Engraxate consegue OAB
e vai aposentar
a caixa de engraxar
Ele pagou faculdade limpando e lustrando sapatos de juízes em Goiânia.
O engraxate Joaquim Pereira, de 26 anos, disse que vai continuar limpando e lustrando sapatos até dezembro deste ano, mesmo tendo passado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A partir do próximo ano, o jovem disse que vai aposentar a caixa de engraxar e vai se dedicar exclusivamente a advocacia.
Nascido em Monte Alegre de Goiás, Joaquim se mudou para Goiânia em 2006 em busca de uma vida melhor. Na capital, se matriculou em uma faculdade particular e pagou as mensalidades trabalhando como engraxate. Entre os principais clientes estavam advogados, juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).
Depois de tentar seis vezes, passou na prova da OAB e já traça planos para o futuro. “Daqui uns dias, eu irei dizer com muita honra que fui engraxate e que através da caixa de engraxar eu consegui me tornar um advogado. Isso é motivo de orgulho. Em janeiro já quero ingressar na nova carreira. Daqui até lá, acredito que vão surgir várias oportunidades”, conta.
Na última sexta-feira (9), Joaquim foi homenageado por um escritório de advocacia em que ele tinha vários clientes. Agora, todos são colegas de profissão. Na ocasião, ele recebeu uma placa elogiando sua determinação. “Mais que uma bela historia de vida, de lutas e de vitórias, é através do seu exemplo de amor ao trabalho e imensa capacidade de superação que o qualifica não só como advogado, mas a um guerreiro que nos orgulha e nos enche de esperança”, diz o presente.
História
Joaquim sempre teve o sonho de fazer faculdade. “Meu pai e minha mãe, embora não tenham curso superior, sempre me incentivaram a estudar, ter sonho. Se você tiver sonho, um ideal, um objetivo, você pode conseguir qualquer coisa”, disse o engraxate.
Os clientes que ele teve durante todos esses anos também o parabenizam pela conquista. Mais do que um engraxate, Joaquim é um exemplo a ser seguido por muitos. “Muitas vezes eu tenho aqueles desânimos eventuais que a gente tem e me vem na cabeça o Joaquim, a felicidade e a vida que ele tem”, relatou o advogado Ricardo Naves.
O engraxate aprendeu o ofício ainda criança. Ao deixar sua cidade ele não se imaginava formado. Joaquim lembra que, ao chegar à capital, tinha a esperança de logo ser contratado em uma empresa e se tornar um profissional de destaque. Mas viu que não era bem assim. Ele demorou três meses para conseguir emprego em uma fábrica de enxovais. Quando recebeu o primeiro salário mínimo, concluiu que não era o suficiente para se manter em Goiânia. Na época, ele morava com o irmão. “Vim para trabalhar. Depois, vi que precisava estudar para crescer, para ter um emprego melhor”, conta.
Devido à insatisfação com o trabalho, ele decidiu, em um sábado, ir para as ruas de Goiânia e ver como se sairia de engraxate. “Ganhei R$ 20 e atendi umas dez pessoas. Mesmo não sendo muito, fiz as contas e vi que podia render”, afirma. Segundo ele, em uma segunda-feira, três meses após ser admitido na fábrica, pediu demissão. “Indagaram porque eu retrairia tanto. Pensaram que eu estava revoltado”, lembra. O jovem comenta ainda que não foi uma decisão fácil, pois teve medo de ser rejeitado. “Tive medo da reação dos meus amigos e dos colegas”, diz.
As pessoas para quem engraxou sem cobrar nada nas primeiras vezes se tornaram seus clientes. A simpatia e a abordagem especial atraíram muitos outros e fez com que ele ficasse conhecido nos locais onde trabalha, como na Praça Cívica, onde está o Centro Administrativo do Governo de Goiás. Joaquim conquistou uma clientela fixa. De R$ 20 por dia, ele passou a faturar até R$ 100.
Depois de um ano limpando sapatos, Joaquim decidiu que entraria para uma faculdade de direito. “Vendo o dia a dia dos advogados e conversando com eles, concluí que queria ser um deles”, afirma. A decisão de ingressar em uma universidade foi criticada por muitos conhecidos.
”Falavam que eu não daria conta de terminar, que era muito difícil e caro”, conta. No entanto, ele persistiu com o sonho de se formar, passou no vestibular e começou, em 2008, o curso de direito em uma instituição de ensino particular. “Se a gente quiser ter sucesso na vida, tem que se submeter ao risco”, ressalta.
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