Alguns leitores do jornal A Tarde talvez estranhem, a partir
deste sábado, a ausência de minha coluna quinzenal. Alívio para uns, decepção
para outros. Indiferença para a maioria.
Durante três anos tive como objetivo, dentro de limitado
alcance, alertar a opinião pública sobre omissões e falhas que prejudicam a
evolução da sociedade. Falei de drogas e racismo, de festas populares e
situação carcerária, língua portuguesa e educação, arte contemporânea e
primitiva, restaurantes e botecos, samba e dança de salão, turismo e
cultura, coleções e colecionadores, vizinhos e viagens. Mas o epicentro de
minhas preocupações foi sem dúvida a defesa da memória da Bahia e do centro
histórico de Salvador. Nunca hesitei em apontar omissões dos órgãos responsáveis.
Enfrentei até ameaças de personalidades infinitamente mais poderosas que este
simples colunista.
Durante estes três anos recebi inúmeras provas de apoio, seja
através da internet, seja na fila do cinema, na bilheteria do teatro ou no
acaso das ruas. Escritores me mandaram seus livros, alguns acompanhados de
exagerados elogios.
A partir de julho do ano passado, problemas de saúde mais sérios
me levaram a questionar procedimentos de meu plano de saúde Bradesco. Não
é de hoje que o noticiário dos canais de televisão – até o programa da
comportada Fátima Bernardes - coloca em evidência as falhas, a escancarada má
vontade das empresas que cobram altas mensalidades, pagam mal os médicos
conveniados e desrespeitam seus clientes no momento exato da maior necessidade.
Escrevi um artigo expondo meu caso como emblemático. Afinal não
se trata somente de minha vida, mas também da vida de todos vocês, leitores.
Para minha surpresa e profunda decepção, a redação de tão
respeitável jornal postergou por mais de um mês a publicação de meu escrito sob
vários pretextos. O último destes foi que eu precisava comunicar ao Bradesco a
extensa lista das consultas relacionadas com meu problema.
Como se o Bradesco, neste princípio de século XXI, continuasse
trabalhando com fichários metálicos, telegramas e máquinas taquigráficas! Não
bastava procurar meu nome no banco de dados da empresa para saber,
detalhadamente, quando, como e com quem eu me consultara desde 1997?
Após exagerada insistência, entendendo a inutilidade desta,
resolvi entrar com queixa no Ministério Público e abandonar minha colaboração
com o jornal, pois acho que omitir tão essencial informação é ser conivente com
uma empresa que não tem a vida como maior bem de seus clientes.
Sei perfeitamente das contingências que limitam a liberdade de
expressão da imprensa. No mundo inteiro, esta é refém do poder econômico.
Afinal o banco Bradesco é um dos maiores das duas Américas. Imaginar que a
censura não existe seria pura infantilidade.
Ela acaba de colocar seu dedo nojento na minha ferida.
Não será difícil a redação de A Tarde encontrar quem preencha o
espaço com até muito maior competência. Ninguém é insubstituível.
Para aqueles que se acostumaram a ler meus protestos e
irritações, informo que continuarei a defender minhas idéias através de meu
blog. Hoje a internet veicula notícias e opiniões pelo mundo afora em questão
de segundos. Não que o bom, velho amigo, o jornal de papel, esteja moribundo.
Mas, para um futuro risonho, terá que se adequar a uma nova realidade.
Decepcionado, magoado? Sim, claro. Rancoroso, nunca.
Fiz, neste centenário jornal, vários grandes amigos.
Foi uma ótima parceria.
Dimitri Ganzelevitch
Dimitri, o legado que vc construiu em seu espaço na Tarde - de atitudes, fibra e independência de opiniões - sem qualquer dúvida plantou boas sementes e influenciou positivamente a um número imponderável de leitores nesta terra que cultua o molejo de corpo e a complacência festiva e pouco se coça ante o que é dito através das letras. Não tenho chegado mais no seu blog por estreitamento de tempo, invadidos que estamos pelo caudal cotidiano de informações no papel e no mundo virtual. Mesmo que seja nobre a razão, lamento a perda dessa tribuna, que, para a cidade, não é menor que para o protagonista. Com todos os defeitos e ressalvas, é praticamente o único espaço massivo de discussão razoavelmente aberto que restou na nossa mídia impressa. Almejo que sua voz contundente continue a ser ouvida pelos canais possíveis. Temos um bloguezinho aventuresco e ainda mambembe, embora já esteja entrando na casa dos 20 mil acessos - o www.wagau.blogspot.com.br, ao seu inteiro dispor se acaso quiser dar uma escorregada "da linha" e nos honrar com o seu verbo e/ou imagens - aprecio-as também.
ResponderExcluirGrande abraço,
Luiz Afonso
Dimitri, sinceramente não entendo como Você conseguio tolerar por tanto tempo a clara parcialidade do jornal A Tarde. Esse jornal deixou merecer respeito desde que começou a ter "preço" para as suas publicações. O Bradesco além de ser bom cliente é bom pagador. Sempre li mo seu Blog desde que foi criado, continuarei!
ResponderExcluirUm forte abraço.
Nilson Mendes.
Minha solidariedade Dimitri , mas também saí desse jornal para ceder espaço´para os tolerantes e aduladores. Não morri por isso , nem me abalei com a indelicadeza do antigo dono do jornal que não teve competência para gerir o "prato" preparado pelo avô . Simões Filho era feito de outra fibra.
ResponderExcluirgrande abraço de Consuelo Pondé de Sena .