... DE FACAS COM BONNER?
WILSON GOMES
"Minha presidente brocou ontem", li de de um bróder por aqui; "Dilma foi metralhada no JN", celebrou outro, no Whatsapp. Partidários veem debates eleitorais e, de uns tempos pra cá, as entrevistas "sem edição nem corte" com os presidenciáveis, como um duelo, que precisa ser vencido. E o jornalismo de eleições, claro, no papel de atiçador de brigas que escolheu para si, incita a rusga antes e tenta descobrir, depois, o que aparente é o único que importa: quem ganhou? Partidários são como torcedores. Empregando algum mecanismo de identificação psicológica, ele e o time/o candidato são a mesma coisa; se o time perde, ele perde, se o candidato ganha, ele ganha. Ganhe-se com gol roubado ("roubado é mais gostoso"), com a ajuda do juiz ou chutando umas canelas, o que não podemos é perder ("não vou perder meu voto"). Dando caneladas no adversário, enrolando ou passando por cima do entrevistador, esquivando-se de perguntas e pegadinhas, o importante é "colocar Bonner nas cordas", sambar na cara de Serra, mostrar quem manda.
Acho que deve ter uma função psíquica no desfrute dessas "vitórias", mas como a minha é política e não o universo psi, devo dizer que há muito de autoengano nessa história. Vejamos a entrevista de ontem. Entrevista, não, que com Bonner a entrevista no JN é debate, contenda, conflito. Desde a eleição presidencial passada, a bancada do JN é um ambiente extremamente hostil. Em 2010 ainda prosperou o mimimi clássico da perseguição universal contra o PT, mas depois que a máquina de moer político de Bonner e Poeta triturou Aécio Neves e Eduardo Campos, acho que já podemos trocar esta hipótese paranoica por uma mais adulta: na mentalidade-Bonner, a política representa o vício, só que dissimulado, e o jornalismo representa a virtude, por meio da revelação. Digo isso desde 2010, espero que em 2014 já comecem a acreditar em mim.
Pois bem, Dilma Rousseff sabia o que iria enfrentar (passou por isso duas vezes em 2010) e se preparou para esquivas e jabs. Teve a vantagem de levar a luta para o seu palco e, como se viu, o bonnerismo não joga muito bem fora de casa. Mesmo assim, Bonner-Poeta tiveram maior domínio de bola e foram com tudo pro ataque, mas Dilma se esquivou, enrolou, contra-atacou o quanto deu, e foi de "Ô, Bonner...". "Veja bem, Bonner...". "Espera só um pouquinho" até o apito final. Dilma ganhou? Ganhou o quê?
Está bem, admitamos que Dilma tenha vencido "o debate", o que ela ganhou? Foi arrogante do começo ao fim. Já foi bem antipático esse negócio de estar na própria biblioteca e não na bancada como todo mundo (eu sei, eu sei, que com Lula em 2008 e com FHC antes dele também foi assim... não é este o ponto). Aquelas sobrancelhas arqueadas, a direita ainda mais que a esquerda, são a própria caricatura da arrogância (Desculpem, eu trabalho com comunicação política, não com as verdadeiras intenções das pessoas). Um designer (sic!) de sobrancelhas fez milagres com Michelle Obama, Rousseff deveria experimentar. Depois, Dilma fala mal quando fala espontaneamente: gagueja, enfia um monte de muletas e cacoetes, perde o fio da meada e da concordância, interrompe o raciocínio e começa outros, demooooooora... e haja "vejas bem", apostos e vocativos para simular intimidade, frase começadas com "Eu". E ainda tem a coisa mais antipática de todas em conversa adulta, as perguntas retóricas para ganhar tempo - "Bonner, não pode, não. Sabe por quê? Porque nós...". Na minha opinião, Dilma terá parecido arrogante e enrolada para um observador neutro. E não conseguiu sustentar nenhuma ideia com clareza, integridade (princípio, meio e fim) e consistência. Claro que a marcação dura de Bonner e Poeta provocaram isso, mas, e daí? Bonner e Poeta são candidatos a quê? Como podem perder? E Como ganhar de Bonner pode significar alguma coisa? Pode-se ganhar de Bonner a ainda assim perder, como acho que foi o caso.
Petistas estão celebrando? Sim, o torcedores devem ter ficado felizes. Mas, me digam uma coisa, uma campanha é feita para os que já decidiram que vão votar em Dilma ou para os outros? Se ganhar de Bonner deixa muito animados os já convertidos, alguém se lembrou de perguntar aos 15% que ela precisa ainda conquistar se eles saíram dali convencidos de que ela é a melhor candidata? Em suma, meus caros, quem pergunta "quem ganhou ontem?", não se dá conta que deveria mesmo era perguntar "quantos ela ganhou ontem?". Estão prestando atenção demais na pergunta errada, isso sim.
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