quinta-feira, 21 de agosto de 2014

OS PÁSSAROS DE BRONZE




BELEZA SOFISTICADA, SEMPRE
Postou ontem, no Facebook, o inspirado artista plástico Chico Mazzoni uma foto reproduzindo tela do célebre maneirista florentino Bronzino (AgnolodiCosimo, 1503-1572), justamente da Madona com o Menino. A altura estética da postagem me reportou a outra grandeza artística: um magistral soneto do baiano Sosígenes Costa, em que ele, com de pintores outros em outros poemas, cita literalmente o nome de Bronzino em verso de um dos quartetos. A oportunidade me reportou de novo ao grande poeta de Belmonte (cidade, por sinal, citada em um dos versos do soneto). É que, analisando este soneto, o saudoso crítico literário paulista José Paulo Paes, responsável maior pelo resgate e valorização da obra do belmontino (1978, 1979, 1980), afirmou que a referência literal ao mestre do maneirismo se devia ao nome do pintor soar “como um adjetivo derivado de bronze”, por invocar uma época de fausto. No ensaio que escrevi sobre Sosígenes Costa, publicado em 2004 (“Travessia de oiásis –A sensualidade na Poesia de Sosígenes Costa”), ousei dar outra versão, para mim mais coerente com o espírito do poema, na sua densidade cromática, dizendo que a referência nominal a Bronzino testemunhava um viés de sofisticação do poeta, ao eleger uma escola de pintura de uma época de transição, o maneirismo, que se propunha a representar a mais apurada técnica da arte do Renascimento. Vista de um ângulo severo, tratava-se de uma decadência, mas uma decadência gloriosa. Abaixo o soneto, ilustrado com a pintura de Bronzino reproduzida por Mazzoni e outra,a escolhida por Mazzoni,em que aparecem Vênus, Cupido e outros, lá do Olimpo...Leiam, vejam e se extasiem-se.
FLORISVALDO MATTOS


OS PÁSSAROS DE BRONZE

Sosígenes Costa

Bronze no ocaso e vinhos no horizonte.
E o mar de bronze e sobre o bronze os vinhos.
No rei das aves o poder do arconte
E o sangue azul nos rubros passarinhos.

No meu telhado eu vejo em vossa fronte,
Meu cardeal, o rubro entre os arminhos.
Pintou Bronzino esses três reis da fonte:
Bronze nas asas, no diadema os vinhos.

O bronze imperial lá está na ponte.
E o bronze voa e esses três reis sozinhos.
Bronzes ao longe e outros no mar defronte.

E o bronze abrasa os pássaros marinhos.
E os reis do ocaso, as aves de Belmonte,
Cantando ostentam seus brasões e arminhos.

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