terça-feira, 1 de abril de 2014

EMOÇÕES

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O rosto humano é o palco privilegiado das mais subtis emoções. Mas quantas delas é que conseguimos “ler” na cara dos nossos congéneres com um alto grau de certeza? Até aqui, pensava-se que a resposta era apenas seis – as chamadas emoções de base: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e nojo (há quem acrescente uma sétima, o desprezo). Mas agora, na edição de segunda-feira da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, uma equipa de cientistas nos EUA conclui que serão mais de 20.
O leque de expressões faciais analisado pelos autores deste estudo, que inclui as que correspondem às seis emoções de base às quais se junta uma série de combinações dessas seis – algumas delas até contraditórias –, sugere que o número de estados anímicos que o nosso cérebro consegue discriminar visualmente com fiabilidade no rosto de outrem é pelo menos três vezes maior do que se pensava.
Aleix Martinez e colegas, da Universidade Estadual de Ohio, começaram por fotografar 230 participantes (100 homens e 130 mulheres) a fazer caretas em reacção a frases como “acabou de receber uma fantástica notícia inesperada” ou “há qualquer coisa que cheira mal”. Enquanto a segunda expressão suscita o nojo – uma das emoções ditas de base –, a primeira corresponde a uma “alegre surpresa” – ou seja, a uma emoção compósita, feita da combinação de duas emoções de base.
Emoções mistas
No seu conjunto, as frases que os participantes ouviram suscitavam neles as seis emoções de base, acrescidas de 15 emoções compósitas. Mais precisamente, em tradução livre do inglês: alegria, tristeza, medo (ou susto), raiva (ou zanga), surpresa, nojo, surpresa alegre, nojo alegre, medo triste, raiva triste, surpresa triste, nojo triste, medo zangado, surpresa assustada, medo enojado, surpresa zangada, raiva enojada, surpresa enojada, chocado (mistura de nojo e raiva, com ênfase no nojo), ódio (igualmente mistura de nojo e raiva, mas com ênfase na raiva) e, por último, espanto (medo e surpresa, com ênfase na surpresa).
Os cientistas obtiveram assim vários milhares de retratos e, a seguir, analisaram meticulosamente os componentes das expressões ali estampadas em termos dos grupos de músculos faciais envolvidos na sua criação, tais como a orientação dos cantos da boca ou das sobrancelhas. Recorreram para isso a um método desenvolvido, entre outros, por Paul Ekman, conhecido especialista das microexpressões faciais – e que foi aliás conselheiro científico da série televisiva Lie to Me.
Puderam assim constatar que, efectivamente, cada uma das 21 expressões consideradas envolvia um conjunto único e específico de músculos faciais. E, mais ainda, que esses músculos correspondiam, no caso das emoções compósitas, à combinação dos músculos utilizados para criar cada uma das emoções de base envolvidas. “Por exemplo, a expressão de alegre surpresa conjuga o movimento dos músculos observados na alegria e na surpresa”, escrevem os autores.
Numa segunda fase, a equipa desenvolveu um modelo informático de reconhecimento da face de forma a testar se essas 21 emoções seriam visualmente reconhecíveis no rosto dos participantes. Os resultados falam por si: globalmente, o programa conseguiu identificar as expressões faciais das seis emoções de base em 96,9% dos casos e as das expressões compósitas em 76,9% dos casos.
De facto, a expressão de felicidade é universal: em 99% dos casos, explica a universidade em comunicado, caracteriza-se por uma elevação das maçãs da cara e um sorriso na boca. O mesmo vale para a surpresa, que em 92% dos casos se traduz por olhos arregalados e lábio inferior descaído. Mas o que foi agora demonstrado é que a expressão de uma emoção compósita como “alegremente surpreendido” (ou surpresa alegre) também é muito generalizada – revelando-se, em cerca de 93% dos casos, através dos olhos arregalados (surpresa), da elevação das maçãs da cara (alegria) e a boca na posição “híbrida” de um sorriso aberto.

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