O doutor Carlos Amorim “está” – como disse certa vez um
então ministro – superintendente do IPHAN na Bahia. Desde... desde... Muito
tempo. Impossível encontrar no Wikipedia um perfil do ilustre defensor de nosso
patrimônio. Em contrapartida outras
informações revelam um homem inteligente, informado e culto, porem bastante questionável,
como denunciam artigos reproduzidos nestas páginas.
No princípio do mês de outubro, o Dr. Amorim brindou os
leitores do jornal A Tarde com um longo artigo intitulado “Cabeça do Brasil”.
Denominação ambígua, já que não se tem a certeza se a referência é meramente
geográfica - e totalmente errada - ou intelectual, o que, confessemos, seria muita ingenuidade.
Cabeça?
Segue uma longa lista de conhecidos dados históricos que, por
caminhos gongorianos, nos levam não se sabe aonde. Acabaremos entendo que se trata
de uma discreta apologia a sua obra no Solar Berquô. Nada contra. Quem não tem
sua necessidade de afirmação?
Mas o que também sobressai no texto é que as
intervenções do Iphan nestes últimos anos têm se limitado a tombamentos de bens
imateriais. O acarajé, o samba de roda e a capoeira fazem hoje parte oficial de
nosso patrimônio, sem maior comprometimento. Que bom!
Resta saber como preservar,
na sua integralidade, tão significativas expressões de baianidade. Na hora do
acarajé de Jesus, da FIFA e do Mc Donald, do pagode rasteiro, da ditadura
musical dos evangélicos e do MMA, quais são as armas que nos defenderão do
rolo-compressor selvagem?
Teria ficado mais convencido se o Carlos Amorim tivesse
listado o trabalho realizado na preservação da memória material.
Só em Salvador, as omissões são gritantes.
Como não sei endireitar, vai assim mesmo.
Dá para constatar a situação lamentável do Jandaia.
Escombros floridos...
O
cinema-teatro Jandaia – excepcional exemplar de Art Deco na Bahia - está a dois
dedos de ruir. É até um perigo mortal para quem freqüenta a Baixa dos
Sapateiros.
Na rampa do Mercado, os “saveiros centenários” são proibidos de
atracar.
Entre a antiga alfândega e a fonte de Mário Cravo, os pescadores foram
proibidos de vender seu peixe, mas uma empresa ocupa um prédio onde se vende...
carne! E, bem ao lado – acredite se quiser - um posto de gasolina contribui para
descaracterizar o espaço.
Belo cartão postal para quem deseja fotografar o
elevador “extraordinário monumento” Lacerda!
A lista, em se tratando do abandono dos bens tombados desta cidade, não
caberia no espaço de meu blog.
Quanto ao total desprezo pelo bairro de Santo Antônio,
também tombado como patrimônio mundial pela UNESCO, já denunciei em vão neste
mesmo espaço e na imprensa local, com apoio de muitas fotografias, as constantes
e lamentáveis agressões, agressões estas que se acentuam a cada semana, sem que
o Iphan desça de seu pedestal imperial e venha fiscalizar.
O superintendente termina o texto batendo palmas à
generosidade de Brasília que concedeu R$202 mi para a Bahia e mais R$300 mi
para o Brasil inteiro. Deve estar brincando! R$1.991.808,70 custou só o
escoramento de 11 fachadas no centro histórico (R$181.073,51 por casa, grana,
aliás,suficiente para reconstruir cada imóvel).
FALTA DE ANUNCIAR OBRAS DO CENTRO HISTÓRICO NÃO SERÁ.
E HAJA DINHEIRO INDO PRO RALO!
AQUI, NO CASO DOS 53 IMÓVEIS - QUE NÃO SÃO LISTADOS -
NEM SE FALA EM PRAZOS.
É MAIS PRUDENTE!
Desta dinheirama, após a cascata
de trâmites burocráticos, pesquisas, concursos e outras costumeiras gincanas –
e sem contar as famigeradas gordurinhas – quanto sobrará para iniciar as obras?
Pago para ver.
Que ninguém veja qualquer ataque pessoal à figura do superintendente.
Mas quando alguém aceita um cargo público, ainda mais sendo cargo dito de
confiança, deve saber enfrentar críticas fundamentadas da sociedade. Assim que
ameaças de processo, mesmo intermediadas pelo Ministério Público – como
aconteceu comigo no princípio deste ano - não me parecem a forma mais adequada
de comprovar a confiança depositada pelos governantes.
Só faz cristalizar o
antagonismo.
Não sendo politólogo, não posso adivinhar o que o fim de
2014 nos reserva. Mas está na hora – não: já passou da hora – de se reestruturar
essa obsoleta instituição.
E, finalmente, assumir um comportamento republicano,
no mais alto significado dessa expressão.
Precisamos de um órgão ágil, cujos
funcionários sejam motivados, apaixonados até, por suas responsabilidades, que
não hesitem, se necessário for, em andar (a pé!) pelas ruas, faça sol ou chuva,
que conversem com os moradores, os proprietários dos imóveis tombados, que se
envolvam em campanhas de esclarecimento.
E que haja reais compensações para os
que se adequam às contingências de morar num prédio considerado patrimônio
mundial.
E que outros funcionários não levem seis meses para assinar um alvará,
como no caso de uma simples laje de concreto que ameaçava cair no Trapiche
Barnabé, enquanto a balaustrada enfeitando as traseiras da secretaria da
Fazenda é massacrada sem que haja o mínimo constate de contravenção.
E que as licitações sejam democratizadas, como quer a Lei
8666, dando abertura, sem exigir o CREA (!) das empresas de bens móveis e
integrados (vide recentíssimo edital para a restauração artística da Igreja de São
Pedro dos Clérigos), estas sim com conhecimentos específicos na área artística. (Muitos acham esta nova exigência bastante suspeita).
Lucrarão a sociedade, o erário público e o patrimônio
baiano.
Do jeito que as coisas estão na Bahia – porque os problemas
não são unicamente soteropolitanos – é provável que a
próxima geração não terá mais passado.
E, para terminar, admirem o telhado de zinco e parafernãlia variada que enfeita a parte de baixo do Pelourinho.
Trata-se de um centro comercial, recem "reformado", bem modernoso. É uma agressão escanladosa a estética, a memória, a cultura e ao bom senso. Tudo com as benções do IPHAN, do IPAC e da prefeitura.
Sorria, você está na Bahia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário