quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

DO TSUNAMI DA CORRUPÇÃO...


... ÀS EXPECTATIVAS PARA 2015

J. C. Teixeira Gomes

Até pouco tempo, a imprensa usava a metáfora “mar de lama” para caracterizar a corrupção na vida pública brasileira. Agora, podemos falarem”tsunami”, a onda gigantesca que devasta tudo aquilo que encontra pela frente.
   Numa acareação transmitida pela TV, o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, confirmou o que todo mundo sabia: a corrupção vigora em todas as obras realizadas no Brasil, incluindo rodovias, portos, hidrelétricas, aeroportos, ferrovias etc. Faltou incluir os estádios, mas o povo não se esquece da Copa do Mundo.
    A ênfase que o ex-diretor colocou em suas novas denúncias, confessando-se pressionado pela própria família para livrar-se do drama de consciência que o assolava por ter participado da roubalheira, não deixa margem a dúvidas sobre a veracidade dos seus depoimentos. A longa realidade da corrupção no Brasil os confirma. O mais grave é que grande parte da opinião nacional parece conformada com esse quadro, tanto assim que é comum ouvirmos das pessoas, quando indagamos se fulano ou beltrano é corrupto e mereceria seus votos, a resposta: “Tanto faz, todos roubam!”Eis a preocupante evidência da falência moral de uma sociedade passiva.
    Os intermináveis escândalos da Petrobrás saqueada colocam tremendas dificuldades para o emergente segundo mandato de Dilma Rousseff. No entanto, está mais do que claro de que tanto a mandatária como o PT estão convencidos de que o tempo diluirá o ímpeto do tsunami.
Para aplacar a ira da oposição derrotada nas urnas, uma primeira medida já foi adotada: colocar um banqueiro no comando da economia. Quer dizer: a líder máxima do Partido dos Trabalhadores convoca um conservador para gerir as finanças. O partido calou e consentiu, e era esse o PT que, nas suas origens, iria convulsionar o Brasil e redimir o povo de séculos de exploração. Já se anunciam as tradicionais medidas tão ao gosto do PSDB de Fernando Henrique: arrocho salarial, diminuição do estado, redução de investimentos, sacrifício nas aposentadorias, garrote do funcionalismo etc. É o alvoroçado retorno da velha ordem. O povo outra vez pagando a conta da farra dos encasacados.
    Enquanto isto, silencioso e reverente, o PT aguça as mandíbulas contra a imprensa: jornais anunciam que Dilma Rousseff, ouvindo o coro do presidente do partido, Rui Falcão, e outras lideranças partidárias, já agendou tratar do tão sonhado controle dos meios de comunicação, que seriam sujeitados a um “marco regulatório”. Todos se apressam a esclarecer: não se trata de impor a censura, apenas “restringir monopólios e oligopólios”, palavras feias, para cujo combate a democracia petista pode arregimentar toda a sorte de violências e discriminações. Afinal, não foi através dos “monopólios” e “oligopólios” que a opinião pública acabou sabendo do mensalão e do saqueio da Petrobrás? Vamos botar um “marco regulatório” em cima dessa gente!
    Fim de ano é a época propícia para inventários e balanços. 2014 termina sem deixar saudades, mas apenas os construtores de fantasias vivem a acreditar que mudanças de ano serão sempre mudanças de rumos. Se a esperança é o eterno salva-vidas da humanidade trôpega, no Brasil não poderia ser diferente. É preciso acreditar para não soçobrar, o tsunami continua rolando. Mas, honestamente, que se poderá esperar de um 2015 que começará com um governo politicamente desorientado e acuado pelo formidável trovejar das investigações? E com a economia em desordem?

 Nem a longa tradição da impunidade pátria apagará, tão cedo, da mente da sociedade, o eco da roubalheira retumbante. O estrago já é tão evidente que o antigo PT revolucionário se viu obrigado a colocar no comandoda economia a fina flor da ortodoxia financeira. O que vai resultar dessa mixórdia é o grande enigma de 2015. Afinal, o conselheiro Acácio já lembrava: uma coisa é gerir um banco, outra, administrar as finanças de um país próximo da bancarrota.

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