segunda-feira, 5 de outubro de 2015

UM MUSEU DA CIDADE DIGNO DE SALVADOR



O mundo ocidental está testemunhando uma radical transformação dos conceitos de museologia. O Institut du Monde Arabe em Paris, o Guggenheim de Bilbao e o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo são exemplos, entre muitos, da necessidade de rever velhas fórmulas que não mais satisfazem o visitante.
Nosso Museu da Cidade, que já nascera exageradamente modesto, nunca correspondeu ao que se poderia esperar, sem ufanismo, da mais antiga capital do maior país da América latina. Com suas salinhas, corredores e escadarias, furado de portas e janelas que nem queijo suíço, é absoluto contra-senso a tão ambiciosa proposta.
O que seria uma nova abordagem museológica para tão relevante proposta? Não tendo formação neste campo, não me caberia responder, mas, já que me joguei na água... Mais que uma sucessão de quadros e objetos, seria antes de tudo um banco de dados sobre os mais variados temas. 

Desde a composição geológica do solo da capital, passando pelas características ambientais – clima, águas, flora e fauna – até as etnias, religiões, gastronomia, cartografia, indústrias, economia, turismo, história e expressões culturais, incluindo canções, danças, carnavais, costumes, artesanato urbano e curiosidades. Sem esquecer dados biográficos sobre grupos e indivíduos, mulheres e homens, que teceram a trama de uma sociedade essencial à formação do ser brasileiro. Sem esquecer também uma sala de exposições temporárias ligadas aos mesmos temas e sala multiuso para expressões urbanas – como repentistas e cordelistas - e filmes envolvendo a capital, sejam de ficção ou documentários. Espaços não faltam. Desde o cinema-teatro Jandaia até as traseiras da Igreja da Barroquinha ou, por que não, na península de Itapagipe, tão desprovida de centros culturais, fora as tradicionais referências. Este assunto, aliás, mereceria mais amplo debate. Salvador precisa recuperar o tempo perdido - nos dois sentidos - e integrar o pólo internacional dos grandes museus com o que mais tem a ver com sua essência: a Cultura e a Memória.

Dimitri Ganzelevitch
Salvador, 25 de abril de 2010

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