Adivinho a reação de alguns leitores: “De novo! Este cara só sabe reclamar...” Pois é. Há várias décadas ganhei meu doutorado honoris causa de Chatus Impenitentus. Agüentem, como diria o Zagalo! Dunque, mais uma vez ...
Acabo, após 35 anos na Bahia, de descobrir que aqui não é Pasárgada. Demorei, né? Pois é. Não posso mais ficar indiferente à abismal mediocridade das músicas de carnaval, à incoerência de um coitado que berra “Vamos reciclar a vida!”, ao surreal auê só porque um animador vai raspar a barba, feia por sinal, e, pelo heróico fato, receber uma gana preta, com direito a duas páginas neste mesmo jornal. Quanto cobrará para tirar o lencinho da careca? E já que estou falando de barbearia, lembram quando La Galisteu raspou o mealheiro para a Play-Boy? Divulgou a marca da lâmina? Não? Pena... Podia ter ganhado mais uns verdinhos! Não me conformo com as bandinhas e bloquinhos que mal disfarçam o tédio ao percorrer o itinerário imposto pelo Pelourinho dito Cultural para iludir os turistas. Repararam no pierrô e na colombina bocejando, arrastando chinelo e olhando o relógio, impacientes de ver o fim do expediente, como qualquer funcionário público? A Bahia pode se orgulhar de ser o único estado a pagar foliões! Como paga grande parte das baianas para ir da Conceição da Praia até o Bonfim. Com as estranhas baianas-dançarinas do Senac, não sei se são pagas, mas também não completam o trajeto, sumindo no Comércio logo após o Trapiche Barnabé. Enquanto isso, cada vez mais as festas vão ficando da cor da marca de cerveja que levou a exclusividade. Que esta atitude predatória seja mais uma agressão a expressões culturais em via de extinção isto parece preocupar pouca gente.
Pois ao gringo que assina a presente coluna, esta verdadeira e lastimável prostituição cultural preocupa, sim. Vocês, soteropolitanos da gema, tão vaidosos por terem nascido a sombra do elevador Lacerda, estão renegando vossa identidade e vossa cultura com a complacente conivência de todas as autoridades. Que pena eu não ser amigo do Rei!
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