[Marcelo Torres]
- Sabe qual é o presente que mais gosto de dar e de receber?
- Qual?
- Livro.
- É, livro é sempre um bom presente.
- Agora mesmo, no amigo secreto, estou pensando em dar a biografia de Sócrates.
- Só sei que nada sei...
- Não, não é o filósofo grego, é o jogador.
- O jogador brasileiro?
- Sim, o ex-jogador brasileiro.
- Porque, você sabe, tem Sócrates que é jogador grego.
- É, tem mesmo. Inclusive, na Copa, tinha um Sócrates na seleção da Grécia. Agora, por falar em Grécia, você sabia que o famoso filósofo ateniense não deixou nada escrito?
- Não deixou nada escrito? Você tá doido! E o "só sei que nada sei"? E "conhece-te a ti mesmo"? E tudo que a gente leu sobre Sócrates?
- As ideias de Sócrates foram difundidas pelos outros. Por Platão, por exemplo.
- Rapaz... Quer dizer então que Sócrates não disse tudo aquilo que dizem que ele disse?
- Não sei se ele disse. Deve ter dito. Só sei que... Só sei que ele não escreveu nada.
- É sério, sério mesmo? Sócrates não publicou nada, nada, nada?
- Que se sabia, nada. A não ser que apareça alguém e desenterre alguma coisa...
- Caraca! Essa é nova pra mim. Mas...você ia falando do Sócrates brasileiro.
- Pois é, o "nosso" Sócrates... Era brasileiro até no nome.
- E publicou livro?
- Olha, ele deixou muitas crônicas escritas e essas viraram livro.
- E é esse que você vai dar de presente?
- Não, o que vou dar de presente é uma biografia cujo título é "Sócrates".
- Uma autobiografia?
- Não. É uma biografia não autorizada. Foi escrita por Tom Cardoso.
- Por quem???
- É um jornalista. E parece que o livro é muito bom. Li uma resenha esses dias.
- Hum... Bom, neste caso, você faz o seguinte: você compra o livro, lê primeiro e, depois de ler, você dá de presente.
- É uma ideia, né? Se não arranhar, não rasgar, não riscar...
- Já fiz muito isso com discos, no tempo que era LP, lembra? Comprava o disco, ouvia, às vezes até gravava em fita cassete, e só depois presenteava.
- Mas eu estou com medo de dar "Sócrates" de presente.
- Oxente! Por quê?
- Meu amigo secreto é...
- Vai revelar?
- Vou revelar: é o Jair.
- Vixe! Palmeirense doente, odeia o Corinthians e Sócrates era Corinthians até a medula.
- Era, era. Mas nem é tanto isso minha preocupação. Porque talvez ele nem se importe com o fato de Sócrates ter jogado no Timão. Meu maior temor é outro nem maior.
- Fala! Qual é?
- Você sabe que Jair vive a louca paranoia "anticomunista", não é?
- É, sei. Ele é meio louco com isso. Tudo pra ele é "comunismo". Até eu e você, segundo ele, somos comunistas desde criancinha.
- Pois é, e Sócrates era comunista de fuma charuto com Fidel e tudo. Apoiava Cuba.
- Hum.. É vero...
- Sócrates apoiava Hugo Chávez, sempre votou em Lula, votou em Dilma...
- Aí lascou! Vai ser um presente de grego. Compre outro livro que é melhor.
- Mas que outro? As leituras de Jair são...
- Por que você não dá aquele livro de Reinaldo Azevedo?
- Você tá louco? Esse cara é um rottweiler.
- Mas ele gosta! E quem tem que gostar do presente é ele! Não é você que tem que gostar, é o presenteado! Se ele gosta...
- Isso é verdade. Pensando bem, é isso mesmo, ele que tem que gostar. Eu nem tinha pensado nisso.
- Você sabe, ele gosta desse povo: Reinaldo, Lobão, Pondé, Olavo... Todos esses.
- Eu sei, ele gosta desses todos aí.
- Ah, e tem um outro que não falei, mas pode ser incluído na mesma turma. O Merval Pereira...
- Olha aí! Agora você deu a dica: Merval. Jair é fã do Merval, repete tudo que o Merval escreve, como se fossem verdades absolutas.
- Pois é, compre o Merval! Tem o status da Academia Brasileira de Letras.
- Pois é. Vou comprar o Merval e dar a ele. Ele vai gostar.
- Aí, lá na hora do amigo secreto, você descreve assim: "Meu amigo oculto é um..."
- "... é um fã do Merval Pereira".
Se o Jair da história é o Jair Cardoso, jornalista de A Tarde, saiba que ele é pai de Tom Cardoso, o biógrafo de Sócrates, o Brasileiro.
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