quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

FINAL FELIZ PARA O CINE-TEATRO JANDAIA?



EM EXCLUSIVIDADE, O TEXTO INTEGRAL QUE TRATA DO PRÓXIMO TOMBAMENTO DESTE IMPORTANTE MONUMENTO BAIANO. 
DATA DE 2010.
ESTOU PESSOALMENTE EXTREMAMENTE SATISFEITO COM ESTA PERSPECTIVA, POIS FUI TALVEZ O PRIMEIRO A PEDIR O TOMBAMENTO DO JANDAIA. MAS COMO MEU PEDIDO FOI AO IPHAN, E ESTA INSTITUIÇÃO NUNCA ME RESPONDEU. 
AGORA SÓ FALTA O DIRETOR GERAL DO IPAC ASSINAR A DECISÃO, O QUE NÃO MAIS DEVERIA TARDAR.

SEGUE O PARECER DA CORES (Coordenação de Restauro de Elementos Artísticos ) DATADO DE DEZEMBRO DE 12012.





GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA 
Secretaria de Cultura 
Conselho Estadual de Cultura 

Parecer 002/10 
Processo: 0607070001120-14 
Autor/Interessado: IPAC 
Assunto: Tombamento do Cine Jandaia 
Através do oficio GAB de n°. 756/2009, o Instituto do Patrimônio Artístico e cultural – IPAC 
encaminhou o processo de nº. 0607070001120-14, contendo o Dossiê de Tombamento do Cine Teatro Jandaia para apreciação deste Conselho. 

• A solicitação do tombamento 
O tombamento do Cine-Teatro Jandaia foi solicitado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Católica de Salvador – UCSAL, através do curso de 
História com Habilitação em Patrimônio Cultural. A solicitação foi acolhida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC enquanto Tombamento Provisório, 
processo nº. 0607070001120-14, notificado a um dos proprietários do imóvel em 26 de maio de 2008. 
O Cine-Teatro Jandaia se encontra na vizinhança do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade do Salvador, tombado pelo Governo Federal mediante processo nº. 1093-T, inserido em área de Proteção Rigorosa de  acordo com a Lei Municipal nº. 3289 de 1983 e, também, na área do Conselho Gestor e do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador, de acordo com o Decreto nº. 10.478 de 02 de outubro de 
2007. 2
O dossiê encaminhado a este Conselho pelo IPAC contém um amplo e bem elaborado conjunto de informações sobre a edificação, com destaque para os seguintes dados: situação e identificação da edificação; apurado e extenso levantamento histórico do bairro onde se encontra o Cine-Teatro; um panorama sobre o cinema; um breve histórico do cinema em Salvador; histórico do bem cultural em questão; estudo do 
entorno; descrição da edificação e tipologia; levantamento gráfico; documentação fotográfica; análise do estado de conservação; parecer; referências bibliográficas; bem 
como diversos anexos (notificação, ofício, informação técnica, documentos e recortes de jornais).  Trata-se, portanto, de uma exaustiva documentação, um meritório relato sobre a 
referida edificação em processo de tombamento. 

• Breve caracterização da edificação 
O Cine-teatro Jandaia foi inaugurado no dia 3 de julho  de 1931 e foi logo denominado “O Palácio das Maravilhas”, por seu valor  artístico, que encantou a população de Salvador no início da época de ouro do cinema falado, por sua expressiva 
arquitetura exterior em estilo Arquitetura Déco e,  principalmente, por seu interior referenciado em composição híbrida de elementos Déco e inserções ecléticas de estuques 
com o dominante florão no teto. Destaque para o colorido “vitraux” com esvoaçante figura feminina emergindo de uma flor e apoiando em sua mão direita um pássaro que, 
em língua tupi, é denominado Jandaia. Este painel vítreo encontrava-se normalmente coberto por espessa cortina para impedir a passagem  da luz multicolorida nas sessões 
diurnas de cinema. 
O imóvel, em sua tipologia, se inspira de forma genérica no partido arquitetônico do teatro italiano, com platéia no primeiro pavimento e camarotes, frisas e galeria (balcão) 
no segundo pavimento, todavia sem confinamento espacial entre estes elementos que são apenas demarcados pela posição hierárquica que ocupam, contornando o grande vazio 
existente sobre a platéia. Mantendo o caráter comum aos teatros da época, a segunda galeria, localizada no último pavimento, com entrada específica pela Ladeira do Alto *, 3
espaço segregado e destinado às camadas populares –  na época sugestivamente denominado de “Geral”.  Esse mesmo dispositivo de segregação social era também encontrado, na época, no Cine Aliança na Baixa dos Sapateiros, no Cine Santo Antônio na ladeira de São Francisco e, posteriormente, no Cine Pax (1940).  
Desde sua fundação, o Cine-Teatro Jandaia foi palco de significativos eventos culturais, tanto na área da música quanto na do teatro, com apresentações de renomados artistas nacionais e estrangeiros, e isso, apesar da discriminação manifestada então pela elite soteropolitana, em decorrência de sua localização na Baixa dos Sapateiros (Avenida J.J. Seabra), localidade considerada de natureza popular quando confrontada com a Rua Chile, lugar elegante e por ela preferido.  Entretanto, foi no universo do cinema que o 
Cine-Teatro Jandaia atingiu a sua função cultural maior e, sem dúvida, de cunho bastante popular, com realizações de sessões de cinema pela manhã aos domingos e feriados (matinais), diariamente pela tarde (matinês) com dois filmes e a série, e à noite (soirées) com exibição de apenas um único filme em duas sessões.   
Na década de 60, frente ao exemplo dos bailes carnavalescos do Teatro Municipal e do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro, os proprietários do Cine-Teatro Jandaia promoveram com sucesso bailes de carnaval, todavia, não destinados às elites como no Rio, mas às camadas populares, pois, as elites de Salvador freqüentavam os clubes sociais seletivos (Baiano de Tênis, Associação Atlética e Yate Clube). Essas bem sucedidas 
atividades, bem como a programação de filmes sacros durante a Semana Santa, faziam do Cine Jandaia um acontecimento na cidade, em decorrência do afluxo de multidões de 
populares  que o freqüentavam.  O crescimento de Salvador, relacionado à criação e ocupação das avenidas de vale, 
à Avenida Paralela, à implantação do CAB, à proliferação de shoppings com salas de cinema e estacionamentos, à crescente insegurança e violência urbana, à expansão dos programas televisivos, entre outros fatores, contribuiu para que ocorresse o fechamento dos cinemas no seu Centro Histórico. O Cine-Teatro Jandaia, desde o final da década 70 até o seu fechamento no novo milênio, sobreviveu exibindo filmes de karatê e, 
especialmente, filmes pornô. 4

