Devo um pedido de desculpa a um blogueiro que me telefonou neste último domingo. Ele tinha recebido o texto “Carnaval do apartheid” pela internet com meu nome no fim. Completamente amnésico (a velhice!), neguei ter mandado. Abrindo meu computador, constatei que sim, eu tinha mandado. Peço desculpa e agradeço que o blogueiro se comunique de novo comigo.
A hipocrisia é o ingrediente mais corriqueiro em política. França, Itália, EUA e outros países passaram quatro décadas sabendo perfeitamente dos abusos do ditador Khadafi, mas nunca deram bola para a dramática miséria do povo líbio. Por quê? Pela simples existência da fartura de petróleo, essencial ao mundo ocidental. A indignação começou quando os movimentos sociais se fizeram mais óbvios, parecendo haver mudança de poder. Agora, de repente, ficam escandalizados, mandam aviões e bombardeiam alegremente, matando partidários do Khadafi e também inocentes. Mas se o ditador conseguir se manter no poder? Podem ter a certeza de que as potências ocidentais tornarão a fazer vênia.
A família Roriz é a família Sarney que deu errado.
Não foi manchete nos jornais, mas deveria: O ex-governador Anthony Garotinho propõe uma CPI da Copa. Será que o evangélico virou anjinho? Mais provável é que haja outra motivação menos ética. Em todo caso, que esta Copa do Mundo possa vir a dar um tsunami de CPIs não resta dúvida. Com tanta grana envolvida, alguém acha que o esporte ainda é o mundo da bondade e lisura?
De Gaulle costumava dizer que a Unesco era um “escritório sem referência”. Pelos vistos o Ipac já tem uma sucursal desta instituição no Pelourinho.
A família Obama passou rápido pelo Brasil, mas soube seduzir a opinião popular. Chamou a atenção a elegância simples e sofisticada do casal; notáveis o corte dos ternos do Barak e os belos longos da Michelle. Fora isso, nada nos discursos oficiais desmentiu aquilo que eu previa quando da eleição do primeiro negro dos EUA: antes de afro-descendente, ele é americano. Além do mais, com um Congresso todo-poderoso, ele não tem a liberdade de grandes iniciativas.
Boatos, sempre eles, listam possíveis candidatos a diretor do Museu de Arte Moderna de Salvador. Assustador. Vamos fazer uma corrente e rezar para que a competente Stella Carrozo seja nomeada? Sua trajetória comprova a capacidade desta notável italiana. Ninguém torça o nariz para a terra de Lina Bô Bardi, per favore!
No filme de Bernard Attal “A coleção invisível” como o Othon Bastos não podia abrir mais um compromisso na sua agenda, quem foi convidado foi Walmor Chagas, no papel principal. Uma das próximas seqüências será num antiquário rua Ruy Barbosa.
Jornalistas de A TARDE divulgam Carta Aberta contra demissão de colega
8/2/2011
CARTA ABERTA DA REDAÇÃO
Hoje é um dia triste para não só para nossa história pessoal, mas também para A TARDE e, principalmente, para o jornalismo da Bahia. Um dia em que A TARDE, um jornal quase centenário e que já foi o maior do Norte e Nordeste e que tinha o singelo slogan “Saiu n´A TARDE é verdade” se curvou. Cedeu a pressões econômicas difusas e demitiu um profissional exemplar.
Aguirre Peixoto teve a cabeça entregue em uma bandeja de prata a empresas do mercado imobiliário em uma tentativa de atração/reaproximação com anunciantes deste setor. Tentativa esta que pode dar certo ou não. Uma medida justificada por um suposto “erro grosseiro” não reconhecido pela Diretoria de Jornalismo, pelo Editor-Executivo, pelo Editor-Chefe, por secretários de Redação, Editor Coordenador ou editores de Política.
Uma medida, enfim, que só pode ser entendida como uma demonstração de força excessiva, intimidatória à autoridade da Direção de Jornalismo, à Coordenação de Brasil e à Editoria de Política. Uma demonstração de força desproporcional, porque forte não é aquele que age com força contra algo ou alguém mais fraco. Forte seria enfrentar, como o jornalismo de A TARDE estava enfrentando, empresários que iludidos pela promessa do lucro fácil e rápido põem em risco recursos financeiros de consumidores, o meio ambiente da cidade e que aviltam, desta forma, toda a cidadania soteropolitana.
Aguirre era o elo mais fraco da corrente. Acima dele havia editores, coordenador, secretários de redação, editor-executivo, editor-chefe, diretor de Jornalismo. Todos, em alguma medida, aprovaram a pauta, orientaram o trabalho de reportagem e autorizaram a publicação da reportagem. Isso foi feito sem irresponsabilidades, pois não foi constatado nenhum erro, muito menos um “erro grosseiro”. Se algum erro foi cometido, o erro foi o da prática do jornalismo, uma atividade cada vez mais subversiva em época em que propositadamente se misturam alhos e bugalhos para confundir, iludir, manipular a opinião pública, a sociedade, a cidadania. É de se estranhar que uma empresa que se coloca como defensora da cidadania aja de tão vil maneira contra um de seus melhores profissionais.
