notificados por um outro
serviço da prefeitura, a Sucom. Desta vez, fomos avisados que durante o período
de carnaval “não se poderá permanecer
nas sacadas das casas”!!! Um estabelecimento que fica no largo de São
Francisco, com uma vista privilegiada sobre o local!
O carnaval no Pelourinho,
como todos sabem, não recebe trios elétricos, é um carnaval pacato com
bandinhas, famílias, enfim, nada de bagunça que atrai público problemático.
Mesmo assim, teremos que proibir aos nossos hóspedes tirar fotos e curtir a
vista? Ou seja, o Pelourinho durante o carnaval deixe de ser um local
turístico? Bom, quem sabe isto não passou pelas cabecinhas que inventam estas
medidas estúpidas para fazer bonito... Mas o mais absurdo está por vir!
Esta
medida seria “por medida de segurança”!!! Isto significa que um turista poderia
cair acima de um transeunte? Ou se livrar de suas dejeções matinais pela
janela? Ou ainda jogar tudo o que passar pela sua cabeça em cima dos foliões?
Tudo bem, a medida pode até se aplicar a alguns locais do
trajeto do carnaval, mas aqui no centro histórico, não faz sentido.
E já que estamos falando de segurança, será que esses mesmos
funcionários e cabecinhas pensantes da prefeitura se lembraram das cadeiras e
mesas de plástico, dos bojões de gás das Baianas de acarajés e outros quitutes,
dos espetinhos de carne, das caixas de Isopor cheias de gelo e de cervejas, e
de tudo o que representa perigo, mas circula e permanece livremente durante
esses eventos, Carnaval e outros, sob os olhos de todos?
Pois bem, o absurdo ainda não terminou:
Temos na nossa porta de entrada belos caqueiros de ferro
fundido com buganvílias magníficas e bem desenvolvidas que acrescentão mais
vida e charme ao local. Também fomos notificados em retirar esses caqueiros
durante o carnaval... Também por medida de segurança!
Cada caqueiro com a terra e a planta
deve pesar em torno de meia-tonelada. Quem terá força suficiente para apanhar
um desses caqueiros para lançá-lo na cabeça de alguém? Popeye talvez, o incrível
Hulk, ou até Batman?... É verdade que no carnaval tudo é possível! Mas cá entre
nós, eu não acredito na vinda desses heróis no carnaval da Bahia...
Ah, ia me esquecer! O nosso IPTU aumentou também, estaremos
pagando esse ano “apenas” R$26.000,00! .. Para 17 quartos! E como todos bem sabem, o cálculo se
baseia na superfície do prédio (ou do terreno), não inclui a detetização
reforçada que devemos aplicar por causa do lixo acumulado nos arredores da casa,
nas ruas, e da falta de higiene dos lugares públicos (nunca desinfetam as
praças e ruas do Pelourinho).
A energia e a água também vêm com aumentos absurdos: entre uma
e outra, devemos estar pagando R$ 15.000,00 por mês.
É claro consumimos, mas a
tarifa é demais salgada e não existe desconto nenhum para compensar os
frequentes cortes e apagões. Seria pedir muito.
Enfim, será que um dia as nossas cabecinhas pensantes – os edis
- vão finalmente entender que criar incentivos fiscais é sempre a melhor forma de
atrair investimentos para o centro histórico?
Afinal, como em qualquer cidade
civilizada do mundo, restaurar e manter o patrimônio dá direito a incentivos
fiscais e um tratamento diferenciado quando se trata de tomar medidas.
Mas aqui em Salvador
acontece exatamente o contrário, quem investe é castigado!!
Bruno P. Guinard
Comentário do blogueiro:
A estas muito justificadas observações, haverá sempre algum xenófobo para responder "Quem não gosta, que volte para sua terra!"
Excelente artigo, Bruno. A hora e de se perguntar mesmo se devemos desistir ou ficar na luta tentando fazer entender as nossos governantes o que significa administrar uma pequena empresa e qual e a importancia cultural e economica do patrimonio historico. Mas continuar investindo e pagar essas taxas absurdas sem retorno nenhum, nao damais.
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