• Parecer sobre o tombamento 
O exemplar e meritório dossiê de mais de 100 páginas, elaborado pelos assessores e técnicos do IPAC, demonstra preocupação e interesse pela preservação do imóvel em 
processo de tombamento. Na página 84 do mesmo encontra-se o parecer de autoria da Gerente de Pesquisa e Legislação Patrimonial do IPAC, Nara de Souza Gomes, pronunciando-se favorável ao tombamento. Seu parecer evidencia não apenas o valor artístico/arquitetônico do imóvel, mas também, o seu valor de memórias, justificando o tombamento por se tratar de um singular exemplar de Arquitetura Déco em nossa cidade 
e, também, por seu valor de memória em relação às gerações que vivenciaram a sua história plena de eventos culturais, exibições cinematográficas e bailes populares, elementos suficientes para o tombamento definitivo e a restauração do Cine Jandaia. 
Igualmente, o nosso parecer é também favorável ao Tombamento Definitivo do Cine-Teatro Jandaia, pelas mesmas razões acima apresentadas, ou seja, pelo seu valor artístico e seu valor de memória. Contudo, resta uma relevante preocupação, ou seja, a sua efetiva destinação, questão que merece uma urgente e necessária reflexão.  Tombar e 
restaurar para que função cultural? Tratando-se de um bem privado como encaminhar a questão? Desapropriá-lo, estabelecer parceria com a iniciativa privada? Torná-lo um espaço multiuso (casa de “shows”, bailes populares, cinema, teatro, exposições, museu do cinema baiano, da imagem e som da cultura baiana) entre outras eventuais destinações? Seja qual for o seu destino cultural, resta a questão da acessibilidade, particularmente em relação ao transporte coletivo, pois o imóvel deveria manter o seu caráter de afluência popular e, neste sentido, um estudo aprofundado sobre essa questão deveria ser desenvolvido.  
Sugerimos ao IPAC e/ou ao Escritório de Referência do Centro de Salvador, ou ambos conjuntamente, que promovam um encontro específico para avaliar a destinação dessa importante realização arquitetônica baiana do início da primeira metade do século XX, no sentido de definir a sua destinação e acessibilidade no devir-cultural da Cidade do Salvador no século XXI. 5

• Parecer conclusivo 
Tendo em vista as razões acima expostas, somos de parecer favorável ao tombamento definitivo e à restauração do Cine Teatro Jandaia, conforme proposto pelo IPAC, ao que acrescentamos, à guisa de complemento, a necessidade de definição consistente quanto à destinação, funcionamento e acessibilidade urbana desta singular e memorável edificação, parte da história da arquitetura moderna produzida na Bahia e 
parte da história da Cidade do Salvador e de seu Centro Histórico. 


Salvador, 14 de abril de 2010. 
Pasqualino Romano Magnavita 
Presidente da Câmara de Patrimônio do CEC/BA



* UM LEITOR ESCREVE;
Um reparo eu faço
 Não é Ladeira do Alto, mas Ladeira do Alvo, por onde entrei muitas vezes para asistir aos filmes proibidos lá na "geral". Valeu a nota, amigo. Um abraço,.
Gilberto Oliveira Santos


OBRIGADO DIMITRI. BOA A NOTÍCIA DO TOMBAMENTO DO JANDAIA.
 MEU PARECER SOBRE OS INSTRUMENTOS CONSTRUÍDOS (E A GRANDE MAIORIA DELES  TAMBÉM
CRIADOS) PELO MULTIARTISTA WALTER SMETAK , TAMBÉM FOI ACEITO. O TOMBAMENTO FOI
 SOLICITADO - HÁ MAIS DE DOIS ANOS -  PELA ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DE WALTER SMETAK , QUANDO EU PRESIDIA A
 MESMA. ELES (CERCA DE + DE 80)ESTÃO EXPOSTOS NO SOLAR DO FERRÃO , NO PELÔ. 

TUZÉ DE ABREU


PARECER  DA CORES

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Um comentário:

  1. Ufa! Pelo menos uma boa notícia, de quando em quando...
    Um abraço
    marcos palacios

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