sexta-feira, 19 de abril de 2013

DESPEDIDA


Despedida
Alguns leitores do jornal A Tarde talvez estranhem, a partir deste sábado, a ausência de minha coluna quinzenal. Alívio para uns, decepção para outros. Indiferença para a maioria.
Durante três anos tive como objetivo, dentro de limitado alcance, alertar a opinião pública sobre omissões e falhas que prejudicam a evolução da sociedade. Falei de drogas e racismo, de festas populares e situação carcerária, língua portuguesa e educação, arte contemporânea e primitiva,  restaurantes e botecos, samba e dança de salão, turismo e cultura, coleções e colecionadores, vizinhos e viagens. Mas o epicentro de minhas preocupações foi sem dúvida a defesa da memória da Bahia e do centro histórico de Salvador. Nunca hesitei em apontar omissões dos órgãos responsáveis. Enfrentei até ameaças de personalidades infinitamente mais poderosas que este simples colunista.
Durante estes três anos recebi inúmeras provas de apoio, seja através da internet, seja na fila do cinema, na bilheteria do teatro ou no acaso das ruas. Escritores me mandaram seus livros, alguns acompanhados de exagerados elogios.
A partir de julho do ano passado, problemas de saúde mais sérios me levaram a questionar procedimentos de meu plano de saúde Bradesco.  Não é de hoje que o noticiário dos canais de televisão – até o programa da comportada Fátima Bernardes - coloca em evidência as falhas, a escancarada má vontade das empresas que cobram altas mensalidades, pagam mal os médicos conveniados e desrespeitam seus clientes no momento exato da maior necessidade.
Escrevi um artigo expondo meu caso como emblemático. Afinal não se trata somente de minha vida, mas também da vida de todos vocês, leitores.
Para minha surpresa e profunda decepção, a redação de tão respeitável jornal postergou por mais de um mês a publicação de meu escrito sob vários pretextos. O último destes foi que eu precisava comunicar ao Bradesco a extensa lista das consultas relacionadas com meu problema.
Como se o Bradesco, neste princípio de século XXI, continuasse trabalhando com fichários metálicos, telegramas e máquinas taquigráficas! Não bastava procurar meu nome no banco de dados da empresa para saber, detalhadamente, quando, como e com quem eu me consultara desde 1997?
Após exagerada insistência, entendendo a inutilidade desta, resolvi entrar com queixa no Ministério Público e abandonar minha colaboração com o jornal, pois acho que omitir tão essencial informação é ser conivente com uma empresa que não tem a vida como maior bem de seus clientes.
Sei perfeitamente das contingências que limitam a liberdade de expressão da imprensa. No mundo inteiro, esta é refém do poder econômico.  Afinal o banco Bradesco é um dos maiores das duas Américas. Imaginar que a censura não existe seria pura infantilidade.
Ela acaba de colocar seu dedo nojento na minha ferida.
Não será difícil a redação de A Tarde encontrar quem preencha o espaço com até muito maior competência. Ninguém é insubstituível.
Para aqueles que se acostumaram a ler meus protestos e irritações, informo que continuarei a defender minhas idéias através de meu blog. Hoje a internet veicula notícias e opiniões pelo mundo afora em questão de segundos. Não que o bom, velho amigo, o jornal de papel, esteja moribundo. Mas, para um futuro risonho, terá que se adequar a uma nova realidade.
Decepcionado, magoado? Sim, claro. Rancoroso, nunca.
Fiz, neste centenário jornal, vários grandes amigos.
Foi uma ótima parceria.
Dimitri Ganzelevitch

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