Recapitulando, Aguirre foi pautado para dar sequência às reportagens que fazia sobre a Tecnovia (antigo Parque Tecnológico). O fato novo era uma liminar concedida pela 10ª Vara Federal em que cassava multa aplicada ao empreendimento pelo Ibama. Era essa a pauta. No dia seguinte, a Tribuna da Bahia publicou matéria em que dizia que a liminar (decisão que pode ser revista) acabava com o processo criminal contra o empreendimento, que envolve Governo do Estado e duas poderosas construtoras. A matéria de A TARDE – dentro do padrão de qualidade que um dia fez deste um jornal de referência – ouviu o MPF e mostrou que se tratava de dois processos distintos. O da multa, que foi cassada liminarmente e que o MPF afirmava que recorreria da decisão; e o criminal, que continuava em tramitação normal. A matéria de A TARDE estava tão certa que o MPF, posteriormente, publicou nota oficial na qual desmentia o teor da reportagem da Tribuna da Bahia (jornal que serve a interesses não republicanos, para dizer o mínimo). Essa foi a razão suficiente para o repórter ter a cabeça entregue como prêmio a possíveis anunciantes.
O interesse público? A defesa da cidadania? O histórico ético, de manchetes exclusivas, de boas e importantes reportagens? Nada disso importou a A TARDE. Importou a satisfação a um grupo de empresários, a uma, duas ou três fontes insatisfeitas. Voltamos a tempos medievais, quando fontes e órgãos insatisfeitos mandavam em A TARDE, colocavam e derrubavam profissionais. Tempo em que o jornalismo era mínimo.
“Jornalismo é oposição. O resto é balcão de secos e molhados”. Essa é uma famosa frase de Millor Fernandes. Dispensado o radicalismo dela, é de se ter em mente que Jornalismo é uma atividade que incomoda. Defender o conjunto da sociedade, seu lado mais fraco, incomoda. É preciso que a Direção de A TARDE entenda que a sustentabilidade do negócio jornal depende do seu grau de alinhamento com a sociedade civil (organizada e, principalmente, desorganizada). A força de um veículo de comunicação não está nos números de circulação ou de de anunciantes, mas nas batalhas travadas em prol dos direitos coletivos e individuais diariamente aviltados pelo bruto e burro poder econômico.
Credibilidade é um valor que se conquista um pouco a cada dia e que se perde em segundos. E, graças a ações como esta, a credibilidade de A TARDE escorre pelo ralo a incrível velocidade, assim como sua liderança, assim como seus anunciantes. Sem jornalismo, o jornal (qualquer jornal) pode sobreviver alguns anos de anúncios amigos. Mas com jornalismo, um jornal sobrevive à história.
Repercussão no Bahia Noticias
Editor-Chefe do jornal A TARDE, da Bahia, é demitido
13/2/2011
Após o polêmico afastamento do jornalista Aguirre Peixoto, que gerou diversas manifestações e até mesmo paralisações dentro da redação de A TARDE, outra demissão abala o antigo vespertino da Praça Castro Alves, que completará seu centenário no próximo ano. Desde ontem, o jornalista, escritor, poeta, acadêmico e professor de gerações da imprensa baiana, Florisvaldo Mattos, já não assina o Expediente do Jornal. Em seu lugar assumiu Ricardo Mendes. Quanto à razão da demissão de Aguirre, ao contrário do que se comenta - matéria sobre o segmento imobiliário - motivo maior teria sido a entrevista de página inteira com o ex-secretário da Fazenda Antônio Ribeiro, que o Jornal publicou, contendo críticas e informações sobre a real e periclitante situação do Tesouro Municipal. De quebra, números nada agradáveis sobre o Caixa Estadual.
E já que estamos citando o excelente Bahia Notícias, de Geraldo Vilalva, aqui vão outras notícias pescadas na mesma publicação:
Conselho desconfia que Promotores e Procuradores receberam pagamentos irregulares de vantagens
O Conselho Nacional do Ministério Público determinou a abertura de Procedimentos de Controle Administrativo a fim de apurar a legalidade dos pagamentos de auxílio-moradia, auxílio-transporte, auxílio-alimentação e conversão de férias ou licença-prêmio em pecúnia a promotores e procuradores. O CNMP fará um rastreamento em todo o Brasil para localizar possíveis irregularidades. Quem recebeu, devolverá o dinheiro ao Estado.
Prefeitura de Salvador incentiva o mau pagador e libera multas e juros
Os milhões gastos pelo prefeito João Henrique, solicitando aos contribuintes o pagamento em dia dos tributos municipais foram, literalmente, para o lixo da irresponsabilidade. Quem, durante anos e anos não pagou no dia certo, agora recebe o bônus e o afago de sido bafejado pela liberação de milhões em multas e juros. Isto vale para as cobranças de IPTU e ISS.
Carnaval de Salvador mais pobre com o fim do Campo Grande
O Campo Grande, antigo espaço disputado pelas empresas que comercializavam camarotes a preços altos, praticamente se despede do carnaval baiano. Este ano só existem montagens de arquibancadas e os espaços para receber o governador, prefeito, vereadores e convidados. Nem mesmo as emissoras de TV e rádios resolveram, ainda, investir em cabines mais estruturadas. Uma tradição dos ricos e festivos camarotes cor de rosa, onde pululavam fantasias bem recortadas vestidas por gente da sociedade e empresários, movidos a bebidas finas e gostosos acepipes, deu um adeus definitivo. Os blocos afros desfilarão uma saudade para o asfalto vazio. A foto mostra o que era a praça em outros carnavais.
Salvador é uma das capitais que menos investem no Brasil
A capital baiana, com R$ 198,8 milhões em 2009, nem entrou na lista das 10 maiores do Brasil e ainda perdeu a liderança no Nordeste para Fortaleza (R$ 198,8 milhões). Assim mesmo recebeu R$ 95,3 milhões do governo federal e R$ 32,4 milhões do Estado em transferências voluntárias.
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