Hoje partiu a amiga e poeta baiana.
In memoriam, cito um trecho da minha entrevista
"Considero-me uma escritora por destino e vocação. Todos os trabalhos que realizei até agora me direcionaram ao que foi, desde o princípio, meu projeto maior: a palavra. Minhas atividades sempre giraram em torno do ofício de escrever. Quando renunciei a uma carreira universitária, que seria o caminho mais natural às minhas aspirações, dediquei-me de corpo e alma à construção de uma obra literária.
Mas, ao mesmo tempo, procurava realizar outras atividades, todas ligadas ao mesmo propósito. Em começos dos anos 70, por iniciativa do poeta Humberto Fialho Guedes, tentamos articular, juntamente com o poeta Florisvaldo Mattos, o gravador Calasans Neto e o poeta Fernando da Rocha Peres, um renascimento das Edições Macunaíma, com o intuito de transformar o que era um sonho de jovens idealistas em uma empresa comercial.
A princípio tudo parecia dar certo, mas não contávamos com os percalços da economia em nosso país. A inflação descontrolada e a morte prematura de Humberto Fialho Guedes sepultaram o projeto da ‘Macunaíma Empreendimentos Editoriais Ltda”. Ficou o sonho. De vez em quando, sempre que possível, sem nenhuma programação regular, produzimos mais um livro, com muito carinho e nenhum lucro financeiro, todos com a marca registrada de Mestre Calá e suas gravuras maravilhosas.
Em 1980, fui trabalhar com Zilah Azevedo na Fundação Cultural do Estado da Bahia, então presidida por Geraldo Machado, onde realizei vários projetos na área de Literatura dos quais os mais importantes foram: a criação do Centro de Literatura Luís Gama, inaugurado por Orígenes Lessa, estudioso da obra do poeta e abolicionista baiano, a realização dos Encontros de Literatura Emergente I e II, em parceria com o Instituto de Letras da UFBA e o projeto editorial da Coleção dos Novos, responsável pela revelação de jovens autores baianos, alguns hoje reconhecidos nacionalmente.
Mas a realização mais importante foi sem dúvida a exposição comemorativa dos 70 anos de Jorge Amado, em agosto de 1982 que, além de Salvador, esteve em Fortaleza e em Brasília, finalizando seu percurso em 1984, na Bienal do Livro, em São Paulo.
Essa exposição, por sua extensão e magnitude, teria sido a semente de uma futura instituição que iria abrigá-la definitivamente. Quando, em 1986, foi criada a Fundação Casa de Jorge Amado e ele me convidou para dirigi-la, me senti gratificada. Hoje são 22 anos e várias realizações e, o que é mais importante, a Fundação é uma referência no campo da literatura.
Em 1984, a convite de Jorge Calmon, editor chefe do jornal A Tarde, iniciei minha participação como jornalista, assinando durante 20 anos a coluna Linha D´Água, sobre fatos culturais. Nesse mesmo ano fui eleita por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia e fiz minha primeira viagem internacional. Passei 28 dias nos Estados Unidos a convite do programa Writers in visitor. Foi uma grata experiência.
Aliás, todas as viagens que realizei até agora sempre tiveram a ver com a literatura. Foram seminários, congressos, conferências, bienais, feiras de livros e outras atividades correlatas. Não me lembro de ter feito uma só viagem exclusivamente a passeio ou como turista.
Foi como escritora e diretora da Fundação Casa de Jorge Amado que fui a Lisboa pela primeira vez, de passagem para Cabo Verde, onde participei do seminário sobre o movimento literário “Claridade”, realizado na cidade de Mindelo, na ilha de São Vicente. Lembro-me ainda da grande emoção que senti diante da Torre de Belém, de onde partiram os navegadores e onde parecia ecoar ainda a voz irada do velho do Restelo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário