A poeira do carnaval não assentou e já enfrentamos a realidade, longe dos confetes que os garis acabam de varrer. Em breve chegarão as chuvas a comprovar a generosidade do ex-ministro da Integração Nacional. Em princípio, após a cornucópia de benesses – a Bahia não foi o estado que mais verba recebeu? - não deveríamos ter o mínimo problema. Teremos, sem a menor dúvida, a capital mais segura da federação. Mas algo me alegra especialmente: deixar de aturar os clipes publicitários da Secretaria Estadual de Turismo. Não agüento mais com a visão “Ó pai ó” do povo da Boa Terra. Saturei de tanto folclore básico, repetitivo e redutor, salpicado com boa dose de erotismo. Basta de berimbau e fitinhas do Bonfim como símbolos únicos e incontornáveis! Chegou o momento do próprio negro contestar a imagem estereotipada imposta pelos paradigmas da sociedade. Enquanto a Casa Grande continua administrando o destino das terras, a senzala pode rir e cantar e bailar porque é ótimo para a imagem na TV.
Seria tão bom se a propaganda oficial mostrasse que, mesmo em tempo de Rei Momo, temos advogados, médicos, arquitetas e antropólogos de cabelo crespo, economistas e cientistas de boca larga, geólogos e biólogas com alta concentração de melanina. Limitar a importância do afro-descendente a meia-dúzia de arquétipos: ritmo no sangue, alegria tão constante quanto irresponsável, linguajar engraçado e anedóticas superstições é tão preconceituoso quanto o “No dog, no black”. Hoje, o cotidiano prova já não ser tão maniqueísta assim. Se nos concertos sinfônicos e nos restaurantes colunáveis ainda são raridade, já deixaram de limitar sua atuação ao campo de futebol e ao pandeiro. Está na hora de mudar o chavão do neguinho adormecido no passeio debaixo de um sombreiro de palha, acordando para sambar ao ritmo sincopado de uma caixa de fósforos. Se a conservação de ancestrais características culturais e comportamentais é salutar, os governantes têm a obrigação de redefinir o perfil do baiano negro e seu exato lugar na atualidade brasileira.
Caro Dimitri,
ResponderExcluirTenho batido muito nessa tecla em vários artigos. Um, em especial, causou um leve rebuliço em meia dúzia de três ou quatro aqui na cidade. Segue o link e um abraço afetuoso:
http://teatronu.blogspot.com/2010/08/pobreza-cultural-de-salvador.html