domingo, 11 de novembro de 2012

O PREÇO DE UMA ÍNDIA VIRGEM...


20 REAIS  
                                                            Laerte Braga


Uma jovem brasileira de 20 anos leiloou sua virgindade na internet e fechou um contrato no valor de 1,5 milhão com um comprador japonês. O “evento” vai acontecer a bordo de um avião e as tratativas estão sendo feitas, mais ou menos o que pode e o que não pode, acerto de data, etc.

Uma jovem índia de 12 anos de idade vale 20 reais para um latifundiário, um vereador, um comerciante e dois militares do Exército no município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. E dependendo das circunstâncias os 20 reais podem se transformar num celular, ou numa caixa de bombons.

A negativa a uma oferta dessas pode implicar em morte. A denúncia também. A Polícia do estado investiga o caso faz tempo, não chega a conclusão alguma, lógico, o que valeu agora a entrada da Polícia Federal na história.

O de sempre. Testemunhas ameaçadas, famílias coagidas, na cabeça dessa gente índio não é gente, é bicho. Preconceito puro. Quem tiver oportunidade de conversar com militares brasileiros que servem na região vai ouvir que “índios são sujos”, “índios vivem bêbados” e “índias são prostitutas”. É a formação humana que recebem nas academias onde se cultua o golpe de 1964.  Em hipótese alguma admitem que o avanço sobre as terras indígenas e toda a barbárie do homem branco são alguns dos fatores responsáveis pela degradação de várias tribos.

A exploração sexual de meninas indígenas, algumas até com 10 anos, está denunciada desde 2008 e permanece intocada. Os governos estaduais e o governo federal costumam olhar publicamente para um lado e de fato para outro. O prefeito eleito de Manaus, o ex-senador Artur Virgílio, fez o diabo, o que pode e não pode, para escapar de ser indiciado na CPI dos menores, acusado de crime de pedofilia. Conseguiu, é claro, o Congresso, em sua grande maioria, é clube de amigos e inimigos cordiais.

É uma das faces da falência do institucional. Há uma decisão do ministro Marco Aurélio Mello, paladino da moral e dos bons costumes, absolvendo um latifundiário do crime de relações sexuais com uma adolescente de 12 anos. Tem tempo, mas não tanto assim. O ministro alegou, em seu voto, que a menina tinha consciência do que fazia. Tinha sim. Era vendida pela própria mãe. Do que restam dois criminosos. O que vende e o que compra.

A despeito da decisão de uma desembargadora do Tribunal Regional Federal garantindo a posse da terra dos Guarani-Kiowás no Mato Grosso do Sul ainda não está resolvido  o problema. Suspende o despejo dos índios. De passagem é bom dizer que suspende o despejo dos índios em suas próprias terras. Prevalece o poder do latifúndio. É um dos grupos que forma a base de apoio do governo. No duro mesmo, base de chantagem que o governo aceita.

Laerte Braga
É jornalista, trabalhou no Diário Mercantil e no Diário da Tarde
de Juiz de Fora, para os Diários Associados
 e pela agência Meridional
(primeira grande agência de notícias do Brasil)
 e também dos Diários e Emissoras Associadas,
tendo sido correspondente do Estado de Minas de Juiz de Fora
 e Zona da Mata, e também trabalhou como freelancer
para revistas e jornais do Brasil e de outros países.
Laerte escreve semanalmente ao Diário Liberdade.

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