quinta-feira, 15 de outubro de 2015

RUY ESPINHEIRA FILHO



Data de nascimento: 12 de dezembro de 1942
Naturalidade: Salvador, Bahia
Profissão: Jornalista, Poeta e Professor da UFBA
Jornalista e poeta, mestre em Ciências Sociais, professor adjunto de Letras Vernáculas na UFBA. Publicou: Heléboro, Julgado do Vento, As sombras luminosas, Morte secreta e poesia anterior, Antologia breve, Antologia poética, Memória da chuva, Sob o último sol de fevereiro, O vento no tamarineiro, O Rei Artur vai à guerra, Ângelo Sobral desce aos infernos, O fantasma da delegacia, Os quatro mosqueteiros eram três, Últimos temos heróicos em Manacá da Serra, O Nordeste e o negro na poesia de Jorge de Lima e Poesia Reunida.
Poemas do confrade Ruy Espinheira Filho, do livro Poesia Reunida e inéditos, Editora Record, 2a. Edição, 1988:
Inéditos:
ESSA MULHER
A que nunca amei e me ama pensa em mim à noite
Antes de dormir, e nos escombros do sono
Vê o meu rosto suave, arrogante, de há muitos anos
E sente uma mão fria empunhar-lhe o coração.
É bela a que nunca amei e me ama, cada vez mais bela
Com seus cabelos soltos ao sopro da memória,
Com uma voz onde sonham luas que jamais iluminaram
Um caminho que me levasse à que nunca amei e me ama.
É doce essa mulher que acorda e diz o meu nome
Com unção. Seus olhos me fitam do longínquo
E doem em mim como dói nessa mulher que me ama
Amar quem nunca amou, disperso em seus enganos.
A que nunca amei e me ama acaricia a minha ausência
Com pena de mim, que teria sido feliz, bem sabe,
Se a tivesse amado; a ela, que me ama e nunca amei
E nunca hei de amar, como até hoje, amargamente.
CANÇÃO DA LUA DE AGOSTO
Última lua de agosto
Sonhando na noite alta.
Ele a contempla, contempla-a
Até a alma iluminar-se.
Que tece a trama da vida
Pelos lados de setembro?
Ah, que o que for seja como
Esta lua e seu silêncio
Branco, em que, suavemente
Agosto se vai embora
- enquanto ele a mira, mira
como o menino de Lorca.
Bibliografia
Obra poética:
Heléboro (parceria com Antônio Brasileiro)
Julgado do Vento (1979)
As Sombras Luminosas (1981)
Morte secreta e poesia anterior (1984)
A guerra do gato (infantil, 1987)
A canção de Beatriz e outros poemas (1990)
Antologia breve (col de poesia da UERJ, 1995)
Antologia poética (1997)
Memória da chuva (1997)
Ficção:
Sob o último sol de fevereiro (crônicas, 1975)
O vento no tamarindeiro (contos, 1981)
Ângelo Sobral desce aos infernos (romance, 1986)
O Rei Arthur vai à guerra (novela, 1989)
Últimos tempos heróicos em Manacá da Serra (romance, 1991)
Ensaio:
O Nordeste e o negro na poesia de Jorge de Lima (1990)
Contato
Endereço: Cond. Jardim dos Pássaros, Quadra 07, Lote 12, Lauro de Freitas, Bahia
Telefone: 71 3378 0255, 71 9973 8711
Email: refpoeta@terra.com.br
Ruy Espinheira Filho nasceu em Salvador, Bahia, em 1942. Jornalista, mestre em Ciências Sociais, doutor em Letras, professor de Literatura Brasileira, publicou vários livros de poemas. Estreou-se na década de 70, com Heléboro(1974). Reuniu a sua poesia em 1998. Tem ainda publicados livros em prosa, de ensaio, crónicas, contos, novelas e dois romances.
VESTIDOS
Dos vossos vestidos brancos
é que me nascia o dia
aos domingos, e a alma nítida
de uma inquieta alegria.
Dos vossos vestidos brancos
vinha uma luz que esplendia
e desfazia o que era
sombra da noite vazia.
(Ou pior: noite habitada
de ânsias, melancolia,
desejos da carne, assombros,
e outros charcos de agonia.)
Em vossos vestidos brancos
fremia uma melodia
de anjos de tranças brandas
em que meu tremor vivia.
Dos vossos vestidos brancos
me vem o que, neste dia,
aquece o que ainda me resta
de escombros de poesia.
  CIRCO
Raia o sol, suspende a lua,
o palhaço está na rua.
Tremula a lona da praça,
tempos de assombro e de graça.
Ah, que gente tão risonha
nessa cidade que sonha
tigres, grifos, leões de oiro
e mulheres em vôo loiro,
vindas de rússias e franças
- e acima das esperanças...
Nunca além de uma semana
permanece essa profana
prova de que Deus existe
e nem sempre a vida é triste.
Baixa o sol, se esconde a lua,
não há mais nada na rua,
caminho de pó e vento,
formigas, cão sonolento...
Porém já nada é tristonho,
- infenso a tempo e distância -
a nos sonhar essa infância.
SONETO DO ANJO DE MAIO
Então, em maio, um Anjo incendiou-me.
Em seu olhar azul havia um dia
claro como os da infância. E a alegria
entrou em mim e em sua luz tomou-me
o coração. Depois, suave, guiou-me
para mim mesmo, para o que morria,
em meu peito, de olvido. E a noite, fria,
fez-se cálida - e mágoa desertou-me.
Já não eram as cinzas sobre o Nada,
mas rios, e ventos, e árvores, e flamas,
e montes, e horizontes sem ter fim!
Era a vida de volta, resgatada,
e nova, e para sempre, pelas chamas
desse Anjo de maio que arde em mim!
Extraídos do livro A Cidade e os Sonhos / Livro de Sonetos.Salvador, Bahia: Edições Cidade da Bahia, 2003. 115 p. ilus.
Ruy Espinheira Filho celebra 39 anos de poesia e 70 de idade do baiano
O escritor e jornalista tem toda sua obra poética reunida no livro Estação Infinita e Outras Estações
Ana Cristina Pereira - 15/12/2012
(ana.pereira@redebahia.com.br)
O leitor pode abrir em qualquer uma das 13 partes de Estação Infinita e Outras Estações (Betrand Brasil/R$ 59/588 págs.), do escritor Ruy Espinheira Filho. Terá uma boa ideia da poética do baiano, um dos nomes mais celebrados de sua geração, com mais de 20 livros e vários prêmios no currículo.
Mas, se quiser ao mesmo tempo conferir um belo exemplar de sua poesia e entender o seu estado de ânimo aos 70 anos - completados quarta-feira - pode pular para a última página, onde está o poema 70 Anos, do livro que nomeia a publicação. Nele, o escritor brinca com a chegada  à idade e pede a Cronos que deixe tudo como está. E ainda diz que chegou aqui repleto e suave.
Ainda incompleto, o último livro da obra reunida tem apenas dois poemas: o já citado e Visita em Abril, ambos escritos este ano. "Espero que seja o ponto de partida para um futuro livro", afirma Ruy. Quando começou a pensar no aniversário, surgiu a expressão ’estação infinita’, para falar de tempo e memória, temas recorrentes no conjunto de sua obra. Este é o quinto livro de Ruy Espinheira pela Bertrand Brasil.

