quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O TESOURO DA FISCAL




Pousada Villa dos Corais, na Bahia, de propriedade de fiscal do governo de SP investigada por propina

Encravada numa reserva de mata atlântica a poucos metros do mar, uma das pousadas mais luxuosas de Morro de São Paulo, badalada praia da Bahia, divide espaço com andorinhas e sabiás.
Com 40 apartamentos espalhados numa área equivalente a dois campos oficiais de futebol, a Villa dos Corais é um dos bens de Vera Regina Lellis Ribeiro, fiscal do Estado de São Paulo que já negociou ao menos 18 imóveis –e acumula em seu patrimônio, por exemplo, casa de alto padrão no Morumbi e flats ao lado do aeroporto de Congonhas.
Com outros 11 fiscais da Secretaria da Fazenda do governo paulista, Vera Regina foi denunciada pela Promotoria sob a acusação de cobrar propina de empresários para reduzir a cobrança de ICMS (Impostos cobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e barrar multas por sonegação.
Conforme a Folha revelou nesta terça (20), 11 desses fiscais compraram ou venderam em seus nomes pelo menos 143 imóveis que, juntos, valem cerca de R$ 62 milhões.
Como fiscal do Estado de São Paulo, onde atua há quase três décadas, Vera Regina recebeu neste mês um salário de R$ 24 mil. A soma de propriedades negociadas por ela chega a R$ 17,1 milhões –sendo que 13 dos 18 imóveis, apenas nos últimos 15 anos.
O empreendimento no litoral baiano, cujo capital social é de R$ 1,2 milhão, é uma sociedade entre a fiscal e um empresário italiano dono de terrenos e pousadas.
As diárias variam de R$ 670 a R$ 730 na alta temporada. Lotada, a pousada tem faturamento de R$ 28 mil em um dia só com a hospedagem.
Um restaurante que serve comida mediterrânea e regional, cujo prato de lagostas chega a R$ 180, é a outra fonte de rendimentos do local, que ainda tem uma loja de roupas e acessórios de praia.
A Villa dos Corais costuma atrair turistas estrangeiros e de fora da Bahia. O mar é rodeado de corais e forma poças de água cristalina.
Dentro da pousada, uma estrutura com piscina de borda infinita com vista para o mar, banheira de hidromassagem, quadras de tênis e de vôlei. Um carro Land Rover leva e traz os hóspedes para passeios no centro da vila, onde fica a maioria dos bares, restaurantes e lojas.
Nesta semana, em plena segunda-feira (19), era grande o entra e sai de hóspedes que aproveitavam a brisa do mar numa das 42 espreguiçadeiras ou tomavam coquetéis de frutas dentro da piscina ouvindo música sertaneja.

TRÊS POUSADAS
Mesmo em nome de Vera Regina, a pousada é tocada por seu marido Rogério Sasso, auditor fiscal da Receita Federal que responde a processo sob a acusação de cobrança de propina e lavagem de dinheiro. Ele foi flagrado em uma operação da Polícia Federal batizada de Paraíso Fiscal, em 2011.
À época, a investigação apontou que Sasso e Vera Regina "ocultaram a origem criminosa de valores produtos de corrupção e advocacia administrativa por meio de investimento nos empreendimentos imobiliários e hoteleiros". Ambos negam.
Moradores de Morro de São Paulo e funcionários da pousada se referem a Sasso como dono do empreendimento.
Um funcionário que trabalha na pousada há quatro anos afirma que viu só três vezes "o chefe", classificado como homem rigoroso e atento ao funcionamento do negócio. Já Vera Regina não costuma aparecer na região.
Além da Villa dos Corais, a família paulista é sócia de outras duas pousadas em Morro de São Paulo: a Villa das Pedras e a Villa dos Grafittis.
A primeira está em nome de Rogério Sasso e cobra diárias entre R$ 590 e R$ 825 no verão. A segunda é do filho de Rogério, Leandro Sasso, com diárias a R$ 410.

FLATS
A fiscal mora em um condomínio de luxo no Morumbi (zona oeste). Em uma rua sossegada, carros importados entram e saem sob o olhar de seguranças engravatados. Os muros altos e vidros escuros impedem a visão das mansões –algumas avaliadas em mais de R$ 30 milhões.
Folha mapeou 18 imóveis e empresas no ramo hoteleiro negociados por Vera Regina. Além de casas e terrenos no Morumbi, há cinco flats no hotel Ibis, ao lado do aeroporto de Congonhas (zona sul), comprados em período de quatro meses, entre julho e outubro de 2005.

OUTRO LADO
A defesa da fiscal Vera Regina Lellis Vieira Ribeiro disse à reportagem que todos os bens dela têm origem lícita.
Em nota, os advogados da fiscal sustentam que "os fatos tratados na denúncia [da Promotoria] em questão não têm qualquer relação com o seu patrimônio [de Vera]".
A argumentação é que o patrimônio foi "constituído em data muito anterior a qualquer conduta indicada pelo Ministério Público".
Segundo a defesa da fiscal, a denúncia é "desarrazoada" e que isso será mostrado "no momento oportuno".
A reportagem telefonou para a casa de Vera, mas ninguém atendeu. O advogado de Rogério Sasso também não foi localizado nesta terça (20).

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