Acabo de receber um livro, presente do cineasta Bernard Attal. Trata-se quase de um fascículo escrito por um jovem nascido em 1917. Jovem, sim, porque Stéphane Hessel, 93, mantém o mesmo entusiasmo de adolescente ao rebelar-se contra o statu quo e a hipocrisia deste terceiro milênio. Judeu, evadido dos terríveis campos nazistas de concentração de Bunchenwald e de Dora, herói da Resistência francesa, redator da Declaração dos Direitos Humanos e ex-embaixador, é hoje o responsável por um sucesso editorial de densidade conceitual de dar inveja a qualquer Paulo Coelho. Durante 20 páginas “Indignez-vous”, encontra em vários aspetos da atualidade motivos de sobra para ficar indignado e transmitir esta indignação a simultâneas três gerações de francófonos.
Posiciona-se, sem ambigüidade, após visitar Gaza, ao lado dos palestinos cuja maior aspiração é o simples direito de viver. Denuncia o recente ataque ao hospital do Crescente Vermelho, quando 1400 mortos, incluindo mulheres, crianças e velhos, foram um lamentável contraponto aos 50 feridos israelenses.
Monsieur Hessel também reitera uma verdade que, por mais evidente que seja, é hoje vista como um desafio: “A liberdade da imprensa, sua honra e sua independência em relação ao Estado, às potências financeiras e influências estrangeiras (...). A verdadeira democracia precisa de uma imprensa independente (...)”. Era o que a Resistência Francesa já apregoava em 1944 em plena ocupação nazista.
Impossível não estabelecer um paralelo com a crise que aflige hoje, em 2011, toda a imprensa brasileira. Quando a gente se lembra, por exemplo, da censura imposta ao Estado de São Paulo relacionada com um elemento de comportamento duvidoso, somente por ele ser filho de José Ribamar, vulgo Sarney, grudado ao poder há mais de meio século, temos que admitir que nossa democracia ainda está engatinhando. O poder econômico, mais até que o poder político, é sem a mínima dúvida o maior empecilho a qualquer veleidade de democracia. É essencial o leitor ficar muito atento. O inimigo mora ao lado.
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