O escritor e jornalista Ruy Espinheira Filho tem toda sua obra poética, iniciada nos anos 60, reunida no livro Estação Infinita e Outras Estações
E a intenção, diz, foi realmente fazer algo comemorativo. "Depois de algum tempo, os livros se esgotam e fica difícil encontrá-los. Uma obra reunida traz toda a história da pessoa".
Além do lançamento, a data, brinca o escritor, teve uma grande comemoração na internet. "Foi tudo espontâneo, porque uma coisa é Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque. Eu sou apenas um poeta nordestino", contemporiza.  
Tradição Lírica
Com apresentação do escritor e crítico literário Miguel Sanches Neto, o livro reúne poemas escritos por Ruy a partir de 1966. Seu primeiro livro publicado foi Heléboro, em 1973. Bueno destaca que Estação Infinita apresenta  "a trajetória de um dos mais importantes poetas líricos brasileiros da modernidade". E traduz uma poesia "com dimensão biográfica e histórica, contrária à ideia de que o universo poético deve ser uma realidade paralela, onde flutuam linguagens marcadas pelo vácuo semântico", anota.
Nesses 39 anos de poesia - e também de muita prosa - vieram trabalhos como Julgado do Vento (1976), As Sombras Luminosas (1980) e Memória da Chuva (1996). E prêmios como o Cruz e Souza, o Jabuti e o da Academia Brasileira de Letras. O último livro foi a antologia Melhores Poemas, lançada em maio pela Global.  
Refletindo sobre sua trajetória, o poeta filia-se à linhagem de nomes como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meirelles (1901-1964) e Manuel Bandeira (1886-1968). "É a continuidades da poesia lírica ocidental. O meu caminho é este", afirma.
O conjunto traz trabalhos bissextos na escrita de Ruy, como o infantil A Guerra do Gato (1987) e o  Romance do Sapo Seco: Uma História de Assombros (2005), inspirado na literatura de cordel e num fato real. Ambos são estruturados como longos poemas narrativos.
No caso do infantil, recorda Ruy, o poema nasceu depois que ele encontrou um gatinho na porta de casa e festejou a aparição com os filhos. Já o segundo é uma dessas histórias de realismo fantástico interiorana, do assassino Generino, um homem assombrado pelo demônio. No júri, estava o pai de Ruy, que era advogado. "É um cordel a meu modo. Acho os poemas narrativos muito importantes. Tenho vários em minha obra", contextualiza.
Por enquanto, Estação Infinita e Outras Estações ainda não tem um lançamento programado para Salvador. Espinheira diz que o Verão por aqui é bem confuso, com muita bagunça e pouco propício à literatura. Por isso, brinca, vai esperar uma estação  melhor  para autografar o trabalho para amigos e fãs.

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