quinta-feira, 22 de novembro de 2012

UM CHARUTO PARA ZÉ DIRCEU


Em 1969, PAULO DE TARSO VENCESLAU participou dos GTA (Grupos de Ação Tática) da ALN, em que atuou em diversas ações de roubos à mão armada, até ser escolhido por Joaquim Câmara Ferreira, o "Toledo" da direção da organização, para participar do sequestro de Elbrick, idealizado por integrantes da Dissidência Comunista da Guanabara, no Rio de Janeiro.

Venceslau atuou no sequestro - comandado pelo companheiro de ALN Virgílio Gomes da Silva, o Jonas - ocupando a limusine do embaixador com outros guerrilheiros e, nos dias em que o diplomata esteve em cativeiro, foi o elo de ligação entre as organizações do Rio e de São Paulo, viajando de uma cidade para outra e levando os nomes a serem incluídos na lista exigida em troca do resgate.
 Preso numa emboscada policial em São Sebastião,litoral de São Paulo, em 1 de outubro de 1969, menos de um mês após o sequestro, ele foi levado para a Operação Bandeirantes-OBAN, na capital paulista, onde foi torturado por três dias.
Julgado e condenado pelo sequestro, Venceslau foi solto em dezembro de 1974 e formou-se como economista. Integrante do Partido dos Trabalhadores nos anos 80,
 ele exerceu as funções de secretário de finanças da prefeitura de Campinas e assessor da prefeitura de São Bernardo do Campo
Abandonou o PT nos anos 90 em meio a grandes controvérsias, denunciando corrupção e mau uso de verbas públicas de prefeituras municipais administradas na época pelo partido.


De passagem
Por Paulo de Tarso Venceslau
Um misto de alegria e tristeza tomou conta de mim quando foi computado o voto do Ministro Marco Aurélio de Mello, que estabelecia a maioria necessária para o STF condenar José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-ministro chefe da Casa Civil do governo petista de Luís Inácio Lula da Silva.
Alegria, por causa da certeza que a democracia venceu a queda de braços com a burocracia petista. Tristeza, por ver um antigo companheiro ser condenado por práticas que não condizem com os anseios da sociedade brasileira quem ele insiste em ignorar.
Caminho tortuoso
Zé Dirceu, como é conhecido o ex-ministro, não é mais o mesmo que conheci nos anos 1960 e que voltei a reencontrar no final da década seguinte, quando eu acabava de cumprir mais de cinco anos de prisão política e ele vivia clandestinamente no interior do Paraná, desde seu retorno de Cuba. Dúvidas e mistérios existem desde então. Entre os remanescentes da antiga Ação Libertadora Nacional - ALN, uma organização guerrilheira que assumiu a luta armada como a principal forma para se combater a ditadura, Dirceu era acusado de ser um agente da G2, serviço secreto cubano, usava farda militar de combatente da revolução, ninguém sabia onde ele morava, deslocava-se em veículos do estado cubano e fumava charuto nacional (cubano). Os militantes da ALN, por outro lado, viviam clandestinamente em Cuba, mal alimentados, fumavam cigarros populares e charuto só em condições muito especiais. Em meados dos anos 1990, eu trombei de frente com Lula, liderança máxima do PT, por causa da defesa que ele fazia de seu compadre Roberto Teixeira em suspeitos contratos de prestação de serviço a prefeituras comandadas por petistas. Esse episódio levou à minha expulsão do PT em fevereiro de 1998. Era ovo da serpente, metáfora usada para exprimir a constatação de um mal em processo de elaboração, em incubação. Durante o desenvolvimento desse ovo, pode-se acompanhar a lenta e inexorável evolução do monstro que está se criando. Dirceu já vivia um dilema desde 1994. Na ocasião, chegou a afirmar que Lula era uma ameaça para a esquerda brasileira por falta projeto, ideologia e valores éticos e morais. Naquele ano, após disputar o governo paulista, Dirceu se dizia frustrado com os rumos do PT. Lula havia disputado a presidência da república pela segunda vez. O ex-ministro ameaçava o próprio quando dizia que não arcaria com os estragos políticos provocados pelos recursos da Odebrecht que entraram na campanha presidencial através da sua. O clima era tão tenso que Dirceu chegou a anunciar seu afastamento do PT para trabalhar como advogado pela primeira vez na vida. Para tanto, associou-se a duas advogadas petistas em um escritório alugado na Vila Mariana, imediações da estação Santa Cruz. O escritório, porém, ainda não havia iniciado suas atividades quando, em 1995, Lula e Dirceu pactuaram um acordo (as bases são desconhecidas até hoje) que resultou na eleição de Dirceu para a presidência do PT. O acordo perdurou até a eleição de Lula em 2002, que fez de Dirceu o homem forte do primeiro governo petista. Sem dúvida, foi um acordo vitorioso. Sonho doentio pelo poder absoluto Dirceu sempre teve uma obsessão pelo poder. Foi essa ambição desmesurada pelo poder que quase levou de roldão o governo de Lula em 2005, ameaçado de processo de impeachment pelo Congresso Nacional por causa do mensalão. Foi essa megalomania que acabou com sua carreira política e poderá transformá-lo em preso comum.Obcecado com a construção de sua candidatura à sucessão de Lula em 2010, Dirceu abriu flancos que o fragilizaram e o conduziram à recente condenação por corrupção ativa pelo STF. Durante os três primeiros anos do governo Lula ele não pensava e não fazia outra coisa além de costurar apoios e alianças que julgava imprescindíveis para seu sucesso em 2010. O próprio Lula sentiu-se incomodado com a desenvoltura de Dirceu na condução política de seu governo e, por isso mesmo, recusou a proposta de seu ministro da Casa Civil que insistia em uma aliança mais sólida e profunda com o PMDB. Lula tinha certeza que naquele momento a aliança proposta o faria refém de Dirceu e de seus aliados pessoais junto ao PMDB. Curiosamente, após o afastamento de Dirceu da Casa Civil, Lula retomou a mesma aliança em 2006, que o reelegeu, garantiu sua governabilidade até 2010 e elegeu sua sucessora com Michel Temer como vice. Havia, porém, uma pequena enorme diferença: era Lula quem comandava e não mais seu ex-ministro.
Um charuto para o Zé
Defenestrado do governo, Zé Dirceu transformou-se da noite para o dia em um bem sucedido “consultor”, embora, às vezes, tentasse enganar os mais desavisados afirmando que vivia de honorários de advogado. O sucesso dessa empreitada como “consultor” transformou-o em um homem muito rico graças ao estreito vínculo que ainda mantém com o governo cubano (leiase G2); e o controle que exerce sobre a máquina administrativa do governo federal.

A sua condenação poderá levá-lo à prisão. Caso isso ocorra, terá de enfrentar um novo desafio: manter o controle do PT e da máquina administrativa federal da mesma forma que o crime organizado o faz de dentro dos presídios. Eu não duvido. A fase outonal da vida já me ensinou alguma coisa. Por exemplo, durante os mais de cinco anos que passei como preso político da ditadura, ele sequer me levou um único cigarrinho. Poderia ter enviado por outras pessoas como muitos outros companheiros o fizeram. Mas eu não farei o mesmo. Assim que ele for enjaulado como preso comum, juro que não deixarei que lhe falte charuto nacional, brasileiro. Infelizmente, não tive uma carreira tão brilhante como a dele a ponto de poder comprar-lhe Cohiba, Partagas, Montecristo ou Romeu y Julieta. Deixo essa parte para seus amigos da G2



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