Poucos devem ser os leitores que sabem do que se trata. No
entanto, esta iniciativa de dois franceses – perdão pelo eurocentrismo – é uma
excelente forma de preservar o que sobra da bulimia dos investidores a quem pouco
repugna usar a política de terra arrasada para lucrar mais e mais.
Serge Antoine e Jérôme Monod, sobrevoando de helicóptero, em
1965, a costa da Normandia, notam o avanço e a depredação do litoral, invadido
por um verdadeiro tsunami de concreto. Resolveram criar um órgão que impedisse
esta destruição.
Desde 1975, o Conservatoire du Litoral adquire
terrenos ameaçados ao longo das costas francesas assim, como a margem de
estuários e lagos com mais de 10 quilômetros quadrados. Hoje são 152.800
hectares repartidos em 600 sítios. O
objetivo é adquirir até um terço do litoral francês, antes que seja construído
ou descaracterizado.
Como funciona?
30 milhões de euros são atribuídos pelo governo francês por
ano.
20 milhões da Comunidade européia, mecenato empresarial e
doações particulares.
150 guardas contratados nas comunidades locais e 300
“empregos-jovens” asseguram a fiscalização dos sítios preservados.
30 milhões de visitantes (pagos) por ano nos 100 sítios
abertos ao público contribuem para a manutenção e conscientização.
1.500 quilômetros de costa, não só na França (Bretanha,
Normandia, País Basco, Córsega, Costa Azul etc.) como nos territórios
ultramarinos (Guiana, Reunião, Antilhas etc).
Que tal pensarmos na criação de uma instituição similar no
Brasil, para salvar das garras da especulação o que resta de nosso belíssimo
litoral? Já pensou o que pode advir de pequenos paraísos com Boipeba, Tinharé,
Camamú, os rios Paraguaçu, São Francisco,
a praia de Mangue Seco e tantos outros pelo país afora, se a gente mais
esclarecida não começa a intervir?
A sociedade deve começar, hoje, a tomar consciência da
importância deste patrimônio, senão, o que deixaremos para as gerações futuras
senão imensos desertos/cemitérios de concreto banhados por magros córregos de
águas insalubres?
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