Sentar ao lado de dois poderosos acadêmicos para falar de festas populares não é, acreditem, tarefa fácil. Em compensação, foi bom ouvir e aprender. Nossas visões e interpretações? Águas desembocando no mesmo rio. Ao propor um Museu do Carnaval, Paulo Miguez confirmou o oportuno artigo do secretário de cultura Albino Rubim publicado recentemente neste mesmo jornal. Posso complementar tão sábia sugestão? Parece-me de total coerência a memória do carnaval ser incluída, com especial destaque, num museu mais abrangente de cultura popular que, aliás, deveria ter sido realidade há mais de meio-século. Elaborem um projeto, escolham o local adequado e lancem um concurso nacional de arquitetura. Em menos de três anos poderá ser inaugurado. Para tão importante marco da cultura baiana, por que não recuperar a belíssima fábrica de tecelagem de Luís Tarquínio? Nestas duas últimas décadas, a península de Itapajipe tem sido tratada como o primo pobre da capital, servindo de mero trampolim para elucubrações urbanísticas ao serviço da mais deslavada especulação imobiliária. Já com o professor Jânio Castro, só posso concordar quando ele denuncia o rolo compressor do poder econômico e a omissão dos governantes. Quando não algo pior, como o irresponsável holocausto cultural de Lidice da Mata ao acabar com a tradicional beleza das barracas, sob o pretexto da padronização. Alguém tem que parar a vergonhosa exclusividade das cervejarias que deturpam sem qualquer escrúpulo as festas populares, com a conivência da diretoria da associação dos barraqueiros. Não se trata de natural dinâmica, mas sim de uma desenfreada bulimia antropofágica. Estas empresas estão acabando despudoradamente com a essência de todas nossas festas. Até quando? Até desaparecer o último consumidor? E depois, para onde irão os barraqueiros? Ao relento, à beira das estradas federais, engordando a triste promiscuidade dos ambulantes favelados? Chegou a hora de estabelecer regras de conduta para evitar o naufrágio da cultura popular na praia de alguma Bahiami de plástico.
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