segunda-feira, 27 de maio de 2013

MAIS PROJETOS PARA SANTA ENGRÁCIA!


Um título no jornal deste domingo de chuva vem despertar antigos sentimentos. Que, por enquanto, prefiro não enunciar. “Projeto prevê a recuperação de 150 ruas do centro histórico”.  
                                                                                                                  
 Será que não ouvi esta música antes? É como estes “jingles” que acompanham na TV a propaganda de um sabão em pó ou um novo modelo de carro. Num primeiro tempo seduz, mas quanto mais se ouve, mais irrita.                                                                   
 Se a música é sempre a mesma, as letras podem variar. Só um pouco.
Hoje, por exemplo, ninguém menos que o secretário da Casa Civil, Rui Costa, declara “O Centro precisa ser revitalizado para ser incorporado ao uso diário da população.”  Eis uma opinião revolucionária!                                                                                            
Eu nunca tinha pensado nisso. E acrescenta que isso já começa a acontecer, uma vez que instituições de ensino e grandes redes de hotéis passaram a se instalar no local. Plural onírico para uma realidade singular. “Agora, se trata de intensificar, diversificar essa ocupação, deixando de lado o conceito pura e simplesmente de visitação.”                                                                         
Palavras de ouro. Um visionário!
Só que... Quais redes? O Pestana a esta altura está mais que arrependido por ter entrado neste convento do Carmo. Um purgatório. Só mantém a casa aberta por razões contratuais. Porque, na verdade, mais parece anexo das catacumbas vizinhas. E as outras redes? O Fasano promete há anos a recuperação do antigo edifício do jornal A Tarde, mas dá sinais de ter abandonado o projeto.

O luxuoso hotel Fasano deveria ter sido inaugurado em 2011...          



O Palace Hotel, na rua Chile fora vendido a uns portugueses que, depois de décadas, o venderam a outros portugueses. Segue fechado, menos quando o vigia entreabre a porta para respirar. Na Praça Cairu, o belo imóvel coberto de azulejos ingleses ameaça ruir. Já perdeu duas sacadas de ferro fundido. Nas traseiras, três ou quatro edifícios com características neo-góticas foram impiedosamente destruídas para implantação de um Hilton que nunca existiu nem existirá. 

 Era para ter sido o Hilton Bahia !


Mais uma vez os governantes se mostraram omissos e coniventes com tão absurdo vandalismo.
Então Seu Rui, pare de falar abobrinhas, por favor. Em quase sete anos vocês não foram capazes de repensar e mudar o acelerado processo de decadência do Centro Histórico de Salvador. Só discursos, pesquisas e projetos. Um monte de projetos, quase sempre saído do misterioso “Escritório de Referências” com a assessoria da não menos misteriosa Fundação Mário Leal Ferreira. Fundação essa que, suponho, tenha assinado a horrenda escadaria que agride o Largo do Pelourinho defronte à casa de Jorge Amado e o Museu da Cidade. Quanto ao passeio ampliado, já vi cadeirante obrigado a descer do tal, haja visto ele ser permanentemente ocupado por banquinhos, trançadeiras, vendedores de bugigangas, artesanato hippy, instrumentos musicais, quadros,  cangas de Bali e outras lembranças da Bahia tão típicas quanto.
Projetos não faltam para alimentar o noticiário tupiniquim. Grandes concursos nacionais, viagens a Sevilha, Roma ou Dubai, propostas arrojadas de palco móvel, república de estudantes espanhóis na sinistra rua do Tesouro. 

Estado atual do palco movel de Pasqualino Magnavita no largo do Pelourinho.
Mas para o desfilé de 2 de Julho, terá melhoramento no tapume



Isto é, sem falar de uma ridícula fantasia de arena na Praça Castro Alves ao custo de R$25 milhões, isto numa terra que não tem nem escolas nem hospitais decentes e onde milhares de famílias morrem de sede. Mas os compadres, apesar da insatisfação geral, nada falavam porque o cara é, por enquanto, de partido aliado ao PT. E em véspera de eleições, sabe como é, né?   

                                                                                                                            
Pior: fecham escolas no centro histórico! É sempre bom manter uma porcentagem de analfabetos. Pode ser útil amanhã.
Hoje, finalmente descobriram o ovo de Colombo: “A função habitacional foi perdida”. Agora o Plano prevê estruturar um fundo imobiliário para que imóveis vazios sejam reinseridos no mercado imobiliário para moradia. Ótimo!Pago para ver.
Com tão bela iniciativa, posso sugerir algo que muito mudaria a cabecinha desta classe média que muito fala, muito planeja, mas tem medo de implicar-se no processo? Venham vocês também morar no Centro Histórico! Afinal, se vocês estivessem num daqueles regimes que tanto prezam – China, Venezuela, Cuba, ou melhor, Coréia do Norte, há muito tempo que já teriam sido mandados morar no centro da cidade. Não fiquem preocupados. Não é tão ruim. Por exemplo, no bairro – tão desprezado pelo Iphan – do Santo Antônio, moram, felizes,  arquitetos, jornalistas, fotógrafos, cineastas, advogados, artistas, e mais gente do mundo da cultura. E acreditem: nenhum trocaria seu casarão secular por um destes apartamentos mesquinhos, de espaço milimetrado, do Itaigara ou do Horto ex-Florestal.
Mas, como não podia deixar de haver ressalvas, veja o que a Dra. Beatriz Lima declara: “Nossa expectativa é começar a execução dessas obras ainda esse ano. A previsão de conclusão é de 18 meses após o inicio, que vai depender deste trâmite burocrático.”
Trocando em miúdos: Fora algumas obras de fachadas, com muito guindaste, simples pinturas executadas nas coxas, é mais um projeto a engavetar, como tantos outros.
Mas nóis paga!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails