Servi o
exército francês durante a guerra da Argélia, mas nunca peguei arma, nunca
matei ninguém. Durante a maior parte de meus 26 meses de farda, minhas únicas armas
foram caneta e Rolleiflex como jornalista- fotógrafo a serviço de uma revista
militar que não merece a mínima lembrança, mas teve a imensa vantagem de possibilitar
o conhecimento de um país fascinante.
Certa vez, em
Tamanrasset, no meio do deserto, fui, com outro militar, convidado a beber o
tradicional chá de hortelã na tenda de um chefe tuaregue cuja caravana acampava
perto da cidade.
Durante a conversa, o imponente homem azul, ao ver entrar uma
criança de uns dois anos, pegou um chicote e deu uma sonora pancada no tapete
bem perto do menino que, assustado, correu para fora. “Filho de escrava”
declarou com calma. Mais tarde nos invitaria gentilmente a acompanhar-lo até o
Niger. Partiríamos na semana seguinte. Com a maior tranqüilidade completou “Vamos
comprar escravos”.
Comovidos por tamanho convite, lembramos que estávamos a
serviço do governo francês e tínhamos outra missão. Saímos da imensa tenda
aturdidos, desorientados pela constrangedora proposta.
Mais tarde eu mesmo iria
fotografar escravos no Saara.
A escravidão existiu e ainda existe em muitas
sociedades arcaicas. Calcula-se que em quatro séculos, um milhão de europeus
foi escravizado pelos mouros. O próprio Miguel de Cervantes, antes de escrever
“Dom Quixote” fora capturado em 1575 por piratas e passaria cinco anos em Argel,
só sendo libertado após pagamento de resgate pelo rei da Espanha.
Em viagem
oficial do presidente do Benin a Bahia (2012), fazia parte da comitiva o atual Chachá,
título nobiliário oficioso do oitavo descendente de um dos maiores traficantes
de escravos do século XIX, o brasileiro Francisco de Souza que enriqueceu com o
parceiro, rei de Abomei.
Alguém aqui
reclamou de sua presença?
O CHACHÁ ATUAL COM O IRMÃO MAIS VELHO, AQUELE QUE DEVERIA TER SIDO O CHACHA 8 MAS TERIA QUE PAGAR UMA DÍVIDA AO REI DE ABOMEI: DEIXOU O TÍTULO AO IRMÃO MAIS NOVO, MUITO MAIS RICO, CUJO APELIDO "MONSIEUR ALUMINIUM" POR TER ENRIQUECIDO COM PORTAS E JANELAS DE ALUMÍNIO.
NOTEM QUE A PRAÇA CHACHÁ NÃO É OUTRA SENÃO AQUELA DE ONDE PARTIAM OS ESCRAVOS PARA O NOVO MUNDO.
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