Antonio Risério
Deixando Collor de parte, já que ele não
concluiu o mandato, podemos fazer a seguinte observação. A eleição de Tancredo
marcou o início do processo de construção de um novo Brasil. De lá para cá, os
governos que se sucederam entregaram, ao governo seguinte, um país melhor do
que o que tinham recebido. O grau de contribuição de cada um, na produção de
avanços na vida nacional, é variável. Mas sempre, na passagem do bastão, restou
algum saldo positivo. A triste e solitária exceção, nessa paisagem, é o governo
de Dilma Rousseff, quase sempre sinônimo de fracasso ou retrocesso.
Vejamos. Quando Sarney passou a bola, o
Brasil tinha avançado no caminho da democracia. O Mercosul, em parceria com a
Argentina de Alfonsín, tinha começado a se configurar. E, na dimensão
legislativa, ocorreu um grande avanço histórico, no terreno dos direitos
sociais, com a Constituição de 1988. Com a queda de Collor, Itamar, algo
desacreditado, assumiu em meio à crise. Mas seu governo significou mais um
passo firme no rumo da consolidação democrática. E, sobretudo, deu início ao
processo de estabilização econômica.
Fernando Henrique nos conduziu à
conquista plena da estabilidade econômica, fazendo o que parecia impossível:
nocautear a inflação. O Plano Real se afirmou vitoriosamente. Além disso, FHC
fez a agenda social avançar. Houve redução da pobreza, em consequência do
próprio fim da inflação. Já perto do final de seu segundo mandato, a
desigualdade de renda começou a cair, graças principalmente ao programa Bolsa
Escola (que o PT tratava pejorativamente de “bolsa esmola”, embora fosse
recriá-lo no Bolsa Família). E o Brasil assumiu novo protagonismo no sistema
das relações internacionais.
Em seguida, veio Lula – e os avanços
prosseguiram firmes. Lula alargou em extensão inédita as políticas sociais,
ampliando como nunca o raio da inclusão e a dimensão do mercado interno,
retirando milhões de brasileiros da pobreza, promovendo ascensão social. De
Fernando Henrique, ele não só manteve o tripé macroeconômico, agora sob a
regência do ministro Palocci, como aumentou o peso e estendeu o alcance das
ações internacionais do país.
E Dilma? Bem, ela quebra toda essa
cadeia de avanços, conquistas e realizações significativas. Seu governo meteu
os pés pelas mãos na economia. Estamos hoje numa situação crítica, combinando a
volta da inflação com um crescimento minúsculo, a caminho
da recessão. A agenda ambiental só conheceu retrocessos, a política externa é
atrasada e confusa, a Petrobrás entrou em parafuso, a reforma urbana foi
abandonada, o salário mínimo murcha e assistimos à degradação total dos
serviços públicos.
Assim, pela primeira vez na história
brasileira pós-ditadura militar, um governo vai entregar, ao seu sucessor, um
país muito pior do que aquele que recebeu. Pela primeira vez, nesse período
histórico, será correto falar, com absoluta propriedade e absoluta justeza, de
“herança maldita”. É o retrato acabado do pior governo que tivemos depois da
reconquista da democracia.
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