Cuidadosamente penteada e devidamente
perfumada, ela declarou “Odeio a classe média!” A plateia, pega em flagrante de
má consciência, deu constrangida risada. Mas afinal, o que é classe
média? Nos EUA, são os que ganham a partir de U$18.700,00 por ano. Já o governo
brasileiro determinou em 2013 que nossa classe média era quem ganhava
mensalmente entre R$291,00 – parece brincadeira - e R$1.019,00. Portanto, quem
ganha R$1.100,00 é um privilegiado. Queira me perdoar o leitor se eu, sempre
mal intencionado, interpretar isso como pura e descarada demagogia.
Com licença: minha definição de
classe média é outra. Classe média, longe das flexíveis estatísticas políticas,
é aquele montão de anônimos que permite a gigantesca máquina social de avançar,
produzir e empregar. É o engenheiro que projeta estradas e impede o novo
edifício de desmoronar, é o médico que tão bem cuidou de minha saúde no ano
passado, é o advogado que me impede de publicar o impublicável, é o editor, o
fotógrafo, o dono da venda ao lado. É o antropólogo que não deixa os últimos
silvícolas serem poluídos pela nossa obsessão em comunicar. É o estilista que
desenhou os sapatinhos da professora, o cacauicultor que está na origem do
brigadeiro que, neste momento, derrete na sua boca. É a dona da pousada que faz
pelo turismo muito mais que os órgãos oficiais, é o restaurador, usando de
produtos que podem afetar sua saúde, que mantêm nossa memória histórica e
cultural. É o auditor fiscal que tenta obrigar os ricaços a pagar seus impostos.
A classe média, minha gente, nos deu
Beethoven, Voltaire, Glauber Rocha, Milton Santos. E não só – apertem o cinto
de segurança! – mas também os que mudaram o rumo da história: Garibaldi,
Engels, Carlos Prestes, Rosa Luxembourg, Napoleão, Fidel Castro, Juscelino
Kubitschek, Che Guevara e Karl Marx. Então, professorinha, pare de ostentar
seus preconceitos classistas! Você também é classe média!
Nenhum comentário:
Postar um comentário