quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A CENA NO PORTO

Domingo no Porto da Barra. O sol prestes a concluir sua parábola em direção ao poente.
Uma calma incomum reina na praia: nenhum conflito sonoro, pessoas tranquilamente sentadas na areia entre restos deixados pelos que a freqüentaram durante o dia, guarda-sóis sendo recolhidos; um homem executa languidamente sua flauta doce.
Subitamente, as ações se aceleram: corpos negros em movimentos; uma mulher empunha uma faca; um homem, uma cadeira; um adolescente arranca e brande o pau que sustentava um sombrero.
Lançam-se uns contra os outros, ameaçando-se, vibrando agressivamente os objetos nas mãos. Giram em espiral em torno de um centro imaginário, espalhando areia em várias direções.
- Te mato!
- Vem porra!
- Caralho!
- Você não é homem!
Com um medo esportivo, curiosidade e risinhos tácitos, os banhistas se afastam do grupo em conflito; uma clareira abre-se na praia.    
Amigos dos contendores logo intervêm: gritam, agarram pela cintura e pelo tórax seus protegidos, impedindo-os de consumar as agressões. As ações rapidamente definham; as escaramuças chegam ao fim.
O grupo em embate se dispersa, a clareira se fecha; os banhistas retornam a normalidade.
Fora como um ensaio para uma representação teatral que não será encenada.
O sol desaparecera. Já é noite no Porto da Barra.
Marcos A. P. Ribeiro       

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