quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ZUMBIS NO ORIENTE MÉDIO

JC Teixeira Gomes

 
Israel recolheu seus tanques, após arruinar Gaza. O mundo saiu diminuído e envergonhado de mais essa escalada de destruição, que transformou famílias de palestinos em zumbis.Eis o que disse à revista “IstoÉ” o cidadãoAymanNimer, moradordo centro de Gaza com mulher e três filhas: “Sob as bombas, sem sono, vivo como um zumbi”.
    Nesse novo episódio da crueldade humana, tivemos, de um lado, um dos mais bem equipados exércitos de um Estado moderno, Israel, governado por radicais, e, de outro,um grupo de ativistas, o Hamas, que recorre ao terror porque o mundo não reconhece sua nacionalidade como pátria. A Palestina não é um Estado, em intolerável descumprimento à resolução da ONU que criou também o Estado de Israel em 1947, com o generoso apoio do Brasil.
    A imprensa ocidental eIsrael caracterizam os árabes como uma facção de degenerados. Vou tentar recompor as memórias, lembrando coisas incômodas: o terrorismo é o recurso universal dos desesperados. Não apenas de árabes.Há dias, separatistas russos derrubaram um jato da Malásia. Bascos e irlandeses afirmam sua nacionalidade usando o terror contra Espanha e Inglaterra.Grupos terroristas atuaramna década de 70 na Alemanha(Baader-Meinhof), na Itália (Brigadas Vermelhas, caso Aldo Moro), no Peru (Sendero Luminoso), no Uruguai (Tupamaros). Bem antes, no pós-guerra, os próprios judeus recorreram ao terrorismo para apressar a criação de Israel. Entre várias ações, Menagen Begin, que acabaria “premier”, comandou a explosão do hotel Rei David, em Jerusalém, matando militares britânicos e civis. Em outra espantosa operação, foium jovem judeu fanático que assassinou o grande líder Ithzaq Rabin, para impedir, a mando da direita ultrarradical que domina o país, a consolidação do Acordo de Oslo, assinado com Arafat. O crime inviabilizou o acordo.
    Mas não pretendo usar meu irrisório espaço para fazer a história do terrorismo. O preâmbulo acima é apenas para lembrar que, quando Netanyahu, o premier ultradireitista de Israel, enfatiza a periculosidade do Hamas, omite que esse grupo está reagindo contra uma séria de fatos que inviabilizam a paz no Oriente Médio. Exemplos: a expansão dos assentamentos judeus na Palestina, a construção do muro da vergonha na Cisjordânia, a lembrança de carnificinas como as de Sabra e Shatila, coma cobertura militar de Ariel Sharon, a prolongada ocupação militar israelense, a miserável condição dos refugiados, a resistência do governo judaico à criação do Estado palestino. Os foguetes do Hamas, provocação perigosa e condenável, mas sem eficácia militar, não podem ser respondidos com o massacre e a destruição de Gaza, cidade que é quase um gueto. Leio, espantado, que cerca de 400 crianças foram assassinadas pelos bombardeios judeus.

Fotorecente publicada por O Globo mostrava soldados israelenses, com metralhadoras, obrigando numerosos jovens palestinos a ficarem acocorados no chão, de cuecas. Pensei comigo: um desses jovens será amanhã o homem-bomba que destruirá um mercado em Tel-Aviv. Pois o ódio adubado pela humilhação mergulha suas raízes no inferno.

Um comentário:

  1. Excelente artigo do Mestre J.C. Teixeira Gomes.Parabens,mais uma vez.
    Climerio Andrade

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