... ÀS
EXPECTATIVAS PARA 2015
J. C.
Teixeira Gomes
Até pouco
tempo, a imprensa usava a metáfora “mar de lama” para caracterizar a corrupção
na vida pública brasileira. Agora, podemos falarem”tsunami”, a onda gigantesca
que devasta tudo aquilo que encontra pela frente.
Numa acareação transmitida pela TV, o
ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, confirmou o que todo mundo sabia:
a corrupção vigora em todas as obras realizadas no Brasil, incluindo rodovias,
portos, hidrelétricas, aeroportos, ferrovias etc. Faltou incluir os estádios,
mas o povo não se esquece da Copa do Mundo.
A ênfase que o ex-diretor colocou em suas
novas denúncias, confessando-se pressionado pela própria família para livrar-se
do drama de consciência que o assolava por ter participado da roubalheira, não
deixa margem a dúvidas sobre a veracidade dos seus depoimentos. A longa
realidade da corrupção no Brasil os confirma. O mais grave é que grande parte
da opinião nacional parece conformada com esse quadro, tanto assim que é comum
ouvirmos das pessoas, quando indagamos se fulano ou beltrano é corrupto e
mereceria seus votos, a resposta: “Tanto faz, todos roubam!”Eis a preocupante
evidência da falência moral de uma sociedade passiva.
Os intermináveis escândalos da Petrobrás
saqueada colocam tremendas dificuldades para o emergente segundo mandato de
Dilma Rousseff. No entanto, está mais do que claro de que tanto a mandatária
como o PT estão convencidos de que o tempo diluirá o ímpeto do tsunami.
Para aplacar a ira da oposição derrotada nas urnas, uma
primeira medida já foi adotada: colocar um banqueiro no comando da economia.
Quer dizer: a líder máxima do Partido dos Trabalhadores convoca um conservador
para gerir as finanças. O partido calou e consentiu, e era esse o PT que, nas
suas origens, iria convulsionar o Brasil e redimir o povo de séculos de
exploração. Já se anunciam as tradicionais medidas tão ao gosto do PSDB de
Fernando Henrique: arrocho salarial, diminuição do estado, redução de
investimentos, sacrifício nas aposentadorias, garrote do funcionalismo etc. É o
alvoroçado retorno da velha ordem. O povo outra vez pagando a conta da farra
dos encasacados.
Enquanto isto, silencioso e reverente, o PT
aguça as mandíbulas contra a imprensa: jornais anunciam que Dilma Rousseff,
ouvindo o coro do presidente do partido, Rui Falcão, e outras lideranças
partidárias, já agendou tratar do tão sonhado controle dos meios de
comunicação, que seriam sujeitados a um “marco regulatório”. Todos se apressam
a esclarecer: não se trata de impor a censura, apenas “restringir monopólios e
oligopólios”, palavras feias, para cujo combate a democracia petista pode
arregimentar toda a sorte de violências e discriminações. Afinal, não foi
através dos “monopólios” e “oligopólios” que a opinião pública acabou sabendo
do mensalão e do saqueio da Petrobrás? Vamos botar um “marco regulatório” em
cima dessa gente!
Fim de ano é a época propícia para
inventários e balanços. 2014 termina sem deixar saudades, mas apenas os
construtores de fantasias vivem a acreditar que mudanças de ano serão sempre
mudanças de rumos. Se a esperança é o eterno salva-vidas da humanidade trôpega,
no Brasil não poderia ser diferente. É preciso acreditar para não soçobrar, o
tsunami continua rolando. Mas, honestamente, que se poderá esperar de um 2015
que começará com um governo politicamente desorientado e acuado pelo formidável
trovejar das investigações? E com a economia em desordem?
Nem a longa tradição da impunidade pátria apagará,
tão cedo, da mente da sociedade, o eco da roubalheira retumbante. O estrago já
é tão evidente que o antigo PT revolucionário se viu obrigado a colocar no
comandoda economia a fina flor da ortodoxia financeira. O que vai resultar
dessa mixórdia é o grande enigma de 2015. Afinal, o conselheiro Acácio já
lembrava: uma coisa é gerir um banco, outra, administrar as finanças de um país
próximo da bancarrota.
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