terça-feira, 29 de outubro de 2013

A PERNA DE ROBERTO CARLOS E A DESTRUIDORA DE LARES

Malu Fontes


O tempo passa e as feras existentes em cada um de nós não dão nenhum sinal de recuo. Ao contrário. Esse tempo parece estar ressuscitando em nós tudo o que condenamos no outro. A intolerância, a raiva cega e estúpida, a adjetivação condenatória expressa em termos que fariam o diabo corar e parecer um serafim ingênuo. 

A bola da crueldade verbal da vez é a atriz Isis Valverde, apontada como tendo despertado uma paixão no ator Cauã Raymond intensa ao ponto deste desmontar um casamento de propaganda de margarina com a ex-miss, ex-BBB, atual atriz e sempre linda e magra Grazi Massafera. Casamento, aliás, tão mítico, como sempre fazem crer as revistas de celebridade, que literalmente invadia os intervalos comerciais da TV ao ritmo do embolso, por ambos, de milhões de dólares em contratos, seja lambendo os beiços com insossas barras de cereais ou seja correndo atrás de labradores dourados viciados em tirinhas de sandálias de dedo.
 
Uma das novas gostosas míticas da vez da fábrica que não respira para lançar outra e outra antes que a última caia de moda, Isis Valverde tem visto o que é sair do olimpo de musa diretamente para o posto de vagaba na rua e nas redes. Não é incrível que um homem casado se apaixone por outra – se é que este foi o caso, já que os envolvidos se limitam a lançar na imprensa notas explicativas mais obscuras que as frases de Rolando Lero, da extinta escolinha do professor Raimundo – e caiba a essa outra a adjetivação de vaca (ah, perdão, isso hoje é uma ofensa não à mulher, mas à fêmea do boi) e de destruidora de lares? Ora, mas o dono do lar destruído foi acorrentado em algum momento para fazer algo que não quisesse? E quem era casado com a doce Grazi: Ísis ou Raymond? Portanto, quem traiu quem? Entre quem e quem era firmado um pacto de confiança e fidelidade? Ahã, tá certo. Então muita coisa mudou no século XXI sobre as mulheres...
 
E como a fase de desmoronamento de casamentos míticos de TV está com tudo e não tá prosa, sobrou até para a fiel escudeira do Louro José. Parabenizada pelas senhorinhas que lhe atiram pétalas todas as manhãs, entre outras coisas por considerarem um feito e tanto que ela sempre mantenha casamentos com guapos com duas ou três décadas a menos que sua idade, Ana Maria Braga teve que ler na imprensa cor de rosa e purpurina certamente o que não queria do último tipo que frequentou sua alcova. Com a classe que nunca deve ter tido, o tal ex não poupou frases de efeito de décima categoria para chamá-la de velha. Agora? 
 
Quanto aos impropérios dirigidos a Isis, não é que a sexy symbol foi, por isso, cair de paraquedas até mesmo no imbróglio envolvendo os mais laureados ídolos da música popular brasileira: as biografias. Em sua última coluna, Caetano Veloso citou de modo cifrado o trio hoje mais citado do Projac, a quem se referiu como jovens atores, para justificar por que uma biografia não pode ser escrita sem autorização prévia dos biografados.
Em uma associação livre, se Roberto Carlos não quer que ninguém fale de sua perna extirpada aos 6 anos por um trem, por que, então, sob a lógica de Caetano, alguém poderia contar a história de Cauã, Grazi e Isis com a última descrita como destruidora de um dos casais mais docinhos da TV? Perto dos xingamentos dirigidos à atriz que estrelará com o pegador (não é este o adjetivo que cabe aos homens que pulam a cerca de seus lares felizes?) a minissérie global Amores Roubados – e por falar nisso, o nome da série é tão oportuno para a ocasião que os mais cínicos dirão que é oportunista – Paula Lavigne entrou outubro como a vilã da imprensa e saiu aliviada vendo seu posto de má ser transferido para outras questões e outros assuntos, esses sim, tão de alcova que nenhuma biografia mais séria ousaria bisbilhotar.

2 comentários:

  1. Como sempre , Dimitri , você tem uns lances gemiais . Ótimo o que acabo de ler de sua pena afiada e muito inteligente. Adorei esse comentário, nota 1000.
    Consuelo.

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  2. Consuelo, esse bom texto (embora prolixo) é da Malu Fontes.
    E quanto às fofocas de comadre que rodam atores e músicos, só acredito em uma versão: business, marketing.

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