BELEZA
SOFISTICADA, SEMPRE
Postou ontem,
no Facebook, o inspirado artista plástico Chico Mazzoni uma foto reproduzindo
tela do célebre maneirista florentino Bronzino (AgnolodiCosimo, 1503-1572),
justamente da Madona com o Menino. A altura estética da postagem me reportou a
outra grandeza artística: um magistral soneto do baiano Sosígenes Costa, em que
ele, com de pintores outros em outros poemas, cita literalmente o nome de
Bronzino em verso de um dos quartetos. A oportunidade me reportou de novo ao
grande poeta de Belmonte (cidade, por sinal, citada em um dos versos do
soneto). É que, analisando este soneto, o saudoso crítico literário paulista José
Paulo Paes, responsável maior pelo resgate e valorização da obra do belmontino
(1978, 1979, 1980), afirmou que a referência literal ao mestre do maneirismo se
devia ao nome do pintor soar “como um adjetivo derivado de bronze”, por invocar
uma época de fausto. No ensaio que escrevi sobre Sosígenes Costa, publicado em 2004
(“Travessia de oiásis –A sensualidade na Poesia de Sosígenes Costa”), ousei dar
outra versão, para mim mais coerente com o espírito do poema, na sua densidade
cromática, dizendo que a referência nominal a Bronzino testemunhava um viés de
sofisticação do poeta, ao eleger uma escola de pintura de uma época de
transição, o maneirismo, que se propunha a representar a mais apurada técnica
da arte do Renascimento. Vista de um ângulo severo, tratava-se de uma
decadência, mas uma decadência gloriosa. Abaixo o soneto, ilustrado com a
pintura de Bronzino reproduzida por Mazzoni e outra,a escolhida por Mazzoni,em
que aparecem Vênus, Cupido e outros, lá do Olimpo...Leiam, vejam e se extasiem-se.
FLORISVALDO MATTOS
OS PÁSSAROS
DE BRONZE
Sosígenes
Costa
Bronze no
ocaso e vinhos no horizonte.
E o mar de
bronze e sobre o bronze os vinhos.
No rei das
aves o poder do arconte
E o sangue
azul nos rubros passarinhos.
No meu
telhado eu vejo em vossa fronte,
Meu cardeal,
o rubro entre os arminhos.
Pintou
Bronzino esses três reis da fonte:
Bronze nas
asas, no diadema os vinhos.
O bronze
imperial lá está na ponte.
E o bronze
voa e esses três reis sozinhos.
Bronzes ao
longe e outros no mar defronte.
E o bronze
abrasa os pássaros marinhos.
E os reis do
ocaso, as aves de Belmonte,
Cantando ostentam seus brasões e arminhos.
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