PAVÕES DE BELEZA
ÚNICA
A propósito do
vídeo de um mágico pavão branco aqui postado por Sérgio Gomes, ao
compartilhá-lo encantado com a novidade, referi-me aos “sonetos pavônicos” do
grande poeta baiano de Belmonte, Sosígenes Costa (1901-1968), observando não
haver entre os tantos pavões de seus poemas um só dessa cor e, então, resolvi
postar quatro obras-primas desta sua vertente poética, em que exalta essas aves
edênicas, com tal sofisticação em nível cromático e dimensão lírica, que, a meu
ver, ninguémfoi capaz de alcançar em toda a poesia brasileira. Pura arte
literária. Benza Deus...Vão abaixo para fruir e repassar a outros também dignos
de tão alto usufruto sensível,além de arquivar.
QUATRO SONETOS
PAVÔNICOS DE SOSÍGENES COSTA
TORNOU-ME O PÔR-DO-SOL
UM NOBRE ENTRE OS RAPAZES
Queima
sândalo e incenso o poente amarelo,
perfumando
a vereda, encantando o caminho.
Anda
a tristeza ao longe a tocar violoncelo.
A
saudade no ocaso é uma rosa de espinho.
Tudo
é doce e esplendente e mais triste e mais belo
e
tem ares de sonho e cercou-se de arminho.
Encanto!
E eis que já sou o dono de um castelo
de
coral com portões de pedra cor de vinho.
Entre
os tanques dos reis, o meu tanque é profundo.
Entre
os ases da flora, os meus lírios lilases.
Meus
pavões cor-de-rosa, os únicos do mundo.
E
assim sou castelão e a vida fez-se oásis
pelo
simples poder, ó pôr-do-sol fecundo,
pelo
simples poder das sugestões que trazes.
O PRIMEIRO
SONETO PAVÔNICO
Foge
a tarde entre o bando de gazelas.
A
noite agora vem do precipício.
Sóis
poentes, douradas aquarelas!
Mirabolantes
fogos de artifício!
Maravilhado
assisto das janelas.
Os
coqueiros, pavões de um rei fictício,
abremas
caudas verdes e amarelas,
ante
da tarde o rútilo suplício.
Cai
uma chuva de oiro sobre os cravos.
O
grifo sai do mar com a lua cheia
e
as pombas choram pelos pombos bravos.
Um
suspiro de amor do peito arranco.
A
luz desmaia. E o céu todo se arreia
Em
vez de estrela de narciso branco.
(1923)
SONETO AO ANJO
Por
tua causa o meu jardim fechou-se
às
mulheres que vinham buscar lírios,
quando
o poente cor-de-rosa e doce
punha
pavões nos capitéis assírios.
Teu
beijo como um pássaro me trouxe
o
mais azul de todos os delírios.
Por
tua causa o meu jardim fechou-se
às
mulheres que vinham buscar lírios.
Só
tu agora colhes azaleia
e
os cintilantes cachos da azureia,
mágica
flor que em meu jardim nasceu.
Só
tu verás os lírios cor da aurora.
Meu
pavão dormirá contigo agora
e
o meu jardim dourado agora é teu.
(1930)
PAVÃO VERMELHO
Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.
Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.
É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.
Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.
(1937-1959)
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