FLORISVALDO MATTOS
Impressionaram-me dois textos publicados hoje no caderno "The New York Times, intitulado "International Weekly". No primeiro, manchete ("Caminho sem volta"), cientistas disparam um alarme na área de glaciações, que se resume no comportamento de geleiras situadas na Groenlândia e na Antártica, que estão derretendo, prevendo-se que, num processo embora lento, possa dentro de anos aumentar o nível dos oceanos em metros, com o progredir do fenômeno, e não é só decorrente do efeito estufa, que, se controlado, poderá só amenizar. Isso está deixando os cientistas nos EUA e Europa de cabelo em pé, pois um derretimento total faria os oceanos subirem um nível de 65 metros. O Elevador Lacerda tem 75 metros de altura, ocorrendo tal coisa em séculos vindouros, as águas do Atlântico bateriam acima da metade dele... Já imaginou?
O outro texto, de atualidade para mim de interesse mais próximo de nós. Espraia-se por universidades dos EUA (Califórnia, Ohio, Nova Gersey) uma onda preventiva, identificada pelo termo "advertência de conteúdo", que consiste na atitude de estudantes de exigir dos professores que, antes de constar dos programas e exposição em aulas, sejam informados os respectivos conteúdos a ser tratados, para evitar (!!!) constrangimentos e tramas, de forma que resultem em desconforto. Temas como estupro, racismo, homossexualidade, suicídio, drogas, torturas, guerras. Um exemplo dado foram advertências em relação à peça "O Mercador de Veneza", de Shakespeare, por conter, segundo alegações, antissemitismo, e o romance de Virgínia Woolf, "Mrs. Dolloway", por abordar o suicídio. Em polvorosa, os professores reagem, em parte considerando um absurdo os estudantes não investirem na universidade para o seu crescimento espiritual e cultural, buscando apenas conforto físico e intelectual para suas vidas, num recorte imediatista. Mas o caso está por lá fervendo, pondo a questão na área dos direitos humanos. Olhando esse espetáculo, que é disso que se trata, a mim me veio a ideia de nítido parentesco entre esta atitude que corre nas universidades ianques e a iniciativa escabrosa em curso no Brasil, de grupos resolverem modificar os textos de romances e contos de Machado de Assis, no intuito de popularizar a sua leitura, desde que o que está lá mais se parece com intrincado enigma linguístico que outra coisa. Se não me engano, o movimento nos EUA não demora muito a chegar a este fosso, de se tentar reescrever os grandes escritores de língua inglesa para tornar sua linguagem acessível e popular.
POR JÚPITER